"É uma emoção intensa", diz Erly Vieira sobre prêmio no Festival de Vitória

Em um feito histórico, o cineasta capixaba é reconhecido no 31° Festival de Cinema de Vitória com "Presença". Confira a entrevista exclusiva do diretor para HZ

 Erly Vieira Jr e Úrsula Dart

Erly Vieira Jr e Úrsula Dart: ele foi premiado no Festival de Vitória. Crédito: Vikki Dessaune Acervo Galpão_IBCA

Pela primeira vez em 14 anos de competição, um longa-metragem produzido no Espírito Santo conquistou o prêmio de Melhor Filme pelo Júri Técnico no 31º Festival de Cinema de Vitória. "Presença", dirigido por Erly Vieira Jr., não só conquistou este prestigiado prêmio, mas também venceu em várias outras categorias, incluindo Melhor Roteiro e Melhor Contribuição Artística.

Levar um prêmio já seria uma vitória tremenda, imagina levar quatro então, ainda mais sendo meu primeiro longa-metragem

Ele destacou que o sucesso de "Presença" é resultado de um esforço coletivo de muitas gerações de talentos capixabas, e dedicou o prêmio a todos os filmes locais que ajudaram a abrir caminho para essa conquista. Confira a entrevista completa:

Como você se sente ao receber o prêmio de melhor longa pelo júri técnico?

É uma emoção intensa, especialmente pelo fato de ser a primeira vez que, em 14 anos de mostra de longa, um filme daqui do Espírito Santo conquista o prêmio. Nos últimos cinco anos, o cinema capixaba entrou numa fase de grande repercussão dentro do cenário nacional, com vários curtas e longas sendo exibidos e premiados em grandes festivais nacionais e estrangeiros – e, diferente do começo dos anos 2000, quando os filmes daqui começavam a acontecer timidamente no cenário nacional, a novidade é justamente serem tantos filmes acontecendo e repercutindo ao mesmo tempo.

Então, o “Presença” é fruto desse momento que vem sendo construído por tantas mãos, das mais diversas gerações, tanta gente talentosa trabalhando muito e fazendo filmes belos e instigantes. Por esse motivo que dediquei esse prêmio a todos os outros filmes locais que concorreram em anos anteriores, e que ajudaram a abrir caminho para este filme e para muitos mais que virão.

Além disso, não se faz um longa-metragem sozinho. Eu tive a honra de contar com uma equipe maravilhosa, que participou intensamente de várias etapas do processo criativo, e a dedicação dessas pessoas tá ali, transbordando em cada segundo do filme. E destaco ainda os três artistas abordados pelo documentário: Marcus Vinícius, Rubiane Maia e Castiel Vitorino Brasileiro, pela força de suas obras, que me moveram a fazer esse filme, e pela generosidade na partilha de seus processos criativos e em confiar seus trabalhos para que eles pudessem ser a matéria-prima do “Presença”.

Além desse, o seu filme recebeu várias outras premiações. Você esperava receber tantos prêmios?

Mesmo trabalhando na área audiovisual há uns 25 anos, eu confesso que nunca faço filmes esperando premiações – eu simplesmente mergulho no processo e tento, junto com minhas parceiras e parceiros criativos, transmitir, pelos filmes, um pouco da intensidade desse mergulho ao público. Cada filme é um processo diferente, e poder concluí-lo do jeito que eu esperava, fazer chegar ao público, com a ótima recepção que tivemos, é uma vitória gigantesca.

Não é fácil para um longa-metragem entrar no circuito de festivais. Atualmente, são mais de duzentos filmes nesse formato feitos por ano no Brasil, mesmo com toda a perseguição ao cinema nacional vivida nos últimos anos, nunca se filmou tanto neste país e com tanta diversidade de vozes.

Então imagina tantos filmes incríveis tentando ser selecionados para festivais que, em sua maioria, exibem entre 5 e 10 longas por edição. Isso não só significa que um monte de coisa boa fica de fora, mas também que o nível de qualidade dos filmes selecionados é muito alto. Então, levar um prêmio já seria uma vitória tremenda, imagina levar quatro, ainda mais sendo meu primeiro longa-metragem!

Alguns desses prêmios dificilmente são concedidos a documentários, como o de Melhor Roteiro, por exemplo. E tem o sabor de ter levado Melhor Filme tanto pelo júri técnico quanto pelo júri popular, o que significa ser sucesso de crítica e de público. Para um documentário sobre um universo que não chega com tanta frequência ao grande público, como o das artes visuais, é realmente um motivo de muito orgulho e satisfação.

Como foi o processo de realização do filme? Quais as maiores dificuldades que você enfrentou?

O filme passou por um longo processo, que durou oito anos entre o início do projeto, o desenvolvimento do roteiro, a captação de recursos, filmagem, finalização e lançamento. Eu já havia feito diversos curtas metragens, que tiveram processos bem mais rápidos, mas este longa realmente pedia uma gestação lenta, incluindo um mergulho nas imagens de arquivos dos artistas, em especial o do Marcus Vinícius, que teve uma carreira curta porém bastante intensa, deixando um volume gigante de obras registradas em vídeo, muita coisa inédita.

Envolveu também uma pesquisa detalhada de linguagem, um trabalho de criar junto com as artistas Rubiane Maia e Castiel Vitorino Brasileiro, pensando a melhor forma de traduzir, dentro do filme, as performances inéditas que elas criaram especialmente para o projeto. Aí quando estávamos a uma semana de começar as filmagens, em março de 2020, veio a pandemia de Covid-19 que parou a vida de todo mundo. Então, tivemos que adiar as filmagens e retomar aos poucos, dentro do que era possível nos momentos em que a pandemia aliviava um pouco.

Depois, mais um longo processo de edição de imagem, e depois de edição de som. Em ambos os casos, buscamos construir uma experiência que permitisse ao público imergir nas obras de forma que ativasse intensamente os sentidos. A gora passamos por um novo processo, já que o filme passou pelos festivais com um retorno muito positivo e vai entrar em cartaz nas salas de cinema de várias cidades do país a partir de primeiro de agosto.

É importante frisar que o filme teve apoio do FSA/ Ancine e do Funcultura-ES em todas as etapas de seu processo (desenvolvimento, produção e distribuição) e que esse tipo de apoio é fundamental para que o cinema nacional chegue a seus mais diversos públicos, especialmente no caso de filmes como este, que têm um grau de experimentação maior que o usual, e que falam de temas novos e tão importantes quanto os já conhecidos.

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