• Aquiles Reis

    Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Cartinha para dois Emerson e suas percussões

Publicado em 08/11/2022 às 17h18

Novembro de 2022


Meus caros Emerson Coelho e Emerson Rodrigues, cheguei até vocês graças a Carina Bordalo, do Núcleo Itaú Cultural. Olha só, cês são bão, véio! Simples assim, diga aí.

Suas percussões me falaram à alma. A criatividade de vocês me ensinou que nada nunca está perdido quando dois nordestinos se ajuntam para mostrar ao mundo a que vieram. A bem da verdade, o povo nordestino sabe a hora e faz acontecer, né? Cês são pernambucanos... adoro Recife. E Olinda? Adolescente, passei carnavais inesquecíveis subindo e descendo suas ladeiras, frevando atrás da Pitombeira.

Ó só, como disse lá no início, fiquei sabendo que o Itaú Cultural lançou "O Som das Baquetas", com seis faixas inéditas e exclusivas, uma delas criadas por vocês e as outras por músicos da nova cena musical pernambucana: Amaro Freitas, Beto Hortis, César Michiles, Henrique Albino e Laís de Assis.

Cara, vocês são o Repercuti! Caramba, o primeiro duo de percussão de Pernambuco lançando o primeiro álbum aos seis anos de carreira – vixe, o bagulho é doido, pai.

Formado por Emerson Coelho e Emerson Rodrigues, duo Repercuti lança disco de percussão sinfônica e sonoridades afro-brasileiras

Formado por Emerson Coelho e Emerson Rodrigues, duo Repercuti lança disco de percussão sinfônica e sonoridades afro-brasileiras. Crédito: JÃO VICENTE/DIVULGAÇÃO

Vejam bem, cês são percussionistas eruditos, bem sei, mas o trabalho é popular pra caramba. O que vocês criam é sinfônico, mas é pop, tem som de maracatu, de tambores, de vibrafone e de marimba – um concertão de som contemporâneo da p.... Lá se ajuntam africanidade e Chico Science, Gonzagão e Ariano Suassuna, Naná Vasconcelos e Villa-Lobos.

E “Pakiparabaki” (Henrique Albino), o que é aquilo, mano? São 9’34’’com Rodrigues no vibrafone, alfaia, caixa, chimbal e no prato, enquanto Coelho tá na marimba e no ilú. Uma pratada de Rodrigues antecede um grito, gritos que seguem intercalados a novas pratadas. Cês dobram a levada... eu “se” agito. Com vozes percussivas, vosmicês cantam em duo e o canto soa em tonalidades sobrepostas. Adorei.

Cês são bons em dinâmicas, sabiam? Voltam as percussões. O coro come. O vibrafone cadencia. Lindão. Improvisos na veia – sabe que senti um lance meio etéreo, mágico mesmo? Uma dinâmica decrescente aponta pro final... Mentira, o coro voltou a comer. A caixa soa, a marimba atordoa, os ouvidos se abrem, parecem querer abocanhar o som. Alegre, solar, a percussão eriça tudo. Meu Deus. Alfaia, caixa e chimbal reacendem o arranjo. E que arranjo!

É, meninos, parece que agora a tampa fecha... Fechou. Mas aí eu cheguei em “Nó de Imbuia” (Laís de Assis). Vocês se alternam na marimba, enquanto Coelho toca o tambor falante. Ah, pra quê, a marimba vem trinando as teclas. Como não quer nada, querendo tudo, o falante se aproxima. O som não tem limite, revoa; musical de tudo, é bem-vindo. Minha alma sorriu, véio.

Coelho esfrega os dedos pela pele do tambor falante... rolando um som meio fretless. O Repercuti é apaixonado – por isso reitero minha admiração pelo que cês fazem. Por sua percussão incendiária e por sua honrada nordestinidade, este velho vocalista, democrata convicto, filho de uma paraibana, os abraça emocionadamente. Sintam-se em meu coração. Muito obrigado!

Este vídeo pode te interessar

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Cultura Música
Viu algum erro?

Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido o possível