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Publicado em 29 de abril de 2023 às 10:00
Produzido e tendo como um dos apresentadores o pesquisador Tarcísio Faustini, o "Domingo Brasil" - no ar na Rádio Universitária FM - há 30 anos nos presenteia com o que de melhor é produzido pela Música Popular Brasileira.
Para celebrar a data, a atração preparou um show especial relembrando faixas que se destacaram em festivais a partir dos anos 1960. O espetáculo acontece no Teatro da Ufes (Vitória), quarta-feira (3), a partir das 20h, com entrada franca. Os convites poderão ser retirados na bilheteria do espaço, no dia do evento, das 14 às 18 horas.
A noite contará com habituês do "Domingo Brasil". O mestre de cerimônias, por exemplo, será o jornalista Jace Theodoro, que apresentará seu quadro "Tirando de Letra", em que ele traz interpretações de letras marcantes da música popular nacional.
As canções serão interpretadas por Eliane Gonzaga (também apresentadora da atração) e Marcus Paulo - com participações de Andréa Ramos e Márcia Chagas - e pelo convidado Carlos Papel. Nos instrumentos, Chico Chagas (baixo, teclados e acordeom, além de assinar a direção musical); Dhyego Damasceno (bateria); Edu Szajbrum (percussão); Marcus Paulo (violão e clarinete); Renato Franco (sax e flauta), e Roger Bezerra (teclados e baixo). Só gente bamba!
"O show será focado nos festivais que aconteceram entre os anos 1960 e 1980, mesclando o universo de grandes músicas, numa sucessão de gerações de compositores da maior importância, especialmente quando a música era motivo de discussões apaixonadas", suspira, com nostalgia, Tarcísio Faustini.
"Teremos uma seleção de composições que se destacaram nesses eventos e não necessariamente foram as vencedoras. Há o caso, por exemplo, de "Fato Consumado" (video abaixo), que Djavan apresentou em uma mostra de 1975, ficou em segundo lugar, e continua cantada até hoje. Poucos se lembram da vencedora, "Como um Ladrão", de Carlinhos Vergueiro. Também vamos relembrar faixas que não foram bem aceitas pelo público naqueles momentos. A participação de Carlos Papel, que se destacou em dois festivais importantes, um capixaba e outro nacional, faz parte da história que queremos contar".
Voltando ao "Domingo Brasil", apresentado aos domingos (claro!), das 10h às 12h, em que Tarcísio divide a bancada com Eliane Gonzaga, a atração - que chega a três décadas no mesmo 3 de maio em que será realizado do show - utiliza-se de uma extensa pesquisa de acervo bibliográfico, incluindo LPs, CDs, Mds, fitas cassete e DAT, para compor sua programação semanal.
Em tempo: os programas ficam disponíveis para audição ou download na internet (ouça aqui), transformando a atração em um grande acervo da música brasileira.
A interação com os fiéis ouvintes é feita por telefone e pelas redes sociais. Eles também ajudam a compor os programas, que, normalmente, contam com edições temáticas. Muitos contribuem com gravações, enriquecendo ainda mais o acervo.
Também há quadros fixos, transformando a atração em uma grande "revista radiofônica". Além da já citada participação de Jace Theodoro, também são transmitidos "Então Foi Assim", com Ruy Godinho desvendando os bastidores da criação musical brasileira; "Cinetemas Brasil", com a música em destaque no cinema, com comentários de Haifa Sawaya, e "Momento Instrumental Brasileiro", sempre destacando grandes músicos nacionais.
Conversando com Tarcísio, logo vêm à mente: como explicar a longevidade do programa, especialmente em uma indústria fonográfica em constante ebulição? O pesquisador cita, como um dos exemplos, a capacidade de adaptação do "Domingo Brasil" a essas mesmas mudanças.
"Os primeiros (programas) foram feitos a partir da minha coleção de discos de vinil e uns poucos CDs, porque havia poucos exemplares de música brasileira, só coletâneas. Depois houve uma curta fase de minidiscs (MDs) e fitas DAT (digital áudio tape), até chegarmos às plataformas digitais que prevalecem atualmente. Tentamos nos adaptar, sempre", explica.
Por falar em transformação, muita coisa se modificou na MPB em três décadas, especialmente no quesito estilos musicais. Faustini destaca, mesmo com ressalvas, a facilidade de acesso à música, tanto para o consumidor como para quem a produz.
"Na música nacional, como na mundial, as mudanças se devem à maior facilidade de gravação, independente das grandes gravadoras, e ao aumento da oferta de produtos, o que pode confundir um pouco os consumidores. Se essa 'independência' foi positiva para a criação, a falta do apoio das empresas acabou tornando inacessível recursos de produção e divulgação para os iniciantes, inclusive arranjadores, orquestras e produtores musicais. Como a forma de fazer e ouvir música mudou, o objetivo de algumas criações musicais passou a ser o entretenimento em vez da obra de arte", aponta, em tom de desabafo.
Voltando ao "Domingo Brasil", fizemos a memória afetiva de Tarcísio Faustini "trabalhar". Nesses 30 anos, qual seria o convidado - ou a entrevista - que mais marcou, se for possível escolher, claro?
"A primeira entrevista mais longa foi inesquecível. Nos primeiros anos, havia poucos CDs dos artistas capixabas em atividade. Então, para falar deles, criei o quadro 'As Preferidas dos Músicos'. Nele, eles se apresentavam, eu levava um pequeno gravador de fita cassete e pedia para indicarem quatro músicas brasileiras da sua predileção. Um dia, uma amiga ligou para a rádio perguntando se eu gostaria de entrevistar Zé Kéti, que estava hospedado na casa de uma conhecida. Claro que me interessei. Fui para lá correndo, imaginando o que deveria perguntar", responde o pesquisador, pausadamente, mantendo a linha de raciocínio.
"Não precisei falar quase nada. Ele falou quase uma hora, contando sua história e cantarolando trechos dos maiores sucessos. Editei a entrevista, acrescentando gravações das músicas que ele citou. Isso deu as duas horas de programa do domingo seguinte. Terminada a transmissão, ele me liga, aos prantos, emocionadíssimo, e pedindo uma cópia da gravação. Fiquei muito feliz em lhe proporcionar essa alegria e ter esse registro histórico", complementa Tarcísio, sem esconder a emoção.
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