Artistas e movimentos culturais e sociais fizeram uma manifestação na tarde desta terça (15) pedindo melhorias para a cultura de Vitória. Crédito: Fernando Madeira
Atualização
15 de março de 2022 às 21:23
A Prefeitura de Vitória enviou sua resposta sobre as reivindicações feitas pelos manifestantes. Ela foi adicionada na matéria.
Classe artística, movimentos sociais e políticos resolveram se mobilizar a fim de reivindicar melhorias para o setor cultural e social de Vitória. Nesta terça (15) aconteceu a manifestação "Grito da Cultura", convocada pelas redes sociais, contando com a participação de 60 entidades e cerca de 150 manifestantes, segundo a organização.
De forma pacífica, o encontro reuniu artistas, coletivos culturais, fóruns da juventude, movimentos pelos direitos da população negra, blocos de carnaval, militantes políticos e membro do Conselho Municipal de Cultura. Também participaram moradores de Jesus de Nazareth lutando por melhor qualidade de moradia.
A concentração aconteceu em frente à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Edna de Mattos Siqueira Gaudio, em Jesus de Nazareth, com caminhada seguindo até a Prefeitura de Vitória, em Bento Ferreira. A ideia, de acordo com os organizadores, era protocolar uma carta pedindo uma audiência com o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) apontando as reivindicações do grupo.
Ao chegarem à PMV, por volta das 17h30, o Setor de Protocolo da entidade já tinha encerrado o expediente. Segundo a organização do movimento, a carta foi protocolada via internet na noite desta terça.
"Queremos marcar uma reunião com o prefeito, pois tentamos conversar com o secretário de Cultura (Luciano Gagno), sempre sem sucesso. Nem as reinvindicações do Conselho Municipal de Cultura, contra o desmonte cultural que acontece em Vitória, estão sendo ouvidas. Nossa revolta chegou ao ápice com a não inclusão de Vitória ao programa Coinvestimento Cultural (Fundo a Fundo), que garantiria recursos estaduais para a cultura do município", desabafou Karlili Trindade, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Culturais e uma das organizadoras do "Grito da Cultura".
"Fomos informados pela imprensa que houve um problema com uma documentação, mas não tivemos mais explicações. Queremos saber qual o motivo da recusa da capital (para ingressar no Coinvestimento Fundo a Fundo) e por que não houve diálogo com a Secretaria Estadual de Cultura (Secult/ES) para que essa questão não fosse resolvida a tempo", enfatiza.
De acordo com Karlili, entre as reinvindicações, também está o não cumprimento da Lei Rubem Braga. "Queremos o pagamento integral de todos os 31 contemplados do edital de 2020, como também o lançamento dos editais de 2021 e 2022. A lei precisa ser cumprida", aponta, dizendo ainda que a classe artística está indignada com o processo de seleção do edital Proposta Artístico Urbana, da Lei Aldir Blanc, publicado em setembro do ano passado, cujo resultado ainda está sob recurso.
"O secretário municipal de cultura, Luciano Gagno, interferiu na avaliação dos jurados, o que modificou o resultado final do edital de R$ 192 mil. Isso abala a credibilidade da secretaria e da prefeitura para outros editais. Exigimos investigação e transparência", aponta Karlili.
CARNAVAL
De acordo com o "Grito da Cultura", o adiamento do Carnaval de Vitória, e a falta de planejamento para as apresentações dos blocos de rua, causa impacto ao setor, incluindo a falta de políticas públicas de apoio aos vendedores ambulantes, impactados economicamente com a não realização da festa.
"Queremos a criação de uma comissão de organização do Carnaval aberta à sociedade. É necessário diálogo com o setor e a retomada passa pela criação de uma comissão com representantes dos blocos, escolas de samba e demais trabalhadores", pontua.
Além de ações culturais, outra pauta do "Grito da Cultura" é contra o esvaziamento de políticas públicas voltadas para a juventude. "É inadmissível a interrupção das atividades da Casa de Juventude em São Pedro, por conta da não renovação do contrato com a instituição responsável pela gestão do espaço, prejudicando os jovens atendidos pelos serviços. Além disso, desde a gestão Luciano Rezende (Cidadania), o Centro de Referência da Juventude (CRJ), na Ilha de Santa Maria, está fechado para obras, sem previsão de retorno do serviço, essencial para a integração dos jovens com a cultura. Buscamos a retomada desses aparelhos", apela Karlili Trindade, pedindo, também, mudanças na Gerência de Juventude do município, ligada à Secretaria de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho (Semcid). Em Vitória, segundo a entrevistada, não há uma gerência de juventude, mais sim um Coordenador de Políticas dos Direitos da Juventude, tendo à frente Jhonny Martins De Souza Cardoso.
De acordo com carta-manifesto a ser apresentada a Pazolini, na qual "HZ" teve acesso, o grupo ainda pede a nomeação de coordenadores para equipamentos de políticas para a juventude, como CRJ, Casa da Juventude e Núcleo Afro Odomodê, assim como as coordenações de Diversidade Sexual e dos Direitos da População Negra, que têm na cultura uma ferramenta fundamental para desenvolvimento de políticas públicas.
"Queremos, antes de tudo, gestores técnicos, com conhecimento no setor e disponibilidade para dialogar com a população, seja na Secretaria de Cultura de Vitória como também na Coordenação de Políticas para a Juventude", complementa Trindade.
OUTRO LADO
Demandada sobre os pontos reivindicados na manifestação, a Prefeitura de Vitória respondeu por e-mail informando que a Secretaria Municipal de Cultura (Semc) fez vários investimentos que valorizam e resgatam o setor cultural em Vitória desde o início da atual gestão. O órgão ressaltou o investimento de R$ 2.717.960,00 no setor em 2021, a reforma e reabertura de espaços culturais e a oferta de oficinas para o fomento à cultura.
Sobre o edital 004/2021 de Seleção de Proposta Artístico Urbana, da Lei Aldir Blanc, a prefeitura disse que "a Semc inaugurou o mural "Marias do Centro", localizado na Rua Sete de Setembro, no Centro, próximo ao Morro da Fonte Grande", sem dar detalhes do processo de seleção.
A prefeitura termina o e-mail anunciando a abertura da exposição "Protagonismo Feminino: biografias de mulheres daqui", no Museu da Ilha das Caieiras, e a primeira edição "1º Festival Cultural de Verão de Vitória", na Praia de Camburi, que acontecem neste mês. Confira abaixo a resposta completa do órgão.
A Secretaria Municipal de Cultura (Semc) pondera que fez vários investimentos que valorizam e resgatam o setor cultural em Vitória desde o início da atual gestão.
Somente de janeiro a dezembro de 2021, foram realizadas 12 exposições das mais diversas expressões artísticas e culturais; festivais e apresentações musicais em vários pontos da cidade; intervenções de pintura mural nas regiões da Vila Rubim, São Pedro, Moscoso, Piedade e Goiabeiras; ações da Biblioteca Pública Municipal Adelpho Poli Monjardim, por meio do projeto “Viagem Pela Literatura”; ordem de serviço para a execução de pinturas no monumento “Vitória 360”, além de reformas no Museu Capixaba do Negro “Verônica da Pas” (Mucane) e na Biblioteca Municipal, no Centro Histórico da Cidade.
Ao todo, foram investidos R$ 2.717.960,00 no setor.
A Lei de Auxílio ao setor Cultural Aldir Blanc recebeu um montante de R$ 1,57 milhões. A execução de inúmeros projetos e obras artísticas beneficiou centenas de artistas locais dentre músicos, bandas, atores, pintores e expositores, além de dezenas de pequenos espaços culturais voltados à arte.
Vale ressaltar que, desde abril de 2021, a Semc reabriu todos os seus espaços culturais que estavam com atividades paralisadas: Escola Técnica de Teatro, Dança e Música (Fafi), Museu Capixaba do Negro Verônica da Pas (Mucane), Museu Histórico da Ilha das Caieiras, Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) e Casa Porto das Artes Plásticas.
Esses são espaços que, além de exposições, abrigam importantes formações culturais, área que recebeu R$ 500 mil.
Esses recursos possibilitaram à Semc ofertar mais de 1.000 vagas em 40 diferentes oficinas e cursos, tanto em formato virtual como presencial.
Também houve a revitalização de espaços culturais: reformas do Mucane, que devolveram à comunidade o uso do auditório da instituição, que estava interditado, e da Biblioteca Municipal. Os investimentos foram de R$ 126 mil.
Na impossibilidade de realizar atividades no formato presencial durante o primeiro semestre de 2021, a Semc apostou firme na execução de trabalhos on-line. Um dos editais da Cultura, o “Arte em Casa”, reuniu de modo virtual artistas locais em quatro diferentes eventos, “1ª edição do Carnaval On-line de Vitória”, “Festival Arte em Casa – Homenagem à Mulher”, “Semana do Teatro e do Circo” e “Semana da Consciência Negra”.
As 40 apresentações envolvidas nos eventos virtuais receberam R$ 60 mil e foram realizadas por meio do canal do YouTube da PMV, que tem se tornado um local de fomento e incentivo às artes e à cultura.
Por meio do edital Arte é Nossa, que tem o audacioso objetivo de transformar Vitória em uma galeria a céu aberto, com intervenções artísticas de grafite/pintura mural em diferentes regiões da cidade, a Semc já entregou obras em cinco regiões: Mercado da Vila Rubim, São Pedro, Piedade, Moscoso e Goiabeiras.
Ações culturais em andamento
No último dia 8, a Semc inaugurou o mural "Marias do Centro", localizado na Rua Sete de Setembro, no Centro, próximo ao Morro da Fonte Grande. A obra compõe um corredor de mais de dois quilômetros de murais sobre temas relacionados às tradições do bairro, tendo como base pesquisas realizadas no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, com a participação de historiadores da instituição.
O mural homenageia cinco grandes personalidades femininas que fizeram história no Espírito Santo: Maria Ortiz, Maria Verônica da Pas, Maria Stella de Novaes, Carmélia Maria de Souza e Maria Saraiva.
Na próxima quinta-feira (17) a Cultura inaugura a exposição "Protagonismo Feminino: biografias de mulheres daqui", no Museu da Ilha das Caieiras, e ainda realiza no próximo final de semana, entre os dias 18 e 20, a primeira edição "1º Festival Cultural de Verão de Vitória", que reunirá artistas locais dos segmentos de circo e música na orla de Camburi.
Correção
16 de março de 2022 às 18:28
A Coordenação de Políticas dos Direitos da Juventude, da Secretaria de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho (Semcid) de Vitória, tem como gestor Jhonny Martins de Souza Cardoso e não Melry Amaral, como foi repassado anteriormente à reportagem. A matéria foi corrigida.
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