No centro da capital capixaba, uma construção imponente e repleta de detalhes atrai olhares de quem passa pela região. Carregada de fé e de devoção, a história da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Vitória é acompanhada por seus sinos estridentes, vitrais coloridos, sepulturas de figuras importantes do catolicismo e o chamativo estilo neogótico.
Toda essa grandiosidade do local, ponto de partida da Romaria dos Homens, na Festa da Penha, é fruto de uma obra que durou 50 anos, iniciada ainda no século 20, inspirada na Catedral de Colônia, na Alemanha, um dos maiores templos católicos do mundo.
Já na igreja capixaba, entre os maiores destaques estão os vitrais. Elaborados entre 1933 e 1943, chegaram até as paredes da Catedral através do renomado pintor, aquarelista e decorador italiano Cesar Alexandre Formenti, com a ajuda de seu filho Gastão, em um ateliê no Rio de Janeiro.

Além das doações feitas pelo italiano, outros vitrais foram instalados com o auxílio de famílias e personagens políticos importantes do Estado, que também colaboraram com a aplicação das obras que retratam cenas bíblicas, santas e santos católicos.
Já os sinos foram instalados em 1953 e, por anos, eram tocados de forma manual para chamar os fiéis para as missas. Atualmente, o sistema é eletrônico e não demanda mais a ação humana de puxar as cordas para emitir o som inconfundível que ecoa na Cidade Alta, sem deixar ninguém perder a hora para as solenidades religiosas.

A história da construção
“A nossa história é bastante antiga e se confunde também com a criação da cidade de Vitória. Por volta do ano de 1550, foi construída aqui a antiga matriz dedicada a Nossa Senhora da Vitória, que ficou erguida durante muitos anos e cumpriu muitos ofícios religiosos, entre os quais também alguns importantes, por ocasião da colonização portuguesa. E, com o passar do tempo, aquela antiga matriz foi ficando pequena, considerando aí o aumento da população e do número de fiéis que passaram a frequentar aquele templo”, relembra o padre Renato Criste, pároco da Catedral Metropolitana.
Em 1918, a antiga matriz começou a ser demolida para dar lugar ao espaço que hoje chama a atenção na Praça Dom Luiz Scortegagna. A obra começou, efetivamente, em 1920, seguindo traços do desenhista e paisagista Paulo Motta, também responsável pelo projeto do Parque Moscoso, outro ícone da região central da Capital.
Andando a passos lentos, a obra começou a avançar só em 1940, quando o arquiteto ítalo-brasileiro André Carloni assumiu o projeto. Ele aproveitou o que já havia sido construído, seguindo as inspirações do estilo neogótico, baseado na Catedral de Colônia, na Alemanha.

A arquitetura neogótica conta com torres pontiagudas, arcos ogivais, maior número de janelas e portas e grandes vitrais. Na Catedral de Vitória, um estilo eclético forma a igreja, que tem sua planta em forma de cruz latina e cinco acessos: um principal e quatro laterais, acompanhados por mais de doze vitrais que se espalham pelas dependências do espaço.
Restauração da Catedral
Veja detalhes da Catedral Metropolitana de Vitória
De 2012 a 2015, intervenções para restauro da Catedral de Vitória mudaram parte do cenário interno, onde novos vitrais foram instalados ao redor do altar, áreas foram repaginadas para modernização e os sinos ganharam o sistema eletrônico de funcionamento.
“Esses vitrais mais novos despertam a atenção dos visitantes e, a princípio, até podem destoar do restante, mas, através da arte, nós também contamos a história”, pontua Renato Criste.

Na igreja, no período de restauração, o altar original foi modificado e uma fonte batismal foi instalada em uma capela anexa. Todo o trabalho foi elaborado com a mesma matéria-prima e o estilo da construção original, com traços que se alinham para o cumprimento dos ofícios religiosos da Catedral, que, atualmente, também abriga eventos culturais e festivos, como casamentos e formaturas.
Padre Renato Criste
Pároco da Catedral Metropolitana de Vitória
"No Natal, por exemplo, nós temos aqui concertos e apresentações de músicos e artistas da região. Aqui, a população também pode manifestar sua fé e cultura através da arte"
Essa abertura do espaço para a comunidade, segundo o pároco, faz parte da tradição da igreja em acolher seu público, colaborando com a formação da identidade das pessoas que a visitam.
“Vitória, como capital do Espírito Santo, tem um crescimento populacional e, consequentemente, um aumento no número de fiéis. Então, a Catedral ganha essa dimensão de colaborar com a construção do povo capixaba. Uma curiosidade é que a bandeira do Estado traz as mesmas cores do manto de Nossa Senhora da Vitória. Essa foi uma influência do bispo dom Fernando de Souza Monteiro, que evidenciou esse aspecto de devoção a Nossa Senhora”, diz Renato Criste.
Figuras importantes enterradas na Catedral

Como tradição do catolicismo, figuras importantes foram enterradas ali mesmo na igreja. Na Catedral de Vitória, estão as sepulturas de dom Benedito Alves de Souza, responsável pela demolição da antiga matriz e pelo início das obras da Catedral; dom Luiz Scortegagna, quarto bispo do Espírito Santo, que realizou a primeira missa na igreja em 25 de dezembro de 1933; e dom João Batista da Mota, primeiro arcebispo do Estado, responsável pela reforma do templo e pela conclusão de sua estrutura na década de 1970.
Dom Luiz foi sepultado, inicialmente, no altar-mor da Catedral devido à sua importância e ao carinho que tinha pela igreja. Seu túmulo permaneceu no mesmo local até ser levado para a cripta, que já existia, porém não era ornamentado.
Durante a reforma mais recente, o espaço recebeu piso de mármore e foram construídos 18 ossários e um sarcófago para o sepultamento de religiosos. Além disso, a área ainda recebeu as imagens de São José e de Jesus Cristo, ambas oriundas da antiga matriz.
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