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Publicado em 26 de setembro de 2023 às 18:50
Um pedido de socorro em formato de grito político e social sobre a necessidade de preservação e recuperação do Rio Marinho. Embarcando no (acertado) resgate de memória afetiva, o documentário "Marinho", do capixaba Farid Sad, ganha exibição gratuita nesta quarta (27), às 19h, na Casa de Cultura Sônia Cabral, em Vitória.
Inspirado em "Lembranças do Rio Marinho", escrito pelo mestre em Arquitetura e Urbanismo, Juliano Motta Silva, que participou da produção como consultor, "Marinho" propõe uma jornada destacando a importância do curso de água - que marca a divisa entre Vila Velha e Cariacica - para o desenvolvimento econômico da Grande Vitória e seu impacto nas comunidades do entorno.
Com imagens e depoimentos líricos e sentimentais, Farid relata que o leito foi importante reduto de lazer de moradores de bairros próximos, como Cobilândia (Vila Velha), entre os anos 1940 e 1950. Com a especulação imobiliária causada pela instalação de grandes indústrias na área, e o descaso do poder público, o Rio Marinho foi padecendo, "morrendo" entre lixo e esgoto desordenado, especialmente a partir da década de 1970. Uma degradação que soa como luta praticamente perdida.
"Cresci em Cobilândia. Era vizinho de muro do Juliano Motta. Quando criança, costumávamos brincar de bicicleta até a margem do rio, que se transformou em valão. Crescemos ouvindo histórias de pessoas, como o pai de Juliano, que nos contava sobre a época em que mergulhava e pescava no leito. O filme nasceu da necessidade de resgatar essas histórias, como também expressar meu amor pelo audiovisual", afirmou Sad, formado em Engenharia Sanitária e Ambiental, portanto, preocupado com a necessidade de preservação dos recursos hídricos.
Filmado com recursos próprios, sem apoio de lei de incentivo cultural, "Marinho" começou a ser rodado em 2020, no auge da pandemia da Covid-19. "Uma das preocupações era conseguir resgatar - em meio ao risco sanitário - a história de amor de pessoas, na época idosas, com o rio. Temos depoimentos como os de Dona Ignacinha e Seu Joaquim. Eles tinham uma conexão forte com o Rio Marinho e ansiavam por sua restauração. Ela relembrou seu primeiro banho, como também o uso da água para regar plantas. Seu Joaquim, por outro lado, relatou sobre como tirava o sustento da família por meio da pesca", informou o realizador, dizendo que os entrevistados nos deixaram em 2023.
"Ele morreu em maio e ela mais recentemente. Ambos serão homenageados durante a sessão especial no Sônia Cabral", acentua Farid, complementando que "Marinho" traz comentários do historiador Fernando Achiamé sobre o contexto histórico da época, além da perspectiva de especialistas que discutem tanto a viabilidade como a importância da recuperação do rio. São contribuições que fornecem uma base para compreender como e por que é possível restaurar o equilíbrio ecológico e socioeconômico do Rio Marinho.
"Achiamé contribuiu com dados relevantes. Ficamos sabendo que o rio contou com a primeira obra de transposição de água no Brasil, em 1712, em projeto desenvolvido por Jesuítas. Curiosamente há uma dúvida, pois muitos historiadores defendem que a obra foi construída por fazendeiros da região, em 1716", explica o realizador, informando, ainda, que o filme relembra (ou tenta recuperar) nomes que moradores davam para várias curvas do rio.
Questionado se seu documentário possui a capacidade de levantar debates sobre um futuro projeto de recuperação do Marinho, Farid foi enfático ao dizer que sim, mas ressalta que falta interesse do poder público para isso.
"Obras de saneamento básico não trazem voto. Afinal, são pouco visíveis e normalmente escondidas pela terra. Ao contrário de praças, por exemplo, que trazem muita visibilidade, especialmente em épocas de eleição", espinafra o realizador, afirmando que a recuperação do Rio Marinho poderia ser benéfica para valorizar as moradias do local, como também economizar com gastos públicos em saúde. Afinal, um rio urbano tratado afasta doenças de veiculação hídrica.
Produzido pela Kambaku, "Marinho" contou com direção, produção e montagem de Farid Sad; direção de fotografia de Matheus Washington; Ana Júlia Chan, como assistente de direção; e participação do cineasta Kledson Ramos, que também é Engenheiro Sanitário. A ideia, segundo Sad, é fazer com que o filme circule festivais nacionais e internacionais antes de embarcar no circuito comercial. Para isso, está investindo no processo de legendagem em inglês e, futuramente, deve fazer o mesmo com a língua espanhola.
"Mesmo com a equipe custeando a produção, ainda temos gastos com legendagem, inscrições em festivais e trilha sonora, por exemplo. Para isso, criamos um financiamento coletivo visando arrecadar R$ 9,990 mil", detalhou. Para participar, basta acessar o site Vakinha doando qualquer quantia. Além disso, materiais promocionais relativos ao filme, como ecobags, estão sendo comercializadas nas sessões especiais.
"É um filme urgente e de um caráter social. Estamos em 2024 e ter um esgoto matando um rio que está ao nosso lado é inaceitável. Queremos que o filme levante na plateia a necessidade de cobrar dos órgãos públicos a recuperação dos rios urbanos", complementa.
Em tempo: além de realizador, Farid Sad também é ator. Recentemente, chamou a atenção por marcar presença na segunda temporada de "Dom", série da Amazon Prime. "Tem mais dois projetos engatilhados para o streaming em 2024. A série 'Os Parças', com Whindersson Nunes, na Globoplay, e um projeto de Miguel Falabella para a Disney Plus, 'O Som e a Sílaba'. Tem mais coisas em negociação. Ainda sonho em trabalhar apenas com o audiovisual, minha grande paixão".
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