Repórter / aline.almeida@redegazeta.com.br
Publicado em 9 de abril de 2025 às 15:33
No dia 9 de abril de 1986, a história da música brasileira ganhava um marco tecnológico e simbólico: era lançado o primeiro Compact Disc (CD) produzido no Brasil. E esse pioneirismo teve assinatura da capixaba Nara Leão, a cantora nascida em Vitória (ES), foi a primeira artista brasileira a ter um álbum lançado no novo formato digital, ainda raro e sofisticado na época.
Intitulado “Garota de Ipanema”, o disco foi gravado em 1985, durante uma turnê no Japão, ao lado do amigo e parceiro musical Roberto Menescal e da Camerata Carioca. O projeto surgiu após uma série de apresentações bem recebidas na boate People, no Rio de Janeiro, o que levou ao convite para uma série de shows no exterior. Aproveitando a passagem pelo Japão — um dos países líderes no uso da nova tecnologia —, a gravadora Polygram decidiu registrar o trabalho em CD.
Além de marcar a estreia do Brasil na era do CD, o álbum trouxe uma seleção impecável de clássicos da Bossa Nova, com canções de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Baden Powell e Chico Buarque. Faixas como O Barquinho, Desafinado, Águas de Março e Chega de Saudade compõem o repertório, reafirmando o talento de Nara para recriar com delicadeza e sofisticação o espírito do gênero musical que ajudou a eternizar.
O protagonismo de Nara Leão no lançamento do primeiro CD brasileiro não foi acaso. Ao longo de sua trajetória, a artista demonstrou repetidamente ser uma mulher à frente de seu tempo. Conhecida como "a musa da Bossa Nova", Nara também se destacou por sua postura política, rompendo com o gênero que a consagrou para dar voz às questões sociais e denunciar os abusos do regime militar.
No emblemático disco “Tropicália ou Panis et Circenses”, ela gravou ao lado de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Gal Costa e Tom Zé, interpretando a música Lindonéia. Além disso, foi uma das primeiras artistas a defender a introdução da guitarra elétrica na música brasileira, em um período em que a ideia ainda gerava polêmica.
Sua trajetória também se cruzou com a de inúmeros artistas que ajudou a projetar, como Fagner, e homenageou grandes nomes da MPB em discos como “Meus amigos são um barato!”.
O lançamento do CD “Garota de Ipanema” não foi apenas um marco técnico, mas também simbólico: colocou uma artista capixaba no centro de uma revolução tecnológica da indústria fonográfica brasileira. Em tempos em que o digital ainda engatinhava no país, Nara Leão mostrou mais uma vez que sabia caminhar à frente, com elegância, coragem e inovação.
O feito reforça o papel de destaque do Espírito Santo na história da música brasileira — e eterniza Nara não apenas como uma das vozes mais delicadas e firmes de sua geração, mas como a responsável pelo primeiro CD brasileiro, um marco da nossa cultura.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta