Maquete da Estrada de Ferro Vitória a Minas que pertence ao Museu Vale. É a maior do Brasil representando uma ferrovia específica. Crédito: Museu Vale
É uma paixão pra lá de antiga. Os trens fazem parte da história do Brasil e principalmente do capixaba. Afinal, temos em nosso território parte da Estrada de Ferro Vitória a Minas, que desperta curiosidade, paixões e riquezas em seus 664 km. E sua imponência leva alguns capixabas a desenvolverem um hobby interessante, o ferreomodelismo.
Ser ferro-modelista é, necessariamente, mais do que ter paixão por trens, trilhos, dormentes e locomotivas. É também reconhecer sua importância em resgatar a história do transporte ferroviário. Imagine ter em casa (em formato miniatura, claro!) réplicas de locomotivas e vagões de trens históricos?
Dando uma pesquisada, descobrimos que ferreomodelismo é um dos hobbies mais antigos do mundo, e sua origem remonta ao período em que o transporte ferroviário foi adotado massivamente. As primeiras miniaturas de trens, por exemplo, foram fabricadas por volta de 1830, por artesãos alemães. A prática logo ganhou adeptos no Brasil, como também no Espírito Santo.
Mesmo sem ter uma associação ou órgão regente da prática, o Estado possui grupos bem ativos. De acordo com o músico e empresário Eden Schwambach Junior, morador de Domingos Martins e "ferro-modelista raiz", ele mesmo participa de dois deles.
"Aqui no Estado, temos dois grupos, com cerca de 50 a 60 colecionadores. Estamos pensando em fazer um encontro estadual no ano que vem. O ideal seria que o evento acontecesse no Museu Vale, até por conta de sua grandiosa maquete. Se não der para ser lá, estamos pensando em alguma estação no interior do Estado".
Eden Schwambach Junior e sua coleção de locomotivas e vagões: paixão pelo ferreomodelismo. Crédito: Eden Schwambach Junior
Por falar em reuniões, o empresário costuma frequentar encontros de aficionados em várias regiões do Brasil. "Uma das mais inesquecíveis foi em Ribeirão Preto/SP, em 2001, onde fica a sede da Frateschi, única fabricante da América Latina de trens elétricos em miniaturas e réplicas de composições reais. Os fãs levaram suas maquetes, cada uma mais sofisticada que a outra", relembra.
Schwambach Junior possui algumas preciosidades em seu acervo, fruto de uma paixão que nasceu - e só cresce - há mais de duas décadas. Ele conta com as três fases da Estrada de Ferro Vitória a Minas e até mesmo tem a miniatura de uma maria fumaça da década de 1940, que percorria a Estação da Central do Brasil
"Comprei minha primeira composição em 1999, numa extinta loja no Centro de Vitória. Estava procurando um equipamento de som, pois, na época, tinha uma banda. Foi nesse lugar que me apaixonei ao ver uma estação de ferro elétrica em formato miniatura. Pensei em comprar de presente para meu filho, que tinha três meses, mas logo virou um hobby", confidenciou.
O que de início foi apenas uma composição, um kit com 15 trilhos, cinco vagões e uma locomotiva, além de um controlador elétrico de 12 watts (que serve para levar energia aos trilhos, fazendo com que o trem se locomova), hoje se transformou em uma vasta coleção.
"Atualmente, tenho oito composições (que, juntas, somam cerca de 100 vagões e 8 locomotivas). São vagões de passageiros e trens que levam cargas, como de minério de ferro. Além disso, tenho uma réplica de uma ferrovia militar, que remete ao 38º Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro, em Vila Velha. A coleção conta com vagões de passageiros, de cavalaria e pranchas", detalha, com orgulho, dizendo que também coleciona elementos customizados, do tipo que deixam a estação férrea o mais realista possível.
"Os colecionadores compram réplicas de casas, prédios, caixas d'água, estações de trem e até pessoas em miniatura. Minha primeira maquete foi feita em 1999, uma réplica da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Gosto de ficar montando, inventando trilhas. Passo dias, horas, fazendo isso. Vejo como uma terapia, sabe? Quando criança, meu filho assistia. Ele acompanhou essa primeira montagem", rememora, com saudosismo, dizendo que hoje os fãs da família são um irmão e um tio, que atuam e atuaram, respectivamente, como engenheiros em empresas férreas.
MAQUETE BEM REALISTA
Por falar em réplicas, o Espírito Santo possui a maior maquete realista do Brasil representando uma ferrovia específica. Ela fica no Museu Vale, em Vila Velha - atualmente fechado para manutenção - e representa a Estrada de Ferro Vitória a Minas.
Maquete da Estrada de Ferro Vitória a Minas que pertence ao Museu Vale. É a maior do Brasil representando uma ferrovia específica. Crédito: Museu Vale
A composição, que conta com uma área de 34m², representa em miniatura, entre outros pontos, as minas onde o minério de ferro é extraído, em Itabira/MG, o vale do Rio Doce, que liga MG ao ES, as cidades e comunidades ao longo da ferrovia, e, ainda, o prédio do Museu Vale e o Porto de Tubarão, em Vitória.
São 101 metros de trilhos e duas miniaturas (que representam um trem de cargas e um trem de passageiros). Na recente revitalização, a maquete ferroviária ganhou iluminação. Ao todo, são 103 postes que ressaltam sua beleza e criatividade, fruto do trabalho de cerca de 2 mil horas de três ferro-modelistas de Belo Horizonte.
Maquete da Estrada de Ferro Vitória a Minas que pertence ao Museu Vale. É a maior do Brasil representando uma ferrovia específica. Crédito: Museu Vale
TÉCNICA
"HZ" perguntou a Eden Schwambach Junior a composição técnica de cada maquete. "Normalmente, elas são feitas sob um tablado de madeira compensada, de cerca de 2 metros de comprimento e 1,10m de largura. Os trilhos são anexados com prego, pois precisam ficar bem firmes, até para circular a corrente elétrica. Colocamos o material (que, pronto, pesa cerca de 50kg) sob alguns cavaletes, a 80cm do chão. Quem é apaixonado, gosta de ver do alto, bem de perto", explica, emocionado.
Em tempo: os trilhos, normalmente, são feitos de material plástico e latão (o que também auxilia na passagem da corrente elétrica) e os trens são compostos em plástico e ferro.
Morador de Domingos Martins possui réplica de composições férreas. Crédito: Eden Schwambach Junior
"Fiquei um tempo afastado do ferreomodelismo e, com a pandemia da Covid-19, época em que fiquei mais em casa, voltei a colecionar. Minha segunda maquete montei em 2020, mas a gente que é colecionador gosta de montar e desmontar sempre, criando composições novas", adianta, informando que, por conta de um acidente com uma caixa d'água em sua casa, hoje não conta com nenhuma maquete totalmente pronta.
Mas, paira uma dúvida no ar: quanto custa esse hobby? "Um kit básico, com locomotiva, vagões, trilho e controlador elétrico, sai, em média, por R$ 450 a R$ 600. Mas há composições mais sofisticadas, que podem chegar a R$ 12 mil, entre ornamentos e trilhas. As maquetes (réplicas) de companhias como Rumo, Brado, Fepasa e Vale, costumam ser completas. Existem colecionadores que compram trens importados. Normalmente, são membros de associações de ferreomodelismo", detalha.
Eden Schwambach Junior conta com réplicas históricas, incluindo as três fases da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Crédito: Eden Schwambach Junior
Dizendo que ainda tem muito material guardado dentro de caixas ("fico contemplando sempre"), Eden relata que, nos próximos meses, pretende criar sua maquete definitiva e, para isso, está comprando composições e elementos decorativos. A ideia é abrir o tablado para visitação em sua residência, assim que fique pronto.
"Estou pensando em fazer três linhas de trens, com passageiros e cargas, especialmente de minério de ferro. Para isso, estou comprando materiais em lojas especializadas em São Paulo, pois o Estado não possui esse tipo de estabelecimento. É um trabalho totalmente artesanal e artístico", esclarece.
DESEJOS
De acordo com Eden, um dos maiores desejos de boa parte dos fãs é fazer com que o transporte ferroviário volte a ganhar investimento e se torne mais popular no país, como foi em décadas passadas. "De um tempo para cá, o governo começou a investir cada vez mais nas malhas rodoviárias, fazendo com que o trânsito das BRs fique impraticável e perigoso. Investir mais em linhas férreas seria uma forma de desafogar isso, como na Europa, onde a gente consegue viajar e conhecer praticamente o continente inteiro dentro de trens".
O colecionador ainda fez um pedido especial. "Os capixabas querem a reativação da Estrada de Ferro Leopoldina, que saia de Paul (Vila Velha), passando por Cariacica, Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano, Alfredo Chaves, Vargem Alta e Cachoeiro, seguindo rumo ao Rio de Janeiro. É um legado de mais de 100 anos, com estações centenárias e um visual turístico de fazer inveja a europeus. Quando criança, essa linha (Leopoldina) passava dentro do quintal de meus avós, em Marechal Floriano. Talvez essa paixão nasceu aí. Saudades...", complementa, em tom de saudosismo e nostalgia.
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