Quem assistiu "Os Goonies" (1985), produzido por Steven Spielberg, não consegue esquecer do "assustador" (mas nem tanto) navio pirata de Willy Caolho. Pois saiba que Guarapari, tomando as devidas proporções, também já possui uma réplica da embarcação corsária para chamar de sua. E olha que a inspiração para construir a nau nem partiu do clássico do cinema...
Não entendeu? Calma, vamos explicar... Ou melhor, vamos deixar o criador do navio - que conta com 3,42 metros de comprimento e 2,80 metros de altura -, Paulo César Rizério Chaves, petroleiro aposentado de 66 anos, explicar sua obra.
"As pessoas perguntam de onde tirei inspiração para criar (o navio). Nem sei explicar (risos). Encontrei uma folha de coqueiro caída e 'enxerguei' um fantasma nela. Aí veio a ideia de criar o galeão. Não sei, sabe, parece que um espírito 'baixou em mim'. É sempre assim quando tenho ideias de confeccionar quadros e esculturas. Surge do nada, sempre inspirado em algo que encontro no chão", responde, com ar de mistério.
Paulo César Rizério Chaves construiu uma réplica de um navio pirata em um mês. Crédito: Vinicius Rizerio
Voltando a falar de coisas menos "sobrenaturais", se assim podemos definir, o barco chama a atenção pelos mínimos detalhes, como portas, talheres, escadas, espadas, luneta, moedas de ouro, canhões e âncora (só para citar alguns). Ele foi construído com material reciclado. "A base é de madeira, que retirei de uma porta velha. Tem muito caule de coco. Aliás, reaproveito toda a fruta. De um osso de galinha, fiz as espadas. Também usei bambu. Só comprei cola, verniz e uns parafusos", aponta.
Você deve estar pensando: quanto tempo Paulo César demorou para fazer essa belezura? "Só um mês. Sou bem rápido! Quando pego uma coisa para fazer, quero terminar logo. Para o navio, trabalhei diariamente de 6h às 20h", informa, detalhando que começou a trabalhar com artesanato há cerca de três anos e meio e nunca fez curso na área de Artes Visuais, portanto, um autodidata.
Morador de Guarapari faz réplica de 3 metros de navio pirata
Durante a prosa com "HZ", Rizério diz que expõe suas obras de arte (sim, ele tem várias e já vamos falar sobre isso) em uma sala localizada em sua pousada (que ele ainda arruma tempo para administrar), localizada em Enseada Azul, Guarapari.
"Os turistas ficam encantados. Já fiz uma coleção de quadros com mini réplicas de igrejas de Minas Gerais (a primeira foi uma de João Monlevade/MG, sua terra natal), Espírito Santo e Rio de Janeiro. São quadros em 3D, todos feitos com emendas de madeira maciça. Num deles (os quadros), fiz uma réplica da Praça do Papa, com o Morro do Moreno, em Vila Velha, com direito a um navio passando. Tudo em alto-relevo".
"VIDA SELVAGEM"
E nem só de navios e quadros religiosos se fazem as peripécias artísticas de Paulo César. Ele também tem como prática criar animais, todos confeccionados com coco, como papagaios, tucanos, araras, mico leão dourado, cachorro poodle, tartaruga e até um gorila gigante. "Ele é um dos meus preferidos, tem dois metros de altura", detalha, dizendo que também fez uma jangada de 1 metro e que possuiu mais de 130 peças artísticas em seu acervo pessoal.
"Não gosto de vender, sabe? Até doei algumas coisas para amigos e pessoas próximas. Queria fazer uma exposição de todo esse material, para que muitas pessoas possam ver. Poderia (a exposição) até ser feita na pousada, pois tem muito material de difícil transporte. Mas sonho, sonho mesmo, é expor no Instituto Inhotim, em Minas Gerais".
Entre as obras de arte já feitas por Paulo César, está um gorila de 2 metros. Crédito: Vinicius Rizerio
Voltando no tempo, "HZ" perguntou se o artista ainda guarda na lembrança a primeira peça criada. "Uma coruja. Engraçado é que fiz há cerca de 40 anos e só agora voltei a mexer com artesanato, depois de aposentado", rememora.
Agora... imagina de onde veio a inspiração? "Estava com um colega de trabalho quando dei um chute em alguma coisa e encontrei um pé de coco. Do nada, vi a imagem de uma coruja. Tenho ela (o artesanato, claro) até hoje em meu acervo", fala, com orgulho.
Antes de terminar a conversa, fomos logo perguntando qual será sua próxima obra. "Rapaz, comecei neste domingo (3) a fazer uma cabeça de boi. Acho que vou terminar hoje ainda (segunda), lá pelas oito da noite", adianta.
Ah, sim: sendo repetitivo, nem é preciso dizer de onde surgiu a ideia para compor a peça. "Vi um caule da folha de coco e, na mesma hora, enxerguei a cara de um boi nele e comecei a fazer", responde Paulo, com sua peculiar tranquilidade mineira.
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