Embalado pela batida do tambor, o caxambu é uma tradição de origem africana que une a música, a dança e os versos cantados. Diante dessa prática, que se enquadra em um movimento de luta e resistência do povo negro, um grupo do bairro Zumbi, em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, busca preservar essa cultura que sobrevive com o passar do tempo.
Grupo de Caxambu da Velha Rita existe há 50 anos em Cachoeiro de Itapemirim. Crédito: Luiz Gonçalves e Carlos Barros
Quem está à frente do Grupo de Caxambu da Velha Rita, que já existe há 50 anos, é a mestra Niecina Ferreira de Paula Silva, conhecida como Dona Isolina. “Eu aprendi a bate-flechas e a dança do caxambu junto com a minha família, aos seis anos”, disse.
Segundo o presidente da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial de Cachoeiro, Bruno Fajardo, o caxambu tem origem nas senzalas, por meio das pessoas que foram escravizadas. “É uma cultura que foi se desenvolvendo no Brasil através dos festejos, das práticas culturais de tambor, de comunicação, de roda e se manteve até hoje”, explicou.
Para ele, o grupo do bairro Zumbi manifesta grande importância ao preservar o traço cultural da comunidade africana que foi trazida para o País e que, atualmente, faz parte do povo brasileiro. "Caxambu é força, resistência, coragem e ânimo", destaca Dona Isolina, mestra do caxambu.
Dona Isolina, à frente, é a mestra do caxambu no bairro Zumbi, em Cachoeiro. Crédito: Luiz Gonçalves e Carlos Barros
Resistência
Bruno acredita que essa é uma cultura símbolo de resistência, visto que se mantém a cada geração, na tradição familiar e oral, apesar das dificuldades de aceitação e reconhecimento. "Muitas vezes, recebemos um olhar discriminatório da sociedade. Então, é resistência porque se mantém mesmo sem nenhum apoio ou consideração da sociedade, nem um olhar para sua importância como originário da nossa própria história", ressalta Bruno.
Assim como observa Fajardo, o gestor de projetos da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial de Cachoeiro, Genildo Coelho, aponta que o preconceito é fruto do desconhecimento da sociedade.
De acordo com ele, a maioria das pessoas faz uma vinculação dessas manifestações do patrimônio imaterial, pensando que são apenas religiosas. “Mas elas são manifestações identitárias, de resistência ao cativeiro que continua até hoje com as condições precárias de trabalho, com a perda dos direitos trabalhistas”, explicou.
"Nós temos direitos, nós precisamos ser respeitados enquanto povo negro, periférico e precisamos acabar com essa que é uma das maiores mazelas do Brasil, que é o preconceito", continua.
Dessa forma, os encontros no bairro Zumbi também buscam combater a discriminação e o preconceito. “No tempo passado, era muito difícil porque muitas pessoas não aceitavam o caxambu. Eles falavam que, por ser do tempo dos escravos, fazia mal para os outros. Só que nossa cor nos traz uma força muito grande”, pronunciou Dona Isolina.
O tambor é utilizado na manifestação cultural do caxambu. Crédito: Luiz Gonçalves e Carlos Barros
Projetos
Com a ideia de resgatar, valorizar e difundir essa herança cultural reconhecida como patrimônio nacional tão importante na sociedade, foram criados três projetos com o apoio do Fundo de Cultura do Estado que começaram em setembro e devem acontecer ate o fim de novembro.
Conforme informou Genildo Coelho, os projetos acontecem no Quilombo de Monte Alegre, do município, sendo eles: o caxambu na escola; o resgate da memória dos idosos; e a difusão do caxambu pelo Sul do Estado. “A importância de preservar está em nos encontrarmos com as nossas próprias origens”, concluiu Bruno Fajardo.
*Com informações da TV Gazeta Sul.
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