> >
Loja do ES é suspeita de dar golpe milionário com vendas pela internet

Loja do ES é suspeita de dar golpe milionário com vendas pela internet

Consumidores denunciaram loja virtual de Vila Velha na polícia após comprarem produtos que nunca foram entregues

Publicado em 29 de março de 2022 às 08:34

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Empresa Uplace
Fachada da empresa Uplace, acusada de dar golpes no seus clientes. (Carlos Alberto Silva)

Uma empresa de e-commerce sediada em Vila Velha foi denunciada por suspeita de aplicar golpes em centenas de consumidores em todo o país. Segundo as vítimas, foram feitas compras de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos no site da empresa, porém, o produto nunca chegou.

O site de vendas online Uplace saiu do ar no início de março deste ano após ficar ativo por cerca de cinco meses. Desde então, grupos em aplicativos de mensagens reúnem consumidores lesados que buscam informações sobre o caso.

Um deles conta atualmente com mais de 230 vítimas do golpe, que perderam, juntas, mais de R$ 1 milhão.

Já há denúncias referentes à empresa no Procon Estadual, na Polícia Civil e no Ministério Público do Espírito Santo.

Loja do ES é suspeita de dar golpe milionário com vendas pela internet

As vítimas têm relatos muito similares: todas afirmam ter comprado produtos eletrônicos, itens de informática ou eletrodomésticos pelo site da empresa e, semanas depois, ao não receber a compra, desconfiaram que poderiam ter caído em um golpe.

O advogado Rhadson Monteiro é capixaba, mas mora na Bahia. Ele precisava de um notebook novo e começou a fazer pesquisas na internet. “Eu fiz a compra por indicação de um site de comparativo de preços. Pesquisei no Reclame Aqui e a empresa tinha nota alta, vi que a maioria das reclamações eram de atraso e o CNJP era relativamente antigo", disse. Segundo ele, tudo levava a crer que era uma empresa idônea.

Segundo os relatos, os produtos oferecidos pela empresa tinham preços similares àqueles de outros sites de e-commerce. Contudo, a Uplace oferecia um desconto generoso para quem fizesse o pagamento à vista por Pix ou por boleto.

Rhadson fez a compra e aguardou os 15 dias para envio que estavam previstos no site. Ele conta que não recebeu código de rastreio dos Correios ou de uma transportadora, mas a loja disponibilizou um link próprio para que ele acompanhasse o pedido.

Após os 15 dias, ele entrou no site novamente, e a página tinha saído do ar. “Notei que era um golpe. Naquele mesmo dia entrei com uma ação e conseguiu uma liminar com bloqueio do valor numa das contas vinculadas à empresa.”

O professor de Colatina Marcos Vinícius Silva foi outra vítima. Ele comprou um celular e pagou via Pix, justamente para aproveitar a suposta “promoção” que a empresa oferecia. Ele também recebeu o link para o suposto site de rastreio, mas desconfiou quando a compra não chegou depois de 25 dias.

“Fui na loja física em Vila Velha e conversei com eles. Reclamei que tinha quase um mês e não chegava. O cara falou que podia ter sido por conta do Carnaval, mas disse que estava pra chegar na loja os produtos. Me pediram pra entrar em contato com uma central on-line”, conta.

Ele entrou em contato com a suposta central e ligou para um telefone fornecido pela loja, onde recebeu a informação de que o problema estava sendo resolvido.

Aspas de citação

Na outra semana entrei no site de novo e estava fora do ar. Tanto o número de telefone quanto a suposta central pararam de responder. Fui entrar de novo no Reclame Aqui e muita gente estava falando que era golpe

Marcos Vinícius Silva
Professor e uma das vítimas
Aspas de citação

Ele diz que procurou o banco, para tentar o estorno do Pix, mas foi informado que não seria possível porque já não havia mais dinheiro na conta da empresa.

“Eles são muito bem treinados para o que eles estão fazendo. O site é muito bem feito, o CNPJ antigo, ativo e sem restrição, tudo muito bem feito”, diz.

Uma mulher, de São Paulo, também foi vítima. Ela diz que queria comprar uma lavadora de alta pressão e, após fazer pesquisas na internet, recebeu um anúncio da Uplace pelo Instagram. Ela também fez todas as conferências de praxe para se certificar de que a loja era confiável.

“Joguei o nome na internet e não vi nada de negativo. Uma ou outra reclamação no Reclame Aqui estava como ‘resolvida’ e com nota 9,2. Era uma nota boa. Aparecia no site como se a empresa tivesse sete anos”, conta.

Semanas depois, ao entrar no site novamente para acompanhar o pedido, viu que a página tinha saído do ar.

Ela entrou em contato com o banco e foi uma das poucas vítimas que conseguiu estorno da compra. A mulher diz que fez denúncias na Polícia Civil e no Procon de São Paulo, além de ter denunciado também às autoridades do Espírito Santo.

“Ao que parece, eles compraram um CNPJ antigo, que era de outra empresa. Abriram contas jurídicas em bancos bons e conhecidos, acho que para passar credibilidade. Eles fizeram tudo muito bem pensado. Reunimos todas as informações para passar para a polícia, mas não sei o que está sendo feito de fato”, diz.

MAIS DE 200 VÍTIMAS

Um formulário on-line criado para reunir informações sobre as vítimas já conta com mais de 230 nomes nesta segunda-feira (28). Há pessoas de diversos Estados brasileiros, do Maranhão ao Rio Grande do Sul.

No total, apenas as pessoas que se cadastraram neste formulário perderam mais de R$ 1 milhão. Embora muitas compras sejam de valores menores que R$ 2 mil, há algumas que passam dos R$ 15 mil. A maioria dos pagamentos foi feita por boleto ou Pix. 

Apesar dos esforços em reunir as informações referentes à loja, as vítimas temem que não seja possível investigar o caso de forma efetiva.

“Cada um faz boletim na sua cidade. Como no Brasil não tem um serviço integrado da Polícia Civil, gera dificuldade na investigação”, aponta Rhadson.

Ele diz ainda que, ao pedir judicialmente o bloqueio do valor da compra, a Justiça encontrou uma conta da empresa em um banco especializado em transferir ativos financeiros para criptomoedas.

“Se eles transformarem em bitcoin, vai ser impossível de rastrear esse dinheiro”, diz.

Atualmente há milhares de reclamações a respeito da loja no Reclame Aqui. A maioria das pessoas está resignada de que não mais verá o dinheiro gasto.

DELEGACIA DO ES INVESTIGA O CASO

A Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC) do Espírito Santo afirmou que recebeu quatro denúncias relativas a essa empresa. Todas relatando o mesmo problema da compra que nunca é entregue.

O delegado Breno Andrade, titular da unidade, afirma que não pode passar informações sobre a investigação em andamento, mas diz que estão sendo apurados o prejuízo e as informações relativas às pessoas ligadas à empresa.

Ele pede para que as pessoas que tenham sido vítimas do suposto golpe procurem a DRCC para registrar a ocorrência.

A Gazeta vem tentando, desde a semana passada, contato com a Uplace pelo telefone de contato que aparecia no site da empresa e pelo número registrado na Receita Federal, mas ninguém atende os contatos.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais