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Capixaba expõe na 6ª Bienal de Mulheres na Fotografia, em Barcelona

Moradora de Cariacica, Amanda Bolonha está recebendo convites para expor em outros países da Europa e afirma que seu trabalho versa sobre autoestima, violência doméstica, racismo e luta contra o machismo

Publicado em 14 de dezembro de 2021 às 09:25

Moradora de Cariacica, Amanda Bolonha está expondo seu trabalho na 6ª Bienal de Mulheres na Fotografia, em Barcelona (Espanha)
Moradora de Cariacica, Amanda Bolonha está expondo seu trabalho na 6ª Bienal de Mulheres na Fotografia, em Barcelona (Espanha) Crédito: Reprodução/ Instagram @amandabolonha_ com foto de FotoNostrum

Fotógrafa autodidata desde os 14 anos, Amanda Bolonha, moradora da periferia de Cariacica, está ganhando o mundo com seu talento e sensibilidade. Uma de suas obras, integrante da coletânea "Retrato de Vênus", foi selecionada para participar da 6ª Bienal de Mulheres na Fotografia, em Barcelona (Espanha), tradicional mostra que reúne trabalhos fotográficos de artistas mulheres de todo o planeta, que tem seguimento até 9 de janeiro.

Amanda foi a única brasileira selecionada, ficando em 11º lugar na competição. A notoriedade fez com que ganhasse convites para expor em outros países do Velho Mundo.

"Realizei um desejo de infância, que era expor na Europa. O resultado foi extremamente positivo, tanto que minha obra entrou para a seleta lista de objetos que serão comercializados. Recebi convites para expor em outros países. Nesta segunda (13), estou viajando para Portugal, em negociações para uma nova exposição. Paris deve ser o próximo destino", orgulha-se.

A foto selecionada - que mostra uma mulher submergindo da água, em busca de liberdade - foi clicada em um ensaio de 2018 e teve com inspiração um relacionamento abusivo vivido pela artista.

Caroline Recla posa para Amanda Bolonha em uma foto da coletânea
Caroline Recla posa para Amanda Bolonha em uma foto da coletânea "Retrato de Vênus" Crédito: Amanda Bolonha

"Fui casada por três anos e meu ex só me deixava ter contato com mulheres. Convivi com meninas que também sofriam violência doméstica. Inicialmente, só via dor nas histórias delas. Depois, a beleza foi aflorando. Fazia a minha casa de cenário para os ensaios", relembra, afirmando que seu trabalho, onde se destaca o nu artístico feminino, versa sobre corpos, autoestima, violência doméstica, racismo e luta contra o machismo.  

Ainda sobre a exposição em Barcelona, Amanda detalha que foi uma das artistas mais novas a serem convidadas na história do evento. "Tenho 26 anos e, normalmente, somente fotógrafas mais experientes, com mais de 30, são lembradas. Muitos curadores e outras fotógrafas ficaram interessados em minhas técnicas de fotografar, além de quererem saber sobre a história de abusos por trás do meu trabalho", comenta, dizendo que "Retrato de Vênus" (a mostra completa, composta por 10 fotografias) foi exposta em Vitória em duas ocasiões, uma delas na programação do Viradão Cultural, em 2019. 

Em outubro de 2022, Amanda deve voltar a Barcelona, onde participará, com a obra "Permanência", do 17º Prêmio Julia Margaret Cameron, também voltado para fotógrafas.

"Acabei de completar a minha graduação em Fotografia e penso em fazer mestrado na Europa. Os caminhos estão se abrindo e sempre acabo me lembrando do início, quando, adolescente, precisava trabalhar para ajudar minha mãe a pagar as contas da casa. O primeiro equipamento fotográfico comprei com a força do meu trabalho. Já fiz um pouco de tudo, de menor aprendiz a vender CDs em sinais de trânsito, mas nunca desisti do meu sonho".

Ambiciosa, a capixaba - que tem como referências artísticas os trabalhos de Felipe Dana e Albert Finch (especialista em nu feminino) afirma ainda ter um desejo a realizar. "Quero me especializar em fotojornalismo e fazer grandes coberturas, como os conflitos armados no Oriente Médio. Sei que, como mulher, tenho mais dificuldades de entrar nesses países, mas não custa nada sonhar, não é?", suspira.

Amanda Bolonha é atuante em causas sociais, ministrando oficinas de fotografia para crianças em bairros de vulnerabilidade social. "Comecei dando aulas em Flexal II (Cariacica). Nunca tive incentivo para fotografar e nem ninguém para me ensinar. Quero que, com os pequenos, seja diferente. Ensinar o meu ofício sempre foi um sonho, sabe? Vivo dizendo que a arte me salvou. Desejo passar isso para as crianças", complementa.    

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