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Publicado em 1 de setembro de 2022 às 16:07
Os números não escondem a desigualdade de gênero, quando o assunto é audiovisual. De acordo com dados de 2017 da Agência Nacional de Cinema (Ancine), só 16% dos filmes lançados no ano, 160 produções, foram dirigidos por mulheres, sendo que nenhuma delas é negra. No Estado, a situação não é muito diferente. Em levantamento feito pela realizadora Maria Grijó, com dados coletados junto a Secult/ES, de 2009 a 2016, 86% dos recursos públicos foram destinados a produções dirigidas por homens.
Com a bem-vinda intenção de dar voz e vez a realizadoras, a 1ª Mostra CineMarias - Corpo é Território acontece de quarta (1) a sexta (3), no Cine Metrópolis (Ufes), com entrada franca. Ao todo, serão exibidas 12 obras que representam a força das produções audiovisuais brasileiras dirigidas por mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-bináries.
A Mostra Capixaba, destinada a obras locais, conta com seis filmes, sendo destaque por sua qualidade técnica e estética. No recorte, temas recorrentes da realidade do universo da mulher, especialmente as periféricas, como solidão, mãe solos, espiritualidade e discurso sobre a ocupação de espaços públicos.
Entre os selecionados, dois títulos são imperdíveis. O primeiro deles, "Maria Tomba Homem", de Cíntia Braga, traz para o formato animação a história de uma das lendárias personagens de Vitória, que chegou a ser eternizada em samba-enredo da Pega no Samba. Cafetina, negra e periférica, Maria lutou contra o racismo, machismo e a violência sofrida pelas mulheres nas décadas de 1960 e 1970. Sua voz ecoou por toda a capital, rompendo os muros de sua "Casa de Tolerância".
Outro destaque recai sobre "Ruína do Futuro", videodança de Dorottya Czakó. O filme mostra uma performance artística aos pés da (eternamente) inacabada obra do Cais das Artes, em Vitória. Em debate, representatividade e empoderamento feminino perante à ocupação de espaços públicos.
O curta-metragem chega em um momento oportuno, quando o Governo do Estado anunciou que pretende, ainda neste ano, conceder o prédio à iniciativa privada, provavelmente para ter sua obra finalizada em meio a imbróglios judiciais que já levam a um atraso de 12 anos. A decisão deixou a classe artística capixaba em estado de alerta.
Os outros títulos do ES participantes da mostra são os documentários "Faz vinte anos", de Tati Franklin; "Riscadas", de Karol Mendes; "Transviar", de Maíra Tristão Nogueira, e a produção de gênero híbrido "Metamorfose Concreta", de Carol Covre, Lara Barreto e Narjara Portugal.
Realizadora audiovisual, Suellen Vasconcelos, uma das curadoras da 1ª Mostra CineMarias, acredita que a seleção propõe uma reflexão sobre a memória social da mulher a partir das experiências de seu corpo individual e coletivo nos espaços que ela ocupa.
"Fomos buscando amarrar os temas tanto de obras que tinham um apelo artístico mais forte, quanto títulos que não tivessem um apuro técnico tão rígido, mas que de alguma forma nos provocam e nos atravessam pela abordagem. Então, um critério muito importante foi a pertinência do tema proposto nas produções e a visão criativa e original das diretoras", destaca.
Além dos curtas-metragens capixabas, a Mostra Competitiva do CineMarias também contará com uma seção de projetos nacionais. Ao todo, serão seis títulos que passeiam entre ficção, documentário e híbrido, originários de São Paulo, Bahia, Ceará e Pará. "A curadoria pensou em contemplar várias regiões, promovendo esse encontro de realizadoras, de modo a abarcar a diversidade de produções para que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer outras culturas", destaca Suellen, que integra a curadoria da mostra composta por três mulheres.
Em ambas as categorias (capixaba e nacional), as realizadoras concorrerão ao troféu CineMarias de Melhor Filme e Melhor Direção, e a escolha das premiadas será feita durante o evento por um Júri Técnico composto por profissionais mulheres do audiovisual capixaba e nacional.
Pensa que acabou? Ainda haverá exibições fora de competição do média-metragem "Ecos da Terra", da capixaba Ursula Dart, e dos longas "Medusa", de Anita Rocha da Silveira, e "Amigo Secreto", de Maria Augusta Ramos, uma das homenageadas do evento.
Na ocasião, também será realizada a Sessão Especial CineMarias, com exibição de "filmes-poesia" produzidos a partir do LAB Audiovisual de 2021 e 2022, um laboratório imersivo de capacitação da área voltado para jovens mulheres, entre 18 e 35 anos, moradoras de comunidades da Grande Vitória. As participantes receberam uma formação básica em roteiro, direção e montagem e ainda uma bolsa-auxílio de R$ 600 para a integrarem a ação educativa.
A ação ainda promove bate-papos, workshops e masterclasses gratuitos durante os três dias do evento. A Gazeta publicou uma matéria detalhando toda a programação, também dando o "caminho das pedras" para fazer sua inscrição para participar dos encontros. Logo no primeiro dia, também conhecido como quinta (1), o Todas Elas, projeto de A Gazeta, abre a programação com um bate-papo sobre Comunicação e Empreendedorismo Periférico para Jovens e Adultos.
Claro que não vai faltar música, bebê! Haverá performances artísticas das capixabas Preta Roots e Morenna e da baiana Assucena.
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