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Publicado em 25 de abril de 2022 às 08:00
Conhecido no meio artístico como "Professor", Cauby Peixoto era um artista mais que completo. De voz doce e aveludada - e dono de um timbre marcante -, o cantor carioca ganha vida e voz na interpretação de Diogo Vilela no espetáculo "Cauby, uma Paixão", que será encenado no Centro Cultural Sesc Glória (Vitória), nesta sexta (29) e sábado (30).
A montagem, que marca a volta do Circuito Cultural Unimed após dois anos sem espetáculos presenciais no Estado, propõe uma adaptação do musical "Cauby, Cauby", estrelado em 2006 pelo próprio Vilela.
A nova roupagem, também assinada por Flávio Marinho (autor do texto original), enfileira alguns dos clássicos do repertório de Peixoto (1931-2016), como as inesquecíveis "Conceição" e "Samba do Avião", mesclando canções e histórias que marcaram a trajetória do homenageado. O clima é como se o artista dialogasse com a plateia contando suas experiências de vida, com lembranças por passagens da infância em Niterói (Rio) ao estrelato nacional.
De talento inquestionável, sensibilidade e apuro vocal, Diogo Vilela - que levou o Prêmio Shell de Melhor Ator pelo papel - não poderia ser melhor escolha para viver Cauby nos palcos. O ator se entrega de corpo e alma para encarnar um personagem que marcou história na música brasileira. Tanto Cauby como Vilela são joias que a arte brasileira lapidou.
"Essa nova versão é um pouco mais intimista, sabe? Cauby fala de impressões de vida, sobre amor, dores e solidão, além de cantar, é claro!", pontua Diogo Vilela, suspirando antes de complementar sua linha de raciocínio. "Aprendi a me transformar em Cauby Peixoto nesse tempo todo. Quando entro no palco, me desligo do mundo e tento viver intensamente essa experiência", reflete, versando sobre a importância do ato de atuar.
"Ser ator para mim é isso (suspira novamente), é exercer o máximo da minha profissão. É um ofício em que me sinto ligado desde a infância, pois comecei aos 11 anos, passeando pelos bastidores da televisão", rememora.
Voltando a "Cauby, uma Paixão", que conta com figurinos doados pelo próprio cantor, incluindo seu inconfundível terno de paetês (seria Cauby o nosso Liberace?), Diogo Vilela relata a sensação de dever cumprido ao saber que o cantor carioca assistiu algumas vezes a primeira versão do texto, sempre aprovando a montagem.
"Ele foi uma pessoa discreta e educada. Nunca deu detalhes, fez exigências ou pediu alguma alteração. Dizia, em todas as ocasiões, que tudo estava muito bonito, elegante e sofisticado", relembra Diogo, relatando sua árdua preparação para interpretar um dos astros mais populares da MPB.
"Estudo canto com o professor Victor Prochet há mais de 20 anos. Comecei as aulas quando estava interpretando Nelson Gonçalves no teatro (em "Metralha"). Prochet afirma que possuo uma extensão vocal de cantor lírico, com técnica em que consigo 'dobrar a voz', o que deixa o meu tom parecido com o de Cauby", enfatiza o ator, que dividirá o palco com o baterista Charles Rock, o saxofonista Fernando Trocado e o maestro Roberto Bahau. A direção musical fica a cargo de Liliane Secco.
Com sessões exibidas virtualmente, por conta da pandemia da Covid-19, "Cauby, uma Paixão" está "vivendo" suas primeiras experiências com plateia cheia. E, para Vilela, a sensação é sempre única.
"Para um artista, estar no palco é como estar em sua própria casa", analisa, revelando o desejo (ou seria mostrando preocupação?) de ver mais jovens frequentando teatros.
"Os mais jovens estão se 'adaptando' às imagens gravadas das redes sociais, que refletem somente a eles e as suas realidades, ou seja: estão se condicionando a ver apenas o que estão mostrando, o que chega pronto para ser digerido. Temos que resgatá-los e estimulá-los a usar mais a imaginação, o que sai da alma. Nada como o teatro para proporcionar isso", filosofa.
Cheio de projetos, incluindo uma série da Amazon Prime Vídeo, "Eleita", com Clarice Falcão, que estreia em outubro, e a obra literária "O Novo Normal", que escreve em parceria com Leonor Sampaio, Diogo Vilela mostra-se atento com os rumos que as políticas culturais estão sendo conduzidas no Brasil.
"O Brasil está sofrendo um retrocesso em suas políticas culturais. E isso é preocupante, pois a cultura é uma necessidade e não uma futilidade. Amo meu país e torço para que possamos voltar a evoluir. Estão implementando uma política de 'involução' e um desmonte cultural muito grave, que precisa ser revisto o mais rápido possível", complementa.
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