BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) insinuou, nesta quinta-feira (25), que o presidente Lula (PT) e o STF (Supremo Tribunal Federal) querem facilitar seu assassinato. A declaração ocorreu durante um comício em Caxias do Sul (RS), ao mencionar o atentado contra Donald Trump.
Bolsonaro alegou que Lula teria tirado dele dois carros blindados - a lei, no entanto, não prevê a disponibilização, por parte da presidência da República, de carros blindados para ex-presidentes, apenas carros.
Além disso, Bolsonaro disse que, por medidas cautelares, tiraram quatro assessores que trabalhavam em sua segurança. Procurada, a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) afirmou, no entanto, que Bolsonaro faz uso das nomeações de servidores a que tem direito e dos dois carros, ainda que não sejam blindados.
A Secom afirmou ainda que medidas cautelares são de responsabilidade do Judiciário e que "Bolsonaro não tem nenhum direito extra àqueles previstos na legislação". A Presidência não comentou a acusação do ex-presidente.
Também procurado, o STF não se manifestou sobre as declarações. Assessores que atuavam para Bolsonaro foram alvo de medidas cautelares do Supremo no âmbito de investigações na corte, impedindo que os investigados, o que inclui Bolsonaro, pudessem se comunicar.
Após questionar o que teria ocorrido nos Estados Unidos e por que o Serviço Secreto teria sido tão negligente, ele fez uma comparação com o que seria sua situação.
"No meu caso, quando voltei para o Brasil, pela presidência [da República], tinha direito a dois carros. Lula pessoalmente me tirou os dois carros blindados. Tenho direito a oito funcionários, os quatro que trabalhavam na minha segurança, por medidas cautelares, me tiraram os quatro que trabalhavam na minha segurança. Até o meu filho, o '02' [Carlos Bolsonaro], ao tentar renovar seu porte de arma, foi negado pela PF", disse Bolsonaro, em cima de um carro de som.
Após fazer as insinuações sobre sua segurança, Bolsonaro disse ainda que a situação política nos Estados Unidos se repete no Brasil e que Trump, seu aliado, será eleito.
Trecho com a fala dele foi publicado no Twitter do ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten.
Em nota, a Secom disse: "As regras para ex-presidentes são as previstas na Legislação (Lei nº. 7.474/1986) e são as mesmas para todos os ex-presidentes: nenhum deles têm veículo blindado à disposição. Sobre as medidas cautelares, cabem resposta do Poder Judiciário. O ex-presidente Jair Bolsonaro tem livre direito para apontar qualquer nome para sua segurança, conforme previsto na lei. O ex-presidente Jair Bolsonaro não tem nenhum direito extra àqueles previstos na legislação".
O discurso de Bolsonaro mistura acusação com campanha eleitoral. Desde o avanço das investigações contra ele, como o mais recente indiciamento no caso das joias, ele já vem acusando a PF de perseguição e rememorou a tentativa de assassinato de Adélio Bispo - investigação já concluída, dando conta de que ele agiu sozinho.
A queixa pelos carros blindados também não é de hoje. Ele, quando voltou ao Brasil, deu entrevistas em que dizia que não foi autorizada a liberação de carro blindado - algo que não está previsto para nenhum ex-presidente. Ele alegou, à época, que já foi alvo de ataque, mas sem sucesso em conseguir mudar a regra.
O trâmite desse tipo de demanda ocorre na Casa Civil, responsável pelas prerrogativas de ex-presidente. Lula (PT), até onde se tem registro, não teve envolvimento direto com a demanda.
Já os seguranças a que ele faz referência são Sérgio Cordeiro, Max Guilherme, Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti, todos alvos do STF, assim como Bolsonaro, nos casos que investigam suposto envolvimento por fraude em cartão de vacinação, tentativa de golpe e joias.
Todos chegaram a ser presos, e apenas os três primeiros foram soltos após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Por determinação do ministro, porém, os investigados não podem ter contato.
A lei prevê que um ex-presidente, ao final de seu mandato, "tem direito a utilizar os serviços de quatro servidores, para segurança e apoio pessoal, bem como a dois veículos oficiais com motoristas, custeadas as despesas com dotações próprias da Presidência da República".
Desde a tentativa de assassinato de Trump nos Estados Unidos, o ex-presidente e seus aliados fazem em discursos e nas redes sociais um paralelo coma facada em Juiz de Fora (RJ), em 2018.
No dia seguinte ao atentado ao candidato americano, o ex-presidente participou de lançamento de candidatura de uma aliada em Santos e chegou a dizer que "somente pessoas conservadoras sofrem atentado".
"Atentados são contra as pessoas de bem e conservadores", afirmou em vídeo em que é indagado por jornalistas e que publicou nas redes sociais.
E prosseguiu: "Ele foi salvo, a meu entender, como eu fui. Os médicos dizem que foi milagre eu ter sobrevivido em 2018 tendo em vista a gravidade dos ferimentos. E ele foi salvo por questão de poucos centímetros. Isso, a meu entender, é algo que vem de cima".
Casos de violência política atingiram políticos de diferentes espectros no Brasil nos últimos anos. Um dos mais conhecidos foi a morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada em 2018. Também naquele ano, ônibus da caravana do então pré-candidato Lula (PT) foi atingido por tiro em estrada no interior do Paraná.
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