Afronta MC é uma das convidadas do Festival Nosso Rap, em Vitória. Crédito: Reprodução/ Instagram @afrontamc
Revelação do hip hop capixaba, Afronta MC é um dos destaques da primeira edição do Festival Nosso Rap, que acontece nesta quinta (18), a partir das 19h, no Palácio Sônia Cabral, em Vitória, com ingressos esgotados em menos de sete horas após a abertura da distribuição nesta quarta (17).
Autora de hits como "BoneKunty", "Loba" e "Se Morde de Raiva", a artista dividirá o palco com Dudu, Beth MC e VK Mac, além da participação pra lá de luxuosa das dançarinas da Kiki House of Boneketys, realizando coreografias no estilo vogue, ritmo tradicional dos Ballrooms, bailes que se tornaram populares em Nova York nos anos 1980 e foram divulgados para o mundo por Madonna.
Voltando à Afronta MC, ela não é apenas mais um talento (entre tantos outros) da cena cultural capixaba. Sua representatividade - e importância - vai bem além disso. A performer é considerada uma voz que ecoa em busca de liberdade de expressão e dignidade para a comunidade LGBTQIA+, que ainda sofre com preconceitos e com a falta de oportunidades, especialmente de trabalho, junto à boa parte da sociedade.
"Sou um corpo travesti e preta que conseguiu ser a primeira (travesti) do Espírito Santo a participar das rodas de rima, em 2019. É uma representatividade muito grande, especialmente em um universo que ainda é marcado por muitos homens. É importante que outras travestis, como também toda a população LGBTQIA+, se veja nesse espaço. Estamos criando um movimento de "neo hip hop", de total inclusão", garante a artista, em entrevista ao "HZ".
Afronta (cujo nome significa afrontar-se, desafiar-se) vem cada vez mais conquistando seu espaço. Há duas semanas, venceu dois troféus no 1º Prêmio da Música Capixaba, nas categorias de Artista Revelação e Destaque LGBTQIA+.
"Considero um feito de toda uma comunidade: uma travesti ganhar dois troféus no 1º Prêmio da Música Capixaba. Cerca de 9 em cada 10 (travestis) vivem na prostituição. Não que isso não seja um trabalho digno, pois é sim. A questão é mais além. É saber que podemos estar em qualquer outra área de trabalho, nos destacando. Queremos mostrar para nossas famílias e, junto, para a sociedade, que temos espaço, seja na música, na arte ou em qualquer outro setor profissional. A palavra é 'existimos'", destaca.
Com 9 singles lançados, entre solos e feats, a artista já se apresentou nos principais festivais do Espírito Santo, como Voadora, Luz Del Fuego, MoV.Cidade e Levanty, em uma carreira que está ganhando impulso há cerca de três anos.
"Tento fazer um trabalho de consciência, de quebrar o machismo e a transfobia de parte da sociedade. Quero, com a minha música, fazer com que as pessoas se abram, participando de uma espécie de transformação. Muitos ainda não estão acostumados com nossos corpos no movimento do hip hop", acredita, mostrando que essa dita transformação também passa por sua vida pessoal.
"Isso soa como um processo de reconhecimento para mim, de me conhecer como travesti e preta. Reivindico o meu poder de fala, que também é um direito", enfatiza, dizendo que a guinada conservadora que tomou parte da sociedade brasileira nos últimos anos acaba dificultando o processo de aceitação das diferenças.
Esse pensamento (o da dificuldade de aceitação), Afronta deixa claro em suas letras. Em "Loba", por exemplo, ela diz, em tom de elegia: "Quando portas se batem na sua cara/ Revolta, mas motivação maior é não ter saída/ .../ Não pense que as histórias que eu te conto são incomuns/ Se olhar direito, vai ver um monte igual a mim"
"O Governo Federal e boa parte da sociedade se mostram muito conservadores. Muitas travestis passam por violência nas ruas, tanto que somos um dos países que mais mata pessoas LGBTQUIA+ no mundo. O que conquistamos, até em formato de aceitação, vem sendo conseguido com o passar dos anos, quando muitos de nós foram às ruas, lutando por justiça e igualdade social. Muitos travestis morreram para que a gente conseguisse ter voz. Claro, ainda temos medo, seja das dificuldades nas relações familiares, afetivas ou no mercado de trabalho", aponta, dizendo que sua música é uma espécie de clamor pela igualdade.
"Espero que minha arte seja capaz de transformar. Pelas minhas rimas, apresento minha voz de forma política para defender nossos direitos e abrir espaço para que outras também possam se expressar. Sinto que não estou falando sozinha. Cada vez mais direciono a minha arte como forma de libertação", complementa.
FESTIVAL NOSSO RAP
- QUANDO: Quinta (18), a partir das 19h, no Palácio Sônia Cabral, com ingressos esgotados. Rua São Gonçalo, Centro, Vitória.
- PARTICIPAÇÕES: Afronta MC, Dudu, Beth MC e VK Mac, com participação especial de Kiki House of Boneketys.
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