Posso tirar a parte mofada do pão e comer o restante? Nutricionistas explicam

Ingerir comidas com bolor pode causar vômitos, alergias, diarreia, dores abdominais e intoxicação alimentar, podendo levar até a internação

Publicado em 21/10/2022 às 14h30
O pão mofado precisa ser descartado, de acordo com nutricionistas

O pão mofado precisa ser descartado, de acordo com nutricionistas. Crédito: Shutterstock

Muitas vezes temos um pão ou outro alimento que está há alguns dias em casa e, quando dá aquela vontade de comer, encontramos mofo em sua superfície. Logo pinta a dúvida: podemos retirar a parte mofada de um alimento e comer o restante? 

Carina Oliveira, que atua na área nutricional de produção UAN (Unidade de Alimentação e Nutrição), explica que o mofo é um tipo de fungo filamentoso que costuma se alimentar de matéria orgânica, ajudando em sua decomposição. Ela também diz que alguns micro-organismos responsáveis pelo bolor produzem micotoxinas que podem causar infecções alimentares. Em alguns casos, esse "veneno" se espalha por todo o alimento. 

"Na nutrição, não é indicado retirar a parte mofada e comer a região que não foi atingida. O bolor (que geralmente tem um aspecto aveludado e pode ser esverdeado, azulado ou esbranquiçado) é apenas a parte que conseguimos ver a olho nu. Dentro do alimento, as toxinas fúngicas estão agindo. Consumir esse produto intoxicado pode causar vômitos, alergias, diarreia, dores abdominais e intoxicação alimentar, podendo levar até a casos mais graves e internação", alerta Carina.

Catiene Chieppe, nutricionista funcional e esportiva, é menos radical em relação à eliminação total dos alimentos, mas também garante que as micotoxinas produzidas pelos fungos são prejudiciais à saúde e não podem ser consumidas.

"As características do mofo e o tipo de alimento devem ser considerados na hora de decidir retirar a parte contaminada e consumir o restante ou descartá-lo por completo.  No caso de pães e bolos, a recomendação é fazer o descarte total. Isso porque os esporos dos fungos se espalham com facilidade. Ao manipular um bolo com parte mofada, por exemplo, os esporos se espalham e não há como saber até que ponto o alimento foi contaminado. Isso vale também para o pão de forma. Uma fatia mofada pode ter contaminado as demais. Por segurança, precisamos descartar todo o pacote", enfatiza.

Frutas, verduras e legumes também são atacados por fungos e ficam com bolor

Frutas, verduras e legumes também são atacados por fungos e ficam com bolor. Crédito: Shutterstock

Segundo Chieppe, quando o bolor estiver em frutas, verduras e legumes com textura firme, como mamão, maçã e cenoura ou em queijos de consistência dura, é possível retirar a parte mofada e aproveitar o restante.

Ela ainda dá uma dica preciosa: é preciso cortar a área afetada mantendo dois centímetros de distância do mofo e, na hora do corte, nunca toque com a faca na parte mofada, para não contaminar o restante do alimento.

"Se o bolor estiver muito espalhado pelo tecido da fruta, o melhor é descartá-la. Os queijos macios são os que mais requerem atenção. A presença de mofo sugere contaminação não apenas por fungos indesejáveis, mas também por bactérias nocivas, como listeria ou salmonela. Descarte todo o alimento", alerta.

VIDA ÚTIL

Além de decidir se vamos comer ou não um alimento mofado, também precisamos observar o que os nutricionistas chamam de vida útil de cada um deles. "Toda matéria orgânica tem um tempo de vida útil, seja um produto natural ou processado. Os processados têm conservantes que podem aumentar o seu tempo para consumo. Antes de comprar um produto, é importante ver seu estado e conservação, checar a embalagem e observar se ele está dentro do prazo de validade", aconselha Carina Oliveira.

Como podemos fazer para que os fungos e mofos demorem mais tempo para "atacar" nossa comida?  Carina garante que é importantíssimo mantermos seu estado de conservação.

"Alimentos como pão, legumes, frutas e verduras, principalmente aos menos resistentes ao calor do meio ambiente, precisam ser colocados na geladeira. A temperatura é um importante fator conservante. Também é preciso mantê-los longe da umidade. Para isso, opte por embalagens que vedam bem", explica.

Congelar alimentos também é um "mantra" defendido por Catiene Chieppe.  "O congelamento é, sem dúvidas, a melhor maneira de conservar. A partir desse processo, é possível armazenar praticamente qualquer coisa: frutas, legumes e até mesmo refeições completas, como 'marmitinhas' saudáveis. Depois, basta descongelar. Sempre que possível, procure armazenar alimentos diferentes em recipientes distintos".

Frutas e hortaliças também devem ser mantidas sob refrigeração. "Para conservá-los, a dica é mantê-los na geladeira, preferencialmente na parte destinada para isso: a gaveta. Algumas frutas, como maçãs e bananas, podem ficar alguns dias fora do refrigerador (embora isso dependa muito do clima de sua cidade). Caso opte por deixá-las em uma fruteira, lembre-se de borrifar um pouco de água todos os dias para evitar que desidratem e estraguem rapidamente", adianta Chieppe.

LATICÍNIOS

Segundo Catiene, tanto leites como as bebidas vegetais industrializadas podem ser mantidos fora do refrigerador antes de abertos. "Após a abertura, é recomendado colocá-los na geladeira imediatamente e consumi-los quanto antes. Já outros tipos de produtos, como queijos e iogurtes, devem sempre ser mantidos dentro da geladeira, de preferência na parte de cima, destinada aos 'frios', pois a temperatura é mais estável e mantém os produtos em bom estado por longos períodos". 

Cereais

Cereais precisam ser protegidos em potes bem vedados. Crédito: Freepik

Produtos como arroz, aveia, linhaça ou granola, por exemplo, são constantemente atacados por diferentes pequenos insetos, incluindo formigas. Para evitar o problema, basta mantê-los em potes (preferencialmente de vidro) bem vedados, se possível, com tampa hermética. Isso também evita a contaminação por fungos e a formação de bolor.

LIMPEZA

Para se livrar de fungos, mofos e bolores, também é preciso higienizar os alimentos assim que chegar do mercado. Carina Oliveira aconselha que fazer a higienização correta de frutas, legumes e verduras ajudam a livrar a comida de toxinas e impurezas.

"Eles podem ser higienizados com um litro de água e uma colher de sopa de hipoclorito de sódio. Deixe de molho por dez minutos. Também podemos usar duas colheres de sopa de vinagre de álcool com um litro de água. Para essa fórmula, é aconselhado reservar por 20 minutos".

Especialista indica higienização de alimentos com hipoclorito de sódio e vinagre para livrá-los de fungos e outros micro-organismos

Especialista indica higienização de alimentos com hipoclorito de sódio e vinagre, submersos em água, para livrá-los de fungos e outros micro-organismos. Crédito: Shutterstock

Oliveira aponta que também é importante limpar o ambiente onde o alimento é produzido. "Higienize tábuas, talheres, facas e mesas com detergente. Não podemos cortar um frango, um peixe e uma carne no mesmo lugar, sem limpar antes, pois impurezas, fungos e bactérias podem ficar no local". 

Carina ainda dá uma dica preciosa para os compradores compulsivos. "Evite adquirir produtos em grande quantidade.  Compre apenas o necessário, o que será consumido em pouco tempo. Não deixe pães expostos muito tempo à mesa. Pegue apenas o que você vai comer e mantenha o restante embalado de forma correta. Não embarque em promoções com preços muito baixos. Em alguns casos, os produtos podem estar próximos do prazo de validade e serão aproveitados por pouco tempo. É o tradicional barato que sai caro", complementa. 

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