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Publicado em 22 de fevereiro de 2023 às 09:58
Sonhador, teimoso e curioso. São essas as palavras que Dave, Oli e Jooj usam para se definirem, respectivamente. Características que os três buscam equilibrar e que estão por trás do sucesso do Natu Rap. Juntos, os irmãos têm bombado na internet e conquistado o mundo da música.
Filhos de um motorista de ônibus e caminhão e uma pedagoga, os irmãos Natu trazem para as suas produções referências dos lugares em que nasceram e cresceram, buscando alcançar mais jovens como os que eles foram um dia.
Do nada ao tudo, como faz referência o nome Natu, os três saíram da comunidade de Sol Nascente, em Brasília, e foram tentar conquistar espaço no cenário musical em São Paulo, no ano de 2020, graças ao apoio da mãe. Desde então, reúnem mais de 57 mil ouvintes mensais, em plataformas como o Spotify, além de milhões de seguidores nas redes sociais.
Em entrevista com 'HZ', Dave, Oli e Jooj contaram um pouco da trajetória deles, que começou em 2013, e o que eles esperam alcançar com a arte que produzem.
A identificação com o rap foi pela relação do estilo musical com as origens. "A gente sempre morou na periferia e na periferia sempre foi o rap que comandou. Na época, também estava muito 'estourado' o hip hop na gringa, tinha muita coisa nova aparecendo. Mas eu acho que a questão do hip hop, realmente, e do rap foi mais pelo que a gente habitava mesmo, cultural", contou Dave.
Aos 32 anos, Dave Natu é o mais velho dos cinco irmãos e foi quem trouxe para dentro de casa as referências musicais que o trio carrega até hoje. Foi dele, inclusive, que nasceu um dos maiores traços de personalidade do trio: o cabelo colorido. Durante a conversa, ele diz que nunca pensou em ser nada além de artista.
"Nunca quis ser nada além do que eu sou. Nunca passou nada na minha cabeça, além do que eu queria fazer. Nessa época, era muito - ainda é, mas na época era muito impossível, mesmo, porque você não tinha ninguém para se espelhar, entende? Na família, não conhecia ninguém. Você não conhece um artista de forma alguma. Então, realmente, era muito impossível, mas sempre foi o que a gente quis", relatou.
Oli Natu, hoje com 29 anos, também quis traçar um caminho que o levasse para a música. Vendo o irmão mais velho escrever poesia, também começou a escrever. Entre 2013 e 2020, quando ele e Dave começaram a produzir arte, trabalhou em outras áreas para investir na música.
Já o Jooj, de 24 anos, ficou observando os irmãos produzirem música no quarto e se encantando, até ser convidado para formar com eles o trio Natu Rap.
"Eu me peguei escutando muito as músicas deles. No começo, não escutava, não apoiava a música (risos). Depois eu comecei a escutar muitas músicas e achar muito 'da hora'. E aí, em uma época que eu estava muito triste, eu fiz uma música e mostrei para eles na manhã seguinte - eu acho. Eles acharam a música legal e falaram para entrar para o grupo. 'Sim ou não?' Eu falei que sim. Foi meio que um pontapé", contou Jooj.
Colocando o que eles sentiam nas músicas que escreviam, buscaram transformar a realidade que viviam e também inspirar outros jovens.
"Nós gostamos de sensações, desde a sensação boa até aquele abraço quando você ouve uma música triste e sente que alguém te entende. Mesmo que às vezes não diga exatamente o que você quer, tem aquela batida, toda aquela aura por trás. Gostamos de passar emoções para as pessoas só sentirem nos momentos", detalhou Jooj.
"Eu sinto que a música funciona meio como um 'check point' de algum momento da vida. Às vezes, eu escuto uma música do Charlie Brown e me lembra de quando eu estava indo pra escola de 'bike'. Então, se nós conseguirmos estar em algum 'check point' da adolescência ou de uma época da vida boa ou difícil de uma pessoa, que depois conseguiu melhorar, nós ficamos felizes por marcar a vida dessa pessoa de um jeito positivo. Queremos fazer parte desse 'check point' da vida das pessoas", complementou Oli.
Com os objetivos definidos e percebendo que, em Brasília, não tinha o espaço que queriam para crescer, os irmãos Natu decidiram ir para São Paulo, em 2020, com o incentivo da mãe. Nessa época, eles começaram também a investir nas redes sociais de forma orgânica para que ganhassem atenção na música.
O crescimento na internet foi exponencial, o que impactou também na ascensão no rap. Acumulando milhares de seguidores no TikTok e Shorts do YouTube, criaram o próprio podcast ao mesmo tempo em que iam desenvolvendo seus trabalhos artísticos. Como resultado, conseguiram alcançar um dos objetivos e transformar a realidade da família.
Dentro de casa, por exemplo, o irmão mais novo já tem em quem se inspirar para poder ser o que quiser — diferente dos três irmãos que não tinham uma inspiração tão próxima.
"Ele tem a vida que nós não tivemos. As oportunidades e os locais que nós não pudemos habitar quando tínhamos a idade dele. Eu não quero pressionar ele a fazer nada, mas nós ficamos observando, como observamos o Jooj. Hoje, por exemplo, ele estava no quarto desenhando. E não é tipo: 'Pô, mano, 'da hora' esse desenho, faz esse aqui então'. É mais de poder guiar para ele fazer o que quiser fazer", disse Oli.
O sucesso eles reconhecem quando se apresentam e percebem, de cima do palco, que alguém foi tocado pelas canções, como foi desde o começo do trio.
"Sucesso é quando você sobe no palco para poder cantar e olha lá de cima que tem uma pessoa que te conhece. Você olha nos olhos dela e consegue reconhecer que ela te conhece e você nunca viu, mas ela está muito emocionada, cantando a sua música que você fez no quarto sozinho. E ela sabe cantar do início até o fim. Acho que isso é sucesso, a pessoa saber cantar a letra que você escreveu ali no seu momento de intimidade. E que, agora, faz parte dela, não é mais seu", destacou Dave.
Mesmo com toda a atenção nas redes sociais, é na música que os irmãos estão focados. Vindos do "nada", e cientes do reconhecimento que estão conquistando, eles planejam produzir até chegar no "tudo": carreira internacional.
"Antes, nós queríamos conseguir executar a nossa música, contratar um cara que filmasse. Nós queríamos essa possibilidade, e nós conseguimos. Agora, nós queremos fazer tocar uma música em um navio, fazer um show na gringa. Nós queremos fazer nossa música tocar independente do lugar. Conversar com as pessoas escutam nossa música e nem saibam nossa língua", contou Oli.
Com um "corre" menos apertado do que o que eles tiveram que fazer, entre 2013 e 2020, quando juntavam economias para investir na arte, os irmãos vêm se dedicando ao Rap Natu para que possam abrir mais portas a outros irmãos, como eles. Com a música, eles tentam cumprir com o maior objetivo do rap: transformar a realidade da periferia e inspirar outros jovens a sonharem. E eles vêm conseguindo.
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