Ator de 'Stranger Things' cresce e vira adolescente babaca em filme de Cannes

Festival exibe estreia de Jesse Eisenberg na direção, 'When You Finish Saving the World', e 'Le Otto Montagne'

Publicado em 19/05/2022 às 14h09
Finn Wolfhard interpretou Mike Wheeler em 'Stranger Things'

Finn Wolfhard interpretou Mike Wheeler em 'Stranger Things'. Crédito: Instagram/@finnwolfhardofficial

Eles crescem tão rápido -e nem sempre para o bem. Ao menos é o caso dos personagens interpretados por Finn Wolfhard. Se na série "Stranger Things" ele faz parte da trupe de crianças fofas que conquistou milhões de fãs ao redor do mundo, ele agora aparece no Festival de Cannes como um adolescente completamente insuportável no filme "When You Finish Saving the World", algo como "quando você terminar de salvar o mundo".

O longa marca a estreia na direção do ator Jesse Eisenberg, de "A Rede Social" e "Zumbilândia", seguindo um movimento cada vez mais expressivo de atores indo para trás das câmeras -em Cannes há ainda Riley Keough, neta de Elvis Presley que exibe "War Pony".

Eisenberg também assina o roteiro de "When You Finish Saving the World" e a série em áudio na qual este foi baseado. Dela, trouxe o protagonista Wolfhard, que reprisa o papel de um adolescente um tanto abobado e despolitizado, que ganha dinheiro fazendo música para seus 20 mil seguidores na internet, como sempre faz questão de frisar.

As letras que escreve, sobre "biscoitos esmigalhados" e a paquera da escola, se opõem radicalmente à música clássica que sua mãe escuta diariamente enquanto dirige para o trabalho, um centro de acolhimento para mulheres vítimas de violência.

Sua vocação é o serviço social, ajudar quem precisa -mas enquanto ela não parece ter dificuldades para se conectar com aqueles que chegam ao abrigo, o filho, para Evelyn, é um completo desconhecido. Julianne Moore faz as vezes da mãe que, apesar do trabalho altruísta, é tão autocentrada quanto o filho Ziggy, que cria seu repertório com base no que deve arrancar mais dinheiro de seus fãs jovenzinhos.

A relação conturbada dos dois se degrada quando ele descobre que a tal paquera frequenta um clube de arte militante, onde lê poemas sobre o imperialismo nas Ilhas Marshall e assiste a performances nada sutis sobre um ventriloquista que, como diz sua camiseta, representa o capitalismo americano.

Evelyn acredita que Ziggy, fútil e desbocado do jeito que é, seria incapaz de escrever canções políticas. Em paralelo a isso, recebe em seu centro de acolhimento uma mulher e seu filho, mais ou menos na mesma idade de Ziggy, e que se apresenta como o sonho de qualquer mãe.

Ele é incansavelmente sensível, ternamente prestativo e extremamente dedicado. O pacote completo para uma mãe que, ao chegar em casa, mal conversa com o marido e vai direto bater boca com o filho.

"When You Finish Saving the World" foi o filme de abertura da Semana da Crítica e agora concorre à Câmera de Ouro, destinada a jovens cineastas. Foi com aplausos entusiasmados que encerrou uma de suas poucas sessões, num teatro a cerca de três quilômetros do Palácio dos Festivais e lotado por uma mistura interessante de público -mas na qual sobressaíram os adolescentes e jovens adultos.

Os comentários em Cannes são de que o filme tem mais cara do festival Sundance do que da Riviera, com seu drama familiar intimista e o jeito escancarado de filme americano indie. Parece, de fato, um tanto desconexo do que se vê no evento francês, mas ainda assim foi uma boa adição numa edição sem grandes estrelas hollywoodianas -Moore foi uma das poucas que abrilhantaram o tapete vermelho até agora.

Outra estreia simpática e honesta de um ator na direção foi "Le Otto Montagne", que a belga Charlotte Vandermeersch assina junto com o já veterano Felix van Groeningen. Concorrente à Palma de Ouro, o longa conta a história de uma amizade ao longo de duas décadas.

Pietro e Bruno são apenas crianças quando se conhecem nas montanhas da Itália e, conforme os anos passam, veem sua história se cruzar e se afastar incansavelmente. Tanto que o filme, às vezes, parece se perder dentro de si mesmo, tão incerto com para onde ir quanto seus protagonistas.

Não deixa de ser uma história bonita e lindamente fotografada, que perpassa temas inerentes à inocência da infância e às turbulências às quais qualquer amizade está sujeita. Num resumo, "Le Otto Montagne", ou as oito montanhas, é sobre isso -uma ode às amizades, e aos erros e acertos que cometemos enquanto tentamos manter esses laços.

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