Conheça projeto do ES que promove música acessível para surdos

"Mãos à Obra: Música Acessível" concorre ao 3° Prêmio da Música Capixaba, na categoria "Projetos de Impacto Social Através da Música"

Vitória
Publicado em 23/10/2024 às 13h39
Equipe e telespectadores com a bandeira internacional da comunidade surda.

Equipe e telespectadores com a bandeira internacional da comunidade surda. Crédito: Thais Carletti

O projeto "Mãos à Obra: Música Acessível", idealizado pela produtora cultural capixaba Bella Nogueira, vem revolucionando a forma como a música é apreciada pela comunidade surda. Com o objetivo de promover a inclusão e a acessibilidade, o projeto inverte o protagonismo tradicional na tela, ao destacar os intérpretes de Libras e proporcionar uma experiência única e envolvente. Comemorado recentemente com uma pré-estreia no Cine Ritz Conceição, em Linhares, durante o “Setembro Azul”, o projeto não apenas oferece acesso à música, mas também fortalece a representatividade e visibilidade da cultura surda.

Um dos grandes diferenciais do projeto é a inversão do protagonismo entre músicos e intérpretes de Libras na tela. Enquanto os músicos aparecem no canto do quadro, os intérpretes de Libras ocupam uma posição central, proporcionando uma experiência mais inclusiva para os surdos. A estética minimalista e a legenda bilíngue (Libras/Português) garantem a compreensão integral do conteúdo.

Bella Nogueira compartilha a origem da ideia: "O projeto surgiu inicialmente como um quadro do Canal Explicanção, em 2020, durante a pandemia. Queria fazer uma produção pensada para o consumo do público surdo, que fosse bilíngue e esteticamente atendesse às demandas da Língua Brasileira de Sinais."

Diretora Bella Nogueira

Diretora Bella Nogueira. Crédito: Divulgação / Novelo

Bella Nogueira não é surda, mas conta que foi atravessada, em 2020, pela realidade do público surdo e suas dificuldades em acessar cultura em nosso país. Desde então, dedica-se a criar, produzir e difundir a inclusão das pessoas surdas em ambientes e obras culturais por onde passa. Ela se tornou referência na temática e frequentemente é convidada como consultora e palestrante em diversos eventos, mostras e festivais.

Para garantir a diversidade do projeto, a equipe conta com pessoas surdas. “Enquanto produtora aliada, porém ouvinte, sempre tive esse cuidado e reverência para com a comunidade, consultando, debatendo e buscando entender junto a ela como podemos fazer a cultura chegar efetivamente nessas pessoas”, afirma.

Ela conta que os principais desafios para executar o projeto são entender as necessidades desse público e adaptar a produção com base nelas e não o contrário. “A pauta da acessibilidade sofre com as muitas barreiras que ainda existem ao seu entorno, então difundir esse trabalho tem sido desafiador também”. A produtora compartilhou que a recepção da comunidade surda tem sido ótima, ultrapassando as expectativas.

Equipe projeto Mãos à Obra

Equipe projeto Mãos à Obra. Crédito: Brenda Romanzini

"Quando a gente começa um projeto assim, não se sabe muito bem onde a coisa vai chegar ou mesmo como. Já foram muitos relatos impactantes mas, recentemente, na mostra realizada em Linhares, tomamos conhecimento de três pessoas surdas adultas que nunca tinham ido ao cinema pela limitação comunicacional que esses espaços costumam ter. Saber que fomos a ponte pra que vivessem essa experiência foi muito marcante pra mim"

Impacto positivo

A capixaba Aline Sardice, que é associada da Associação Dos Surdos de Linhares (Assurlin), participou da estreia do projeto em Linhares e contou que ele transformou sua vida. Para Aline, projetos como esse são de extrema importância para garantir acessibilidade, mostrando que todos têm direito a consumir cultura.

“O "Mãos à Obra" quebrou paradigmas para mim, pois eu gosto muito de música. Porém, nós, surdos, não temos acesso a esse conteúdo com tanta qualidade, onde podemos sentir a verdadeira essência que a música quer transmitir. Eu nunca tinha visto o intérprete sendo destaque desse jeito. Essa visibilidade do intérprete em uma tela mais ampliada mostra a importância da nossa língua. Pude sentir a emoção das canções”

“O "Mãos à Obra" quebrou paradigmas para mim, pois eu gosto muito de música. Porém, nós, surdos, não temos acesso a esse conteúdo com tanta qualidade, onde podemos sentir a verdadeira essência que a música quer transmitir. Eu nunca tinha visto o intérprete sendo destaque desse jeito. Essa visibilidade do intérprete em uma tela mais ampliada mostra a importância da nossa língua. Pude sentir a emoção das canções”

Aline Sardice, da Assurlin

De acordo com o IBGE (2021), cerca de 5% da população brasileira é surda. A falta de acessibilidade e inclusão é uma realidade que afeta essa comunidade, dificultando o acesso a espaços culturais e de entretenimento.

Para além das telas

Concorrendo ao 3º Prêmio da Música Capixaba na categoria "Projetos de Impacto Social através da Música", o "Mãos à Obra" também produziu o curta-metragem "O Silêncio Das Mãos Que Falam", que reúne relatos de intérpretes-tradutores atuantes na esfera cultural. O curta, exibido em diversas mostras temáticas e instituições, visa conscientizar sobre a inclusão no setor cultural. As músicas e o curta estão disponíveis no canal do Youtube do “Mãos à Obra: Música Acessível”.

Intérprete Priscilla Muzy

Intérprete Priscilla Muzy. Crédito: Thais Carletti

Além das produções audiovisuais, o projeto promove o curso "Com Acesso, Com Afeto!", formando mais de 30 produtores e gestores culturais em menos de um ano. “A capacitação é essencial para diminuir as barreiras erguidas e garantir que a cultura seja acessível para os mais de 10 milhões de surdos no Brasil”, afirma Bella.

O projeto se mantém através de editais e leis de incentivo à cultura e, o sonho da produtora é que o “Mãos à Obra” cresça e alcance ainda mais gente. “Penso em rodar todo o estado e, quem sabe, o Brasil, levando não só as exibições e mostrando as produções, mas também levando as capacitações", conclui.

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