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Publicado em 10 de março de 2022 às 11:14
Conhecido pela irreverência, versatilidade e por explorar de forma crítica camadas sócio-políticas de um Brasil cada vez mais polarizado, o Grupo Z de Teatro, de Vitória, dá um novo - e ambicioso - passo em sua trajetória de 26 anos com a estreia de "El Gran Circus Universal Sara Nuestra Carismática Tierra Plana y Quadrangular".
Dividido em três atos, o espetáculo é o primeiro projeto da companhia em formato audiovisual. A montagem estreia neste domingo (13), a partir das 18h, no canal do grupo no YouTube, devendo permanecer em cartaz por 30 dias.
Além de assistir à peça, o público poderá participar também gratuitamente de "Compartilhamento de Processo" - uma espécie de bastidores comentados da montagem -, que será realizado no sábado (12), às 16h, pelo Zoom, com transmissão ao vivo pelo YouTube, como também da oficina "Dramaturgia Tirada de uma Notícia de Jornal”, que acontece em 21 de março, às 18h30, também pela internet.
“El Gran Circus Universal" - dirigido e escrito por Fernando Marques e gravado e editado por Esteban Bisio (Cia. Junco) - traz para debate temas como fundamentalismo religioso e suas ramificações com a cena política nacional.
De acordo com o Grupo Z, a criação da história partiu de reportagens sobre igrejas e líderes religiosos neopentecostais - de denominações diversas - e sua relação com o contexto atual, especialmente com o avanço da extrema direita no país guiada por sua louvação aos movimentos conservadores. Esse contexto político é imbuído de humor ácido e tom satírico.
Chega de blábláblá e vamos à trama. Personagens caricatos, integrantes de um circo grotesco, apresentam seus números em um suposto cabaré. Entre atos, "passeiam" uma drag queen contratada pelo circo errado e um palhaço à procura de um circo em que ele caiba.
Nesse balaio, como em um grande purgatório, junta-se uma bispa apresentadora de TV que explica as utilidades de um "livrão", um "ex-tudo" que agora diz andar no caminho da retidão, uma vidente que tenta manipular o voto e o comportamento de quem acredita em seu poder, além de um soldado delirante que defende a violência como instrumento de controle e de imposição daquilo que defende.
"El Gran Circus" vem na esteira de uma série de trabalhos realizados pelo grupo nos últimos anos que tocam mais diretamente em temas voltados ao cenário político nacional recente, como "Revoada", "Cinzas de um Carnaval" (ambos em parceria com a Repertório Artes Cênicas e Cia.) e "Resto". A relação entre política e religião, entretanto, é abordada diretamente pela primeira vez.
"Pastores e pastoras vendendo feijões para curar Covid e vassouras para varrer demônios; tentando sair do país com dólares não declarados em fundos falsos de bíblias; usando seus cargos políticos para proselitismo religioso ou seu lugar de religioso para eleger políticos, entre outras coisas. Os veículos de comunicação têm tantos casos do gênero que não cabe tudo em um trabalho só", aponta Fernando Marques.
Ao contrário do que possa sugerir, Fernando afirma que a montagem não se propõe a questionar a fé. "Não é necessariamente uma manifestação contra a fé de quem quer que seja, mas de abusos que são feitos em nome dessa fé", ressalta.
"Acreditamos que pode ser função do teatro - ele mesmo nascido do culto religioso - se debruçar sobre o assunto, procurando não emitir vereditos, mas lançar nosso olhar sobre a realidade e questioná-la. Acreditamos ainda que o teatro - e a arte, por extensão - precisa ser um dos espaços em que se diz o que outras instâncias tentam calar", afirma Fernando.
Conforme informado anteriormente, "El Gran Circus Universal Sara Nuestra Carismática Tierra Plana y Quadrangular" vem acompanhado de uma espécie de retrato de bastidores, batizada "Compartilhamento de Processo". Serão mostrados trechos de ensaios e do desenvolvimento dos personagens. A transmissão acontece nesse sábado (12), às 16h, pelo YouTube da companhia.
Outra atividade aberta ao público será a oficina "Dramaturgia Tirada de uma Notícia de Jornal", da qual poderão participar artistas, estudantes e demais interessados.
O curso tem como base a criação do espetáculo, que lançou mão, para sua dramaturgia, de material jornalístico sobre as relações entre religiões neopentecostais e a política no atual cenário brasileiro. O objetivo, de acordo com o grupo, é pensar e praticar o tratamento dramatúrgico que se pode dar a fatos públicos, transformando-os em matéria para a ficção. As inscrições podem ser feitas gratuitamente através de um link disponível nas redes sociais do Grupo Z.
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