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Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 08:00
A sonoridade mistura reggae, axé, ritmos africanos, rock, ska, música jamaicana e batidas eletrônicas. A (ousada) salada de estilos musicais faz da BaianaSystem - criada em 2009, com oito discos lançados - um dos nomes mais interessantes de nova cena cultural da música popular brasileira.
Voltando aos poucos com a turnê "Sulamericano Show", interrompida em 2020 por conta da pandemia da Covid-19, agora com o subtítulo de "Versão Brasiliana", os baianos aterrissam em Vitória neste fim de semana para agitar o carnaval do Festival Baile Voador, que acontece sexta (25) e sábado (26), no Álvares Cabral.
Vocalista da banda, Russo Passapusso conversou com "HZ", garantindo que apresentação trará um pouco do novo álbum dos artistas, "OxeAxeExu" (2021), uma louvação à música latina, mas que também será uma espécie de laboratório, uma forma de reaproximar a BaianaSystem dos fãs após dois anos de afastamento por conta da crise sanitária.
Abaixo, confira trechos do bate-papo, que ainda abordou as influências da cultura africana na sonoridade da banda, a vitória no Grammy Latino em 2019, com o disco "O Futuro não Demora", e a polarização política por qual passa o Brasil. "Cada dia, semana e hora que passa, vemos mais atrocidades acontecendo", afirma Russo.
É um show que foi colocado no hiato da história, criado no processo da pandemia da Covid-19. Nesse meio tempo, lançamos o disco "OxeAxeExu", que é uma espécie de versão "brasiliana", pois haverá músicas que remetem a esse trabalho, como "Reza Forte" e "Corneteiro Luiz", que dialogam com a relação que temos junto a identidade sul-americana, ou melhor, do brasileiro como sul-americano. Mas não podemos esquecer que estamos em uma pandemia, então, também será um show de relação com o público falando dos cuidados necessários para vencer essa fase. Vejo como uma manifestação de conscientização. Esse será o nosso segundo show após dois anos parados (por conta da crise sanitária). Penso que a apresentação terá uma relação de humildade, para que a gente aprenda com os fãs a realidade que está acontecendo nas ruas. Como diz a música "Reza Forte" (gravada em parceria com BNegão), estamos em uma "relação de cura".
Lembro desse show e lembro da forte presença dos movimentos culturais do Estado, de jovens falando de tambor e demais sonoridades. Foi importante chegar em Vitória e sabermos que ali existiam outras "batidas". O Baiana conseguiu uma comunicação direta com o público, de total harmonia e entendimento da nossa diversidade cultural.
Sim, mas "Afrofuturista" a partir do momento em que a gente também olha para o passado, para aprender com a nossa ancestralidade. Temos uma visão artística de "plantar" no presente para "colher" no futuro. A gente sempre está ouvindo, pesquisando e reverenciando nomes fortes da música brasileira, como Bule-Bule (repentista, escritor e poeta baiano), Djalma Corrêa e Mateus Aleluia, além de coisas do sertão, como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Isso tudo é muito forte e, para nós, também dialoga com o futuro. O engraçado é que há uma confluência do passado falando com o futuro. Acho que esse nosso "Afrofuturismo" passa muito pela autoconsciência que temos do que vem pela frente. Há, também, a relação do rock, que vem do blues, da música preta, assim como o reggae. Já a música eletrônica vem dessa cultura "Sound System", que está muito "amarrado" dentro dessa esfera. No fundo, tudo isso é música preta.
Essa frase da Elza só confirma a grandiosidade do processo de nosso trabalho. A gente tem certeza da transformação que a nossa música causa, principalmente porque ela é capaz de nos transformar também. Sinto isso quando toco, canto e ouço meus parceiros de grupo tocarem. A música "Libertação" (gravada em parceria com Elza Soares em 2019), fala de ancestralidade, da força dessa música preta. Essa libertação faz com que a gente se sinta asfixiado dentro desse governo. Soa como um pedido de "quero respirar". Cada dia, semana e hora que passa, vemos mais atrocidades acontecendo. As piadas já não têm mais graça e os absurdos já não são inaceitáveis. As técnicas e táticas são sujas no meio virtual, tudo para que eles tentem vencer essa "guerra". A gente mantém essa força de resistência sempre lembrando de Marielle (Franco, vereadora assassinada em 2018, no Rio de Janeiro, em um crime ainda sem solução) e de várias outras pessoas que deram a vida por isso. A política é um ato de viver, de respirar.
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