Com promessa de renovação, Grammy tem Olivia Rodrigo na disputa pelos principais troféus

Depois de ser adiada em alguns meses, premiação acontece neste domingo com público e apresentações mais elaboradas

  • LUCAS BRÊDA
Publicado em 02/04/2022 às 12h28
A cantora Olivia Rodrigo no tapete vermelho do Billboard Women in Music Awards

A cantora Olivia Rodrigo no tapete vermelho do Billboard Women in Music Awards. Crédito: Reuters/Folhapress

O Grammy, que acontece neste domingo, está em transformação. Depois de ser adiado em alguns meses, o prêmio mais importante da indústria fonográfica americana este ano voltará a ter público e apresentações mais elaboradas. No ano passado, o evento teve poucos convidados e performances intimistas em razão da pandemia.

Se a última cerimônia trouxe o Grammy de volta aos eixos, valorizando a música em detrimento da falação exagerada e do excesso de homenagens sem propósito, agora a premiação encara um novo desafio, o de voltar a ter a relevância de outrora para a indústria. Este será o primeiro ano do novo comando --formado por Harvey Mason Junior à frente da Academia de Gravação e Ben Winston, da cerimônia-- num evento com público.

E já de cara eles mudaram o Grammy de lugar. Em vez do tradicional Staples Center, em Los Angeles, agora a festa vai até Las Vegas, no MGM Grand Garden Arena. Se o ano passado já trouxe novidades no formato, a 64ª edição da premiação promete aprofundar todas essas transformações.

Entre os indicados, todos os olhos estão em Olivia Rodrigo. Aos 19 anos, ela é a única que disputa as quatro categorias principais --álbum, música (clipe abaixo) e gravação do ano, além de artista revelação-- e deve abocanhar pelo menos uma delas.

Mesmo com apelo diante do público e a forma espontânea e debochada com que retrata a primeira frustração amorosa da artista, o álbum "Sour", da estrela da Disney, não traz grandes revoluções estéticas. Até por isso, é difícil imaginar que ela seja uma nova Billie Eilish, a cantora que aos 18 anos, em 2020, varreu a premiação, levando os quatro prêmios mais cobiçados com o disco "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?".

Eilish, aliás, volta a concorrer a alguns dos prêmios principais, com seu segundo disco, "Happier Than Ever" (ouça abaixo), que, apesar de expandir os horizontes conceituais da artista, não tem a urgência do antecessor. Mas ela já virou queridinha do Grammy, tendo ganhado em gravação do ano --hoje, o prêmio mais cobiçado-- no ano passado com a esquecível "Everything I Wanted". A própria Eilish admitiu ao vivo que quem merecia a estatueta era a rapper Megan Thee Stallion.

O episódio de Eilish com Megan, aliás, foi uma lembrança de como o Grammy ainda pena para reconhecer artistas e a música negra de maneira adequada. Kanye West, por exemplo, concorre a cinco prêmios, incluindo álbum do ano, com "Donda" --um disco que não teve nem de longe o reconhecimento que a discografia do rapper carrega.

A presença de West na cerimônia, aliás, gera alguma expectativa. Isso porque ele teve sua performance cancelada como retaliação ao comportamento errático nas redes sociais, especialmente nos conflitos com Pete Davidson, comediante que namora a ex-mulher do rapper, Kim Kardashian. Depois do tapa de Will Smith em Chris Rock, e considerando o histórico de West, não é difícil imaginar que alguma coisa fora do roteiro aconteça.

Se as indicações a "Donda" soam como uma tentativa de reconciliação da Academia com West --que, vale lembrar, chegou a publicar um vídeo fazendo xixi num Grammy--, a relação da premiação com o mundo do rap continua turbulenta.

Drake, um dos grandes da música mundial que têm criticado sistematicamente o Grammy nos últimos anos, retirou suas faixas que já haviam sido indicadas em categorias de rap. Apesar de não ter dado explicação, o recuo reverbera uma crítica recorrente de artistas negros --eles são indicados a prêmios setorizados, mas raramente concorrem nas categorias gerais, que independem do gênero musical.

Isso é algo que ficou evidente no ano passado, quando Beyoncé bateu o recorde de mulher com mais gramofones da história, um total de 28, mas em duas décadas de carreira ganhou apenas uma vez um prêmio dos chamados "big four", em 2009. Além de tudo isso, há a ausência pesada e significativa de The Weeknd, aclamado por público e crítica nos últimos anos, mas que desde o ano passado boicota o evento e ataca a Academia.

A grande aposta do Grammy no rap é Lil Nas X, jovem de 22 anos que é o rei dos memes e da provocação na internet. O álbum e a música "Montero" aparecem indicados nas principais categorias, e sua presença reforça também as tentativas recentes da premiação de rejuvenescer. Somadas, as idades de Olivia Rodrigo, Billie Eilish e Lil Nas X ainda são 35 anos a menos que os 95 anos de Tony Bennett, que tem seu "Love for Sale", com Lady Gaga, na disputa de melhor álbum.

Entre as muitas mudanças, o Grammy acrescentou duas vagas para indicados nas quatro principais categorias, o que aumenta o número de concorrentes e, também, de celebridades presentes na cerimônia. Vão estar lá alguns queridinhos de sempre, como Taylor Swift, Justin Bieber e Ed Sheeran, além de H.E.R., que vem sendo bastante reconhecida nas edições recentes, e Doja Cat, que tocou em março no Lollapalooza Brasil e é cada vez mais relevante para a Academia.

Mas o músico com mais indicações neste ano é Jon Batiste, um nome pouco conhecido no Brasil. Pianista da banda residente do talk show The Late Show with Stephen Colbert, ele concorre em 11 categorias, incluindo duas das quatro mais importantes, com o disco "We Are". Batiste também pode ganhar em melhor trilha sonora, já que assina as músicas da animação "Soul" ao lado de Trent Reznor e Atticus Ross.

O Grammy não terá mais a apresentação do Foo Fighters, cujo baterista Taylor Hawkins morreu às vésperas de um show em Bogotá e deve ser homenageado. Olivia Rodrigo, Silk Sonic (duo de Anderson Paak com Bruno Mars), Billie Eilish, J Balvin, Carrie Underwood, John Legend e Lil Nas X, entre outros, subirão ao palco da premiação, que também vai comentar a guerra na Ucrânia e terá novamente Trevor Noah como apresentador.

Mas mais do que superar as baixas audiências recentes, o que o Grammy busca é voltar a ser relevante para o público e para o mercado. Will Page, um economista que estuda a indústria da música, disse ao New York Times que nas duas semanas depois da vitória de Adele há dez anos, as vendas do disco "21" renderam US$ 1 milhão para a artista. Enquanto isso, Taylor Swift teve ganhos em torno de US$ 50 mil no mesmo período e após vencer a mesma categoria que Adele, só que no ano passado, com o disco "Folklore".

São números que refletem o consumo de música disperso e pulverizado pela internet, mas também o quanto o Grammy perdeu a importância em termos de respeito do público pelo mundo afora.

  • GRAMMY 2022
  • Quando: No domingo (3), a partir das 21h.
  • Onde: Transmissão da cerimônia no canal TNT.

Este vídeo pode te interessar

A Gazeta integra o

Saiba mais
Cultura Música
Viu algum erro?

Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido o possível