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Publicado em 18 de julho de 2024 às 10:00
O 31º Festival de Cinema de Vitória tem a honra de homenagear Lázaro Ramos, um dos grandes nomes do cinema, teatro e televisão brasileiros. A cerimônia de homenagem acontece no dia 25 de julho, às 19 horas, no Teatro Glória, no Sesc Glória, onde o ator receberá o Troféu Vitória e o Caderno do Homenageado. Em uma entrevista exclusiva para HZ, Lázaro compartilhou suas emoções e reflexões sobre essa homenagem e sua carreira.
“Minha amiga Elisa Lucinda já foi uma das homenageadas e quando ela me falou da experiência dela e da maneira com que a homenagem era feita, fiquei encantado. Quando recebi o convite para ser o homenageado deste ano, foi uma alegria muito grande! Me senti honrado”, revelou. Para ele, receber o Troféu Vitória e o Caderno do Homenageado não é apenas uma honra pessoal, mas também uma celebração do cinema brasileiro e sua trajetória de resistência e reinvenção.
Nos últimos vinte anos, Lázaro Ramos se tornou um pilar do audiovisual brasileiro. Seja nas novelas, séries ou no cinema, e sem esquecer o programa "Espelho", que ele apresentou por 17 anos no Canal Brasil, o ator baiano de 45 anos sempre esteve à frente das câmeras desempenhando papéis marcantes e narrando histórias excepcionais. Gradualmente, essa carreira de ator se expandiu para outras funções, como diretor, escritor e executivo.
O ator ressaltou a importância dos festivais de cinema em tempos de transformações no audiovisual. “Os festivais de cinema são um espaço que o público tem de acessar a filmes que nem sempre têm seu espaço merecido. É o lugar onde a gente consegue ver a real diversidade do cinema brasileiro”, disse. Ele destacou que esses eventos são campos de resistência, onde encontros criativos geram frutos valiosos em momentos de necessidade de reinvenção, como o que estamos vivendo atualmente.
Com uma carreira diversificada e rica, Lázaro Ramos identificou dois momentos de grande virada: os filmes "Madame Satã" e "O Homem Que Copiava". “São dois filmes muito distintos que estrearam no mesmo ano, onde os personagens que eu apresento mostram uma capacidade criativa em tons muito diferentes”, explicou. Na televisão, ele destacou os personagens Foguinho, de "Cobras e Lagartos", e Mister Brau, ambos representando a comédia popular na TV aberta e abrindo novos horizontes para atores negros.
A paternidade também foi um marco significativo na sua vida, influenciando significativamente a visão de mundo, o que refletiu no trabalho de Lázaro. Segundo ele, a paternidade mudou suas escolhas como ator, sua coragem no trabalho e vontade de trabalhar em outras posições, como na direção de um filme. Ele enfatizou o propósito que isso trouxe para seu trabalho com a cultura, reconhecendo a importância disso na vida de seus filhos e na maneira como ele escreve e lida com as artes.
Segundo dados do IBGE, os negros (pretos e pardos) representam mais de 56% da população brasileira. No entanto, essa maioria não se reflete na tela. Um estudo realizado pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE) em 2020 revelou que apenas 7,9% dos diretores e 6,6% dos roteiristas de filmes nacionais lançados entre 2016 e 2018 se identificavam como negros. No campo da atuação, os números são igualmente alarmantes: apenas 27,7% dos papéis principais em filmes nacionais foram ocupados por atores negros no mesmo período.
Na televisão, a situação também é crítica. Um levantamento da Central Única das Favelas (CUFA) em parceria com o Instituto Locomotiva, divulgado em 2021, mostrou que apenas 4% dos apresentadores de programas de TV no Brasil são negros. Em novelas, a presença de personagens negros é frequentemente restrita a papéis estereotipados, como empregados domésticos, criminosos ou personagens secundários, que reforçam clichês e não exploram a complexidade e a diversidade da experiência negra.
Lázaro Ramos é uma grande representatividade negra brasileira e falou sobre a evolução da representação negra no audiovisual brasileiro. “Tem surgido novas vozes produzindo muitas coisas no audiovisual, no cinema brasileiro. Pessoas pretas que têm se destacado e isso é muito importante”, comentou. Ele reconheceu que ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a diversidade e representatividade ideais, mas vê com otimismo as mudanças que estão ocorrendo.
Para ele, a falta de representatividade não é apenas uma questão de números, mas também de narrativas. A predominância de histórias contadas a partir de uma perspectiva branca limita a diversidade cultural e social que deveria ser representada nas produções audiovisuais. Isso perpetua estereótipos e impede a construção de um imaginário mais inclusivo e representativo da sociedade brasileira.
Para os jovens artistas que o veem como inspiração, Lázaro compartilhou uma mensagem recebida de um de seus mestres, Carlos Petrovich: “Entender os caminhos que foram traçados até aqui, entender os contextos das possibilidades e das crises que a gente enfrenta no audiovisual e tentar trazer sua assinatura, trazer a sua contribuição para esse lugar de contador de histórias que precisa estar sempre se reinventando”. Ele encorajou os jovens a conhecerem sua própria voz e se unirem a outras pessoas, ressaltando a importância do trabalho coletivo na criação de histórias.
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