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Publicado em 23 de abril de 2024 às 20:37
Dois amigos que cresceram juntos uniram suas formações e talento para contar a história e clamar por socorro por um rio que não tem voz. Com isso, criaram o documentário "Marinho". Por meio de depoimentos de moradores da região próxima do Rio Marinho, que marca a divisa entre Vila Velha e Cariacica, a obra resgata a memória do local e agora ganha o mundo sendo selecionada pelo First Time Filmmaker Sessions - Off Global Network, um festival com sede em Londres.
O documentário é inspirado no livro "Lembranças do Rio Marinho", escrito por Juliano Motta, mestre em arquitetura e urbanismo, que fez a dissertação de especialização sobre o rio e a sua relação com a cidade. A dissertação foi concluída em 2017 e, no ano seguinte, o projeto foi selecionado em um edital para lançamento de livros de autores estreantes.
A ideia do livro, segundo o autor, era identificar em que medida as populações do entorno foram perdendo o contato com o rio. "Anos atrás, as pessoas nadavam, pescavam, lavavam roupas, captavam água para consumo próprio, utilizavam esse rio para transporte por meio de canoas. E com o 'progresso' e a urbanização, esse rio foi caindo no esquecimento, sendo que hoje muitos o chamam de valão e nem sabem seu nome ou sua riquíssima história", destaca.
Farid Sad, amigo do autor, que é engenheiro sanitarista e ambiental, mas em paralelo também ator e produtor, leu o livro durante um dos seus embarques para plataforma, a trabalho. De lá, quando terminou a leitura, entrou em contato com Juliano e sugeriu que fizessem o documentário com desejo de resgatar a memória afetiva do local.
Com isso, em meio a pandemia, segundo o autor, com medo de não ter as mesmas pessoas para entrevistar, sendo algumas delas bem idosas, as gravações foram iniciadas. Todo o percurso desde as gravações até montagem do filme, feita por Farid e Matheus Washington, perdurou dois anos. A estreia do documentário foi feita 5 de junho de 2023, Dia do Meio Ambiente, no Cine Metropolis.
A produção foi feita de forma voluntária e demorou cerca de dois anos para ser finalizado. O documentário, feito pela Kambaku, produtora de Farid, também traz pessoas com formação técnica na área para contribuir com o conteúdo. O filme tem poemas e a figura de uma criança com vestido branco. A narração das poesias ficou por conta da cantora capixaba Elaine Augusta.
"Foi um trabalho de muito amor, verdade e entrega, apesar da falta de dinheiro. Consegui reunir amigos para fazer esse documentário. Uma coisa que emociona muito a gente é que tem uma moradora do livro do Juliano que a gente filmou e ela, Dona Ignacinha, aos 95 anos, fala de forma firme que vai ver o Rio Marinho como era antes. Até a estreia a gente perdeu alguns personagens, como essa moradora, e fizemos uma homenagem na estreia", destaca o diretor do documentário Farid Sad.
Farid explica que quando pensou em fazer a obra teve o intuito de ajudar na recuperação desse rio. "A verdade é que nosso sonho, acima do cinema, acima da arte, é comover corações para que as pessoas possam conhecer a história do Rio Marinho e a gente consiga recuperar esse rio porque é uma decisão meramente política", garante.
O documentário teve que ser legendado para chegar no festival endereçado em Londres. "O fato de estar em um festival é um baita prêmio. São filmes do mundo inteiro. É muito gratificante ver esse filme de um Rio Marinho, em Cobilândia, de um sonho de duas crianças, nesse festival", destaca.
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