Chico Buarque diz que vai parar de cantar música criticada por feministas

Compositor falou sobre 'Com Açúcar, com Afeto', escrita a pedido de Nara Leão, em documentário sobre a cantora

Publicado em 27/01/2022 às 14h57

Chico Buarque afirmou que não vai mais cantar uma de suas músicas mais conhecidas, "Com Açúcar, com Afeto", após ela ser criticada por feministas. Ele falou sobre o assunto no terceiro episódio da série documental "O Canto Livre de Nara Leão", da Globoplay, que narra a história da cantora para quem ele compôs a canção.

"As feministas vão ficar zangadas comigo e com a Nara agora", ele diz. "Ela me encomendou essa música. Disse, 'quero uma música de mulher sofredora'. Me deu exemplos de canções do Assis Valente, do Ary Barroso, aqueles sambas das antigas onde os maridos saíam para a gandaia e as mulheres ficavam em casa sofrendo, tipo 'Ai Que Saudade da Amélia', aquela coisa."

Data: 23/12/2015 - Rio de Janeiro (RJ) - Chico Buarque grava música em apoio as ocupações das escolas de Sao Paulo - Editoria: Cidades - Foto: Fernando Lemos / Agencia O Globo - GZ

Chico Buarque participou do documentário sobre Nara Leão exibido pela Globoplay. Crédito: Fernando Lemos

Chico escreveu "Com Açúcar, com Afeto" para Nara Leão depois de "A Banda", música dele que fez sucesso na voz dela. A faixa criticada pelas feministas saiu em "Vento de Maio", disco que Nara lançou em 1967.

"Ela me encomendou e eu fiz. Gostei de fazer. A gente não tinha esse problema. E é justo que haja. As feministas têm razão, eu vou sempre dar razão às feministas, mas elas precisam compreender que naquela época não existia... Não passava pela cabeça da gente que isso era uma opressão, que a mulher não podia ser tratada assim."

LETRA

No eu-lírico feminino, a letra de "Com Açúcar, com Afeto" retrata uma mulher que fica em casa enquanto o marido, que a sustenta, vive na rua entre bares, saias e praias, bebendo e discutindo futebol. A crítica ao teor machista da composição se dá em relação à condição de subalterna da mulher, que no fim do dia "esquenta o prato" e "abre os braços" para o marido.

"Elas têm razão. Eu não vou cantar 'Com Açúcar, com Afeto' mais, e se a Nara estivesse aqui, ela não cantaria, certamente", diz o compositor na série documental, que também traz uma entrevista em que a própria Nara fala sobre a música.

"Gosto muito de música em que a mulher fica em casa, chorosa, e o marido na rua farreando. Você vê que eu canto 'Fez Bobagem', canto 'Camisa Amarela' e canto 'Quem É'. Gosto muito dessas músicas. Então o Chico fez para mim essa aqui", ela diz, antes de tocar e cantar "Com Açúcar, com Afeto" num programa de TV.

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Com direção de Renato Terra, "O Canto Livre de Nara Leão" acompanha a trajetória de uma das cantoras mais importantes da música brasileira. Dividida em cinco episódios, a série tenta explorar a artista em toda sua complexidade --da inquietação artística à coragem política, passando pela quebra de paradigmas no comportamento.

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