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Publicado em 28 de março de 2024 às 11:15
"A primeira imagem de Alexandre Lima que me vem à mente é a do jovem de cabelos desgrenhados, estilo Robert Smith, do The Cure, tocando saxofone numa banda de rock. Era meados dos anos 1980, e Alexandre usava roupas escuras, batinas e todo aquele visual que remete ao movimento dark. Quando se é adolescente, dois ou três anos de idade fazem muita diferença na vida da gente. Eu era mais novo e olhava Alexandre com admiração antes de conhecê-lo pessoalmente. Ele fazia parte dos Combatentes da Cidade, uma das bandas mais influentes do rock produzido no Espírito Santo, juntamente com o Thor e o Pó de Anjo.
O filho de Marcão e Vera logo criou asas e se transformou no mais importante músico de sua geração. Seja nos Combatentes da Cidade, Gângsters, Manimal, Radio Experienza, na carreira-solo e em tantos projetos lindos que levam a sua assinatura, Alexandre brilhou como cantor, compositor, instrumentista e agitador cultural dentro da MPB produzida no Espírito Santo. Idealizador do Manimal e do rótulo “Rockongo”, emplacou diversos sucessos radiofônicos, como “Água de Benzer” (com Amaro Lima), “Na Puxada de Rede” (Amaro Lima/Anderson Ventura) e “Marina” (com Renato Casanova e Jura Fernandes).
Era Alexandre quem construía pontes com o Cidade Negra, Tribo de Jah, Zé Geraldo e com tantos músicos que vinham se apresentar no Estado, ao mesmo tempo em que circulava com desenvoltura pelas gravadoras e pela produção musical.
Estive com Alexandre em diferentes momentos de sua vida. Como jornalista, fazia a cobertura dos seus shows e produções (ele sempre levava as críticas com o bom humor que era uma das suas marcas registradas – “fale mal, mas fale de nós”). Fui seu baterista, ainda que por pouco tempo, em um quarteto com Léo Caetano e Leandro Moreira. Quem tocou com Alex sabe que era difícil se concentrar nos ensaios, pois ele fazia piadas o tempo todo. Meu querido amigo foi um dos principais colaboradores do livro “Rockrise”, e inclusive assumiu o papel de mestre de cerimônias no lançamento da obra, mostrando a sua versatilidade enquanto comunicador. Também nos encontramos como gestores culturais; ele, em Vitória; eu, em Vila Velha.
Sempre com a mente fervilhando de ideias, o então secretário de Cultura de Vitória, Alexandre Lima, sonhava criar o projeto “A Grande Vitória da Cultura”, unindo os municípios da Região Metropolitana em um potente corredor cultural. Infelizmente não houve tempo para colocar essa ideia em prática, mas ela segue viva juntamente com a sua obra.
Sinto muito a falta do Alex: dos nossos papos, do seu bom humor, da sua musicalidade, das conversas sobre música e gestão cultural... Assim como todos que o amavam, meu desejo era vê-lo despertar a qualquer momento e se dirigir a mim com aquele jeito gaiato que era a sua cara:
- Dagoberto, larga esse computador e vamos fazer um som - hehehe.
Pois é, meu amigo; estamos tristíssimos com a sua partida, mas conformados por saber que hoje vai ter festa no céu.
Prepare a nossa jam, porque, do jeito que você é amado, vai ter muita gente querendo garantir vaga nessa banda.
RIP."
José Roberto Santos Neves é jornalista, escritor, pesquisador musical; e amigo e fã de Alexandre Lima
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