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Publicado em 22 de março de 2023 às 16:22
A voz suave, melodiosa e afinadíssima de Leila Pinheiro a consagrou como uma das maiores intérpretes da Bossa Nova. Há sete anos sem se apresentar em Vitória - a última performance se deu em 2016, ao lado de Roberto Menescal -, a cantora paraense retorna à cidade (para deleite de seus inúmeros fãs) em show intimista no Sesc Glória neste sábado (25), acompanhada de João Felippe, mestre quando o assunto é cavaco cinco cordas e guitarra baiana.
Antes de falar do repertório a ser apresentado, Leila, sempre atenciosa, fez questão de ressaltar a "HZ" o carinho que sente pelo Espírito Santo e pelos capixabas.
"Tenho um público fiel e maravilhoso, que sempre está comigo quando me apresento. Só tenho lembranças boas e de muita emoção compartilhada nos shows feitos pelo Estado e em festivais para os quais sempre sou convidada. Me sinto em casa quando estou aí. Muito feliz de voltar a cantar em Vitória", derrete-se a artista, ressaltando a honra de abrir o projeto Sesc Grandes Espetáculos, que deve trazer mais dois artistas de renome nacional em 2023, a serem anunciados futuramente.
"Estou feliz de iniciar este belo projeto dentro da programação do Teatro do Sesc Glória, que agora abre suas portas para artistas nacionais. É uma bênção estar viva, com saúde e de volta aos palcos com a minha música", enfatiza a cantora, que também está garantida na programação do Guaçuí Jazz & Blues Festival, que acontece no feriado de Tiradentes, em abril.
Em relação ao espetáculo de sábado (25) em Vitória, espere muita emoção e a inconfundível mise-en-scène de Leila apresentando destaques de seus 42 anos de carreira. Afinal, são 23 CDs e três DVDs gravados e clássicos inconfundíveis, como "Verde" (vamos falar sobre a faixa mais tarde) e "Onde Deus Possa Me Ouvir".
"Este show que trago para Vitória, posso dizer que é uma pequena amostra do que cantei e toquei nas lives durante a pandemia da Covid-19, em que homenageei compositores fundamentais em minha carreira, como Chico Buarque, Guilherme Arantes, Gonzaguinha e Roberto Carlos. Incluí no show canções especiais para os queridos colegas que partiram recentemente, como Gal, Erasmo e, agora, Sueli Costa", enumera a artista, que se manteve bem ativa durante o isolamento social causado pela crise sanitária, tendo lançado projetos como "Vamos Partir pro Mundo" (com Antonio Adolfo), "Faz Parte do Meu Show Cazuza em Bossa" (com Roberto Menescal e Rodrigo Santos) e "Cenas de Um Amor - Leila Pinheiro & Seis Com Casca".
"Posso dizer que não parei de cantar durante a pandemia. Foi o que me manteve viva (suspira). Fiz mais de 100 Lives transmitidas direto do meu estúdio, em casa, sempre para um público numeroso e crescente. Nos ajudamos muito e nos iluminamos com a música. Hoje recebo depois dos shows, com muita alegria, várias pessoas que conheci durante estas lives", responde, com emoção.
"Também teve meu primeiro álbum solo ao piano, "Melhor Que Seja Rara". Foram projetos lançados durante a pandemia, em 2020, quando comemorei 40 anos de carreira. Aguardo a hora de poder levá-los para os palcos, com a dimensão e a beleza que eles merecem".
Leila se destacou para o país durante o mítico Festival dos Festivais, exibido pela Rede Globo em 1985, o mesmo que divulgou o trabalho de Carlos Papel. Com a inesquecível "Verde", a artista levou o prêmio de cantora-revelação. Dê uma espiada no vídeo! Impossível não se emocionar...
"O samba-canção 'Verde', de Eduardo Gudin e Costa Netto, dois craques paulistanos, foi e sempre será a música que me conectou ao público nacionalmente no Festival dos Festivais, onde cantei, aos 25 anos, para uma plateia gigante, em um Maracanãzinho lotado com transmissão para todo o Brasil", rememora, dizendo que a faixa lhe rendeu muitos frutos.
"Tive a sorte de ter sido convocada para cantar o 'Verde' e, mais ainda, contratada por um capixaba amado, Roberto Menescal, para ser artista da PolyGram, podendo começar minha carreira ao lado de um grandioso profissional. Desde aquela época, Roberto é um de meus maiores amigos e parceiros".
Voltando aos tempos atuais, Leila Pinheiro foi uma das artistas mais críticas em relação às políticas públicas e culturais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante seus quatro anos de mandato. Ela chegou a dizer, em uma entrevista concedida à Carta Capital no ano passado, a potente frase: "a gente está (na época do antigo governo) ao deus-dará".
Hoje, mostra-se otimista em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que teve início em janeiro. Ela chegou a comemorar a vitória do petista nas últimas eleições, em um post nas redes sociais.
"O que posso afirmar é que nos poucos meses deste novo governo, o que cresce no meu peito é a esperança e a fé. Havemos de conseguir juntos, unidos, andar para frente e contribuir cada um com o seu melhor para reconstruir um Brasil mais justo para todos, todas e todes. Tenho fé e luto por isso. Dou um não sonoro ao racismo, à misoginia, à homofobia e a todo e qualquer tipo de violência. A vida humana é sagrada e todos são importantes nesta caminhada", defende.
Leila confessou que o novo modelo de distribuição da indústria fonográfica - mais focado nas mídias digitais - ainda não lhe conquistou por completo. "Preciso me acostumar com a realidade de lançar nas plataformas digitais os singles e seguir com eles até concluir o que seria um álbum completo do artista naquele momento. Ninguém ouve mais CD. Isso é duro de engolir", desabafa.
"Gosto do disco físico, das capas grandes e de poder ler as letras enquanto ouço a música.... é fundamental saber quem são os compositores das canções (o que é omitido cruelmente nas plataformas digitais)... enfim", responde pausadamente, sem perder a (sensata) linha de raciocínio.
"Sinceramente, compreendo que o alcance de qualquer música hoje pode ser planetário em apenas alguns clicks e em alguns segundos. Mas isso não me seduz, especialmente quando penso que, no minuto seguinte, a música ou o artista já foram esquecidos. Vivo neste mundo e vou me adaptando a ele da melhor forma que posso. Estou na luta, sem trégua, com toda a minha voz para cantar e falar".
Pinheiro também explanou sobre novos projetos. "Recebo convites para participar de shows e projetos de novos compositores, cantores, cantoras e músicos. Aceito com muita alegria os que me emocionam e onde consigo ver um caminho bonito para aquele artista novo seguir. Este ano se celebram os 65 anos da Bossa Nova e vamos percorrer o Brasil, Roberto Menescal, eu e a banda, comemorando a data e a alegria indizível de estarmos no palco com o estilo que Menescal criou junto com um mar de grandiosos compositores e cantores", complementa, com o tom poético e apaixonado que lhe é peculiar.
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