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Publicado em 7 de setembro de 2022 às 10:00
Os livros não deixam muitas margens para interpretações, mesmo estudiosos assumindo não ter evidências claras sobre o acontecimento. O fato é que em 7 de setembro de 1822, o então regente D. Pedro I, fugindo das pressões da corte lusitana - especialmente no que tange a interesses econômicos -, ratificou a ordem de Independência do Brasil com um grito às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo. E "houve boatos" que ele parou no lugar apenas porque estava com problemas intestinais...
Fofocas palacianas à parte, e sem pretensão de ser fiel aos fatos, "HZ" lançou um olhar sobre como algumas produções culturais, sejam livros, filmes, séries e novelas, mostram o processo de Independência do Brasil e a figura emblemática de Dom Pedro I. Cada um, claro, impondo seu olhar próprio sobre o assunto, respeitando, quase sempre, a característica criativa de uma época.
Aproveitando o 7 de setembro, nunca é demais lembrar que parte da vida do monarca que proclamou nossa independência está sendo contata nos cinemas no belíssimo longa-metragem "A Viagem de Pedro", de Laís Bodanzky.
O imperador, vivido com potência por Cauã Raymond, é "descontruído" pelo projeto, bem longe da fama de herói mostrada nos livros. No filme, vemos um Pedro doente, impotente, machista e racista, tendo que fugir do Brasil logo após proclamar a independência. Aqui você confere a entrevista especial que "HZ" fez com Raymond e Bodanzky.
Também conseguimos acompanhar um imperador disruptivo, em um comportamento impulsivo que culminou no processo de nossa independência de Portugal, no livro "D. Pedro I", de Isabel Lustosa, à venda na Amazon por R$ 66,72.
A autora, responsável por sucessos como "A História dos Escravos" e "Insultos Impressos", sua melhor obra, abusa do intimismo para também descontruir o personagem histórico.
Nas 368 páginas, vemos Pedro com uma personalidade forte e intempestiva, próximo à loucura. Conhecemos um homem capaz dos gestos grosseiros e machistas, especialmente no trato com mulheres e esposas, mas também com ideias liberais, que vão contra o absolutismo do pai, D João VI. Tais ideais, inclusive, o impulsionaram a proclamar a "liberdade" do Brasil.
Esqueça o Pedro quase anti-herói mostrado no filme e livro citados acima. Pegando um gancho mais tradicional, podemos conferir o longa-metragem "Independência ou Morte" (1972), de Carlos Coimbra, que traz Tarcísio Meira, como o monarca, e Glória Menezes, como a Marquesa de Santos. Só para lembrar: nos anos 1970, Tarcísio e Glória era o casal mais quente da TV brasileira e o filme, sabiamente, explorou a química entre os dois, mesmo sendo um projeto burocrático, cansativo e de gosto duvidoso. Infelizmente, o drama está fora de catálogo do serviço de streamings.
"Independência ou Morte" traz uma visão um tanto romântica do processo que levou à emancipação política do Brasil. Além disso, explora um dos vários casos extra-conjugais do imperador, aqui mantendo uma relação com Marquesa de Santos.
Ah, sim: Meira também viveu o imperador em participação especial na novela "Saramandaia" (1976), de Dias Gomes. Um show de realismo fantástico.
Totalmente oposto, e enveredando pelo caminho da criatividade, o que lhe é peculiar, Luiz Fernando Carvalho ("Velho Chico" e "Meu Pedacinho de Chão") chama a atenção pelo rigor estético imposto na minissérie "Independências", exibida ano passado na TV Cultura.
A trama, composta por 16 capítulos, mostra o panorama político e social que levou o país a sua emancipação. Em foco, os bastidores da família real portuguesa e da oligarquia nacional, além de um panorama da realidade do povo que vivia no país, especialmente indígenas, negros escravizados e pobres. No elenco, nomes quentes da nossa dramaturgia, como Antônio Fagundes (Dom João VI) e Daniel de Oliveira (D. Pedro I).
De graça, pelo YouTube, podemos conferir o documentário "A Independência do Brasil Narrada pelos Arquivos", uma viagem quase antropológica sobre o assunto. A direção é de Walmor Pamplona, em projeto criado para comemorar o Bicentenário da Independência.
O documentário foi rodado no Arquivo Nacional, que preserva milhares de documentos impressos e audiovisuais, incluindo decretos, ofícios, periódicos e correspondências acerca de acontecimentos anteriores e posteriores à proclamação da Independência.
No filme, podemos conferir documentos raros, como o juramento da Imperatriz Maria Leopoldina à Constituição do Império, manuscrito de 25 de março de 1824. O documentário também traz imagens de charges, periódicos e trechos de filmes de ficção (como o já citado "Independência ou Morte"). Um achado para quem deseja conhecer mais da nossa história.
E, para terminar, não podemos esquecer uma das novelas mais celebradas da safra recente da Rede Globo, "Novo Mundo" (2017). Disponível na Globoplay, o folhetim traz Caio Castro com Dom Pedro I representando cenas históricas, como o "Dia do Fico", em 9 de janeiro de 1822, quando as cortes portuguesas exigiam o retorno do imperador a Portugal para que o Brasil voltasse a ser colônia lusitana.
Com um sotaque impecável, como também trazendo pontual reconstituição de época, a novela de Thereza Falcão e Alessandro Marson agitou os telespectadores ao dar a sua versão para o tradicional grito da independência às margens do Rio Ipiranga. Não faltou emoção do outro lado da telinha.
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