Marcelo Sirotheau reafirma seu talento em "Documento". Crédito: Reprodução/Instagram
Hoje trataremos de "Documento" (independente, com apoio da UFPA e da Fadesp, disponível em todas as plataformas de música), o segundo álbum de Marcelo Sirotheau. Eu soube da musicalidade deste compositor e cantor de Belém do Pará ao ouvir "Fantasiado" (2018), o seu disco de estreia gravado em parceria com Jorge Andrade.
Tanto lá, quanto agora, Sirotheau é letrista talentoso que só. O cara tem a criatividade e a força de quem trata a música e as palavras com a categoria de quem ama o que faz – e o faz com sabedoria. E ao ouvi-lo, prestem atenção, ele tem uma voz que se parece muito com a do Chico Buarque (o que, convenhamos, pode tornar ainda mais agradável ouvir suas músicas).
São 14 faixas. Uma é só dele, as outras são divididas com diversos compositores (paraenses e cariocas): Ivor Lancellotti, Márcio Farias, Patrícia Rabelo e Leandro Dias, Pedrinho Cavalléro, Zé Maria Siqueira, Ziza Padilha, Dudu Neves, Enrico Di Miceli, Paulinho Moura e Jorge Andrade.
Um grupo de instrumentistas é a base dos arranjos. Violão e guitarra: Ziza Padilha; piano: Tynnoko Costa; contrabaixo: Adelbert Carneiro; bateria: Tiago Belém; percussão: Bruno Mendes; saxes: Yossef Neto; e Jefinho Alves: programação das cordas.
“Documento”, a faixa de abertura, que titula o CD, é uma composição de MS em parceria com Miltinho do MPB4. A melodia é de uma sensibilidade que chama a atenção para a qualidade que continua a brotar da criatividade do Miltinho. Os versos de Sirotheau dão fé à canção: “Minha música é meu sacramento/ É o cordão pelo qual me alimento/ É o sol que tateio com a mão/ Quando mansa, a voz é juízo/ Quanto torpe é o tablado onde piso/ E deslizo na imaginação”.
Piano e a flauta de John Colidge emolduram outra canção, “Sonho de Cidade” (MS). O compositor Nilson Chaves divide o canto com ele. O arranjo tem atmosfera lírica que só faz crescer na voz de MS.
“Na Ceia do Samba” (MS, Zé Maria Siqueira e Dudu Neves) tem versos que são profissão de fé no samba: “Depois de cantar/ Me sinto maior/ Parece que o mundo todo sambou/ E a vida, de quebra, ficou bem melhor/ Eira e beira não têm diferença/ O samba chegou”.
“Acalanto de Amor e Sonho” (Márcio Farias e MS), como diz MS, é um “ultrassonho”, vislumbrado num ultrassom durante a gravidez de sua esposa. Hoje, aos 14 anos, sua filha Ana Clara faz vocalises para o amor paterno.
“Arrebatado” (Enrico Di Miceli) tem programação de cordas na medida certa. O sax soprano de Youssef Neto pinta firme no som.
"Documento" demonstra que, apesar de paraense, Marcelo Sirotheau não compõe carimbós nem sariás. Para cantar suas emoções, dá-se a sambas e canções... É: de fato, os criadores amazônicos têm o talento abençoado pelo rio e pela floresta.
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