Da periferia ao pós-doutorado: a história do cineasta capixaba Erly Vieira Jr.

Do Bairro da Penha, em Vitória, ao reconhecimento nacional, a trajetória de superação e sucesso do cineasta que parece história de filme

cineasta capixaba Erly Vieira Jr.

O cineasta Erly Vieira Jr. foi o grande vencedor no Festival Cinema de Vitória 2024. Crédito: Acervo Pessoal

Nascido e criado no Bairro da Penha, em Vitória, Erly Vieira Jr. é um exemplo de que a arte pode transformar vidas. Filho de uma família humilde, ele passou boa parte de sua infância entre o bairro Da Penha, em Vitória,  e Vale Encantado, em Vila Velha. Hoje, com um pós-doutorado e o título histórico de melhor longa-metragem no Festival de Cinema de Vitória, Erly é professor universitário e ajudou a fundar o curso de Cinema na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

"Quando fiz o meu primeiro curta, 'Macabéia' (2000), chamou muita atenção o olhar doce e compreensivo que o filme lançava sobre as periferias", relembra Erly. "Esse olhar vem muito da minha familiaridade com tais espaços e pessoas".

A paixão pelo cinema, no entanto, surgiu de forma tardia. Durante a infância e adolescência, Erly era mais ligado à música e à literatura. "Eu sonhava em escrever. Queria ser algum tipo de cientista, pesquisador, autor de ficção. Algo que parecia distante para um garoto criado no morro", conta. Foi só ao ingressar na faculdade de Publicidade, na Ufes, que ele descobriu a magia do cinema, após assistir ao filme chinês 'Lanternas Vermelhas'. "Eu só conhecia até então os filmes americanos e um ou outro filme nacional que tinha visto por acaso na TV. Foi um choque, para mim, ver uma obra com tantos detalhes, uma narrativa bem pouco previsível, uma cultura tão diferente, o visual, tudo era tão novo e fascinante", lembra.

Um mundo muito rico se abriu para mim naquele momento. Não é um filme que eu gosto tanto hoje em dia, mas naquele momento marcou porque me mostrou que o cinema poderia ser muitas coisas mais

Determinando a romper barreiras, Erly foi o primeiro de sua família a se formar em uma universidade. "Minha mãe fez muitos sacrifícios para criar a mim e minha irmã da melhor forma possível. Ela acreditava muito na educação como algo que mudaria a vida dos filhos ", explica.

Infância de Erly Vieira Jr no Bairro da Penha

Infancia de Erly Vieira Jr no Bairro da Penha. Crédito: Acervo Pessoal

Seu primeiro curta-metragem, "Macabéia", foi um marco, ganhando três prêmios no Festival de Gramado, incluindo Melhor Filme. "Foi um feito até então inédito para o audiovisual capixaba. Raramente um filme daqui conseguia virar notícia e a gente conseguiu isso, ajudando a quebrar uma barreira importante", comemora. Desde então, ele dirigiu diversos curtas e documentários, sempre explorando novas formas de contar histórias. Seu mais recente trabalho, "Presença", aborda a vida de três artistas da performance capixabas e marca seu retorno à direção após mais de uma década focado na pesquisa e na curadoria audiovisual.

“Presença” lançou um feito inédito para os capixabas: pela primeira vez em 14 anos de competição, um longa-metragem produzido no Espírito Santo foi laureado com o prêmio de Melhor Filme pelo Júri Técnico no Festival de Cinema de Vitória. “Creio que esse filme é um ponto de encontro com minhas pesquisas teóricas e o meu estilo pessoal de fazer cinema”, completou Erly.

Trajetória cineasta Erly Vieira Jr.

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bastidores de O ano em que fizemos contato (2010) - foto bianca sperandio
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bastidores de presença dirigindo rubiane maia (2020, foto por Luara Monteiro)
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bastidores de presença  (2020, foto por Luara Monteiro)
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Incentivador da cultura

Além de cineasta e professor, Erly é um grande incentivador da cultura no Espírito Santo. O cineasta já escreveu quatro livros dedicados à memória do audiovisual e das artes capixabas. Ele também atuou como curador de diversos festivais de cinema.

Ele também destaca a importância do investimento na cultura e no cinema. "A cultura é a expressão de um povo e de sua diversidade. O audiovisual é central nesse processo. Faz-se cinema no Espírito Santo há quase cem anos, e ele se tornou mais diversificado e inclusivo nesses últimos dez," ressalta.

Erly Vieira Jr, Virgínia Jorge e Lizandro Nunes no set de gravações do filme Macabéia

Erly Vieira Jr, Virgínia Jorge e Lizandro Nunes no set de gravações do filme Macabéia. Crédito: Acervo Pessoal / Roberto Burura

De acordo com o cineasta, existe uma produção bastante rica no Espírito Santo, mas que ainda hoje, como boa parte do cinema brasileiro, encontra dificuldades em chegar a públicos maiores. Para ele é necessário um investimento geral para se criarem e fortalecerem os diversos canais de difusão do audiovisual brasileiro, especialmente o independente, para fazer com que os filmes, séries, videoclipes,entre outros, sejam mais conhecidos pela população.

“O investimento público em audiovisual também precisa ser ampliado e ter os valores atualizados para os dias de hoje. Lembro aqui que investir dinheiro público em cultura é gerar empregos diretos e indiretos, fomentando a economia e dando um retorno impressionante”, completou.

Erly conclui dizendo que "o audiovisual transforma nosso imaginário coletivo. Que venham mais e mais filmes capixabas, e que eles cada vez mais cheguem a nós e ao mundo".

A trajetória de Erly Vieira Jr. não apenas reflete a transformação pessoal, mas também a evolução do cinema no Espírito Santo. Com uma visão sensível e comprometida, ele continua a inspirar jovens cineastas e a fortalecer a produção audiovisual local.

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