Cláudio Jorge e Guinga. Crédito: Divulgação
- De: Aquiles
- Para: Cláudio Jorge e Guinga
A tampa abre com “Minha Alma Suburbana”, um samba-choro seu, né, Cláudio Jorge? E é aí, através de seus ofícios, que você e Guinga começam a reafirmar virtuosismo: o seu violão faz a base; o de Guinga, os solos. A eles ajuntam-se imagens oníricas suburbanas, e é um tal de acordes somando-se a cadeiras nas calçadas, versos entrelaçando-se às linhas das pipas, ritmos emoldurando a trajetória das bolas nas peladas de rua... Tudo sob a benção de velhos sambistas e chorões, os grandes homenageados por vocês, meus amigos Guinga e Cláudio, no recém-lançado Farinha do Mesmo Saco (Kuarup).
Meus queridos e experientes instrumentistas e compositores, iniciei esta cartinha tratando de demonstrar que aqui vim para lhes fazer justiça. Vocês são gênios tão (irre)tocáveis em nossas almas que nos dão o prazer de amá-los descaradamente.
Não temam elogios. Eles vêm graças à percepção da beleza criada com efervescência criativa. E sendo indispensáveis por sua identificação cultural inesgotável, quaisquer opiniões visam a demonstrar entusiasmo. Venham elas de comentaristas rigorosos ou condescendentes, de jornalistas ou focas, de músicos profissionais ou amadores.
Não sou jornalista. Sou, isso sim, um músico amigo e amador – isso, um vocalista amante das belezas criadas por colegas como vocês, a quem admiro e que me trazem orgulho de sermos contemporâneos! Minha alegria ao receber seu novo álbum, meus amigos, é a mesma que continuei sentindo enquanto o escutava com um sorriso grudado na cara.
Com os ouvidos atentos aos acertos, eles que sempre se sobreporão, inexoravelmente, a quaisquer possíveis defeitos, sinto a emoção saída de seus violões díspares, mas complementares, em toques e finos retoques. Instrumentos poéticos e tão populares, símbolo dos subúrbios cariocas, mas que também expõem a genialidade planetária dos gêneros criados por baluartes ancestrais.
Bonita a divisão das faixas, véio! Exemplo? Você, Cláudio Jorge, cantando e tocando sozinho, e suingado, “Sábia Negritude”, canção de Guinga.
Outro? Guinga cantando “Senhora da Canção”, um samba seu, CJ, com Nei Lopes, homenagem a Dona Ivone Lara.
Legal seus parceiros terem vez: Edu Kneip vem com a bela “Mar de Maracanã”, mostrada pela voz e pelo violão do parceiro Guinga, enquanto você, Cláudio, vem noutra parceria, esta com o saudoso Luiz Carlos da Vila. E, no arranjo, Guinga esbanja total capacidade de criar belas introduções, virtude já provada em outros álbuns.
“Chorando Pelos Dedos” (Cláudio Jorge, letra de João Nogueira) foi feito em homenagem ao bandolinista Joel Nascimento. Tocando junto, seus violões arrasam, véio.
Tudo é tão bonito! A brasilidade explode pelos dedos e as vozes voam com a emoção. Suburbana, graças a Deus, a música se junta ao sol.
Guinga e Cláudio, vocês criaram um documento que personifica a nossa musica popular... Parabéns, gente fina! E parabéns também à Kuarup pelo privilégio de lançar Farinha do Mesmo Saco. A todos o meu mais caloroso abraço.
Abraços!
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