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Publicado em 1 de março de 2023 às 15:54
Detentas da Penitenciária Feminina de Cariacica, no bairro Bubu, participarão de oficinas de crônicas por meio das quais produzirão textos a serem publicados em um livro, as quais serão selecionadas por um júri composto por escritores capixabas. A iniciativa, oriunda do projeto intitulado “Elas por Elas: um lugar de – e que – fala” busca descobrir talentos literários entre as mulheres privadas de liberdade e tem sua realização possibilitada pelo Edital 002/2021 (Diversidade Cultural) da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). As oficinas acontecerão nos dias 6, 13, 20 e 27 de março.
A proponente do projeto, a ativista de direitos humanos (em especial do segmento LGBTQIAP+), escritora e integrante da Academia Cariaciquense de Letras (ACL), Kátia Fialho, afirma que o projeto busca chamar atenção para a realidade dessas mulheres, “que são invisíveis para a sociedade”, e oportunizar a elas o direito ao acesso à cultura. As oficinas serão ministradas por Kátia e, também, pela jornalista, escritora e integrante da ACL, Elaine Dal Gobbo.
Parte da tiragem do livro será destinada às detentas que participarão das oficinas, outra parte será vendida ao público em geral. A obra contará, ainda, com crônicas de autoria das oficineiras, que terão como base suas experiências no trabalho desenvolvido dentro da Penitenciária Feminina de Cariacica.
As oficinas de crônica serão precedidas pelas de leitura, nas quais será feita uma leitura coletiva e participativa de trechos do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, tendo como objetivo a formação de leitoras e, também, a oportunidade de proporcionar às detentas o acesso à literatura brasileira – em especial, a produzida por uma autora negra e periférica, realidade que se assemelha àquela vivida na pele pela maioria das mulheres em privação de liberdade.
"Quarto de Despejo" foi publicado em 1960. Nele, consta parte do diário da autora, no qual narra suas vivências na Favela do Canindé, em São Paulo, como o dia a dia de sua profissão de catadora de papel, a relação com a vizinhança, a experiência de ser mãe e, também as dificuldades pelas quais passa juntamente com o restante da comunidade, como a fome, a precariedade habitacional, a falta de saneamento básico e outros problemas oriundos da ausência do poder público na favela, que ela denomina como “quarto de despejo”.
“As oficinas, a possibilidade de fazer com que as detentas se expressem, são fundamentais para desmistificar o local onde elas estão, que também é um lugar de fala. Quem sabe, por meio desse projeto, nós não tenhamos a grata surpresa de descobrir uma nova Carolina Maria de Jesus entre elas?!”, projeta Kátia.
Nas oficinas de leitura, após contato com trechos de Quarto de Despejo, será estimulada a participação das mulheres por meio do compartilhamento de impressões, interpretações e assimilações, fazendo uma ligação entre a obra e a realidade delas.
*Com informações da assessoria
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