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Morre José Rubens Siqueira, artista de teatro, tradutor e cineasta, aos 79 anos

Nome que verteu obras de J. M. Coetzee e Salman Rushdie para o português, dirigiu e escreveu em dezenas de encenações

Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 14:56

José Rubens Siqueira
José Rubens Siqueira Crédito: Karina Lumina/Divulgação

José Rubens Siqueira, artista que trabalhou com o teatro, o cinema e a literatura, morreu aos 79 anos. A informação foi divulgada na manhã desta segunda-feira (17), no seu Instagram. Ele tratava um câncer.

Siqueira traduziu mais de 200 títulos ao longo de quatro décadas, incluindo vencedores do Nobel de literatura –como J. M. Coetzee, Isaac Bashevis Singer e Toni Morrison– além de Salman Rushdie, William Shakespeare, entre outros. Publicou "Viver de Teatro", biografia de Flávio Rangel, e o infantojuvenil "Tronodocrono", com Gabriela Rabelo.

Nas artes cênicas participou de célebres encenações, como "Decifra-me ou Devoro-te", escrita em parceria com Renato Borghi, em 1989. Adaptou clássicos como "A Tesmpestade", de Shakespeare e "Os Lusíadas", de Luís de Camões". Fez também a dramaturgia do monólogo "Dona da Casa", baseado na obra de Adélia Prado.

Ele fazia parte do elenco da montagem de "O Jardim das Cerejeiras", da Companhia da Memória, em cartaz no Sesc Consolação.

Dirigida por Ruy Cortez, a versão da última peça escrita por Anton Tchekhov marcou seu retorno aos palcos depois de alguns anos afastado.

Na pele de Firs, o ancião da família protagonista, ele dividiu o palco, ao mesmo tempo, com Luiz Amorim, que entrou para produção como uma forma de auxílio e determinou, junto de Siqueira, uma espécie de duplo.

"Tinha momentos em que questionávamos se os ensaios não o estavam desgastando. Mas quando eu sugeri falar algo sobre isso, ele me respondeu: 'Ninguém me tira desse papel, dessa nossa montagem!'. Esse era o Zé. Uma potência irrefreável. Um conhecimento, um amor pelo Teatro, pelos saberes, pelos conhecimentos, pelo imaginário, pelas pessoas e pela natureza", diz Cortez.

Ele amava a peça, a montagem, estava realizado. E sua atuação de Firs era sublime. Finíssima. Um ator com uma técnica requintadíssima.

Também adaptou obras de Antonin Artaud, Federico García Lorca, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e João Guimarães Rosa. Escreveu títulos para crianças, como "Tronodocrono" e "Sherazade".

Nascido em Sorocaba, no interior de São Paulo, em 1945, sua carreira começou com o curta "Opus 1", de 1965, e com uma adaptação de "O Processo", de Franz Kafka, encenada no Núcleo 2 do Teatro Arena, em 1962.

No cinema, dirigiu "Amor e Medo", filme de 1974, exibido no Festival de Berlim, com José Wilker, Irene Stefânia. Em 1975 foi lançada sua animação "A Estrela Dalva e Hamlet".

Figura proeminente do teatro experimental, Siqueira assinou trabalhos pioneiros como "Clara Crocodilo" e "Artaud, o Espírito do Teatro". Muitas vezes acumulava funções nas encenações das quais participava – em "Irmãs Siamesas", de 1987, e "A Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada", de 1999, era autor, cenógrafo e figurinista.

Siqueira também foi professor –passou a lecionar na escola de Artes do Corpo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a PUC, em 2000.

A atriz e bailarina Ondina Clais, que também compõe o elenco de "O Jardim das Cerejeiras", foi aluna de Dramaturgia do artista. Os dois interpretam uma cena inédita, escrita por Tchekhov, mas descartada ao longo da história. Ela descreve a participação dele em sua vida como fundamental.

"As aulas que tive com ele abriram uma porta para outro universo, repleto de diversidade. Foi com ele que aprendi a verdadeira intensidade que existem em Hamlet, Nelson Rodrigues. Estava atento a cada detalhe. Reencontrar ele no palco foi uma experiência mágica", diz a artista.

Segundo a atriz Luciana Borghi, amiga próxima do ator, ele e seus familiares teriam tido acesso a uma série de filmes dirigidos por Siqueira que foram restaurados pela Cinemateca Brasileira. Os filmes irão compor uma mostra especial que acontece na instituição no mês de março.

"Ele estava muito consciente de tudo que estava acontecendo. Foi muito bonito testemunhar esse último ano em que ele foi tão celebrado, voltou aos palcos e recebeu diversas homenagens. Durante os últimos dias, ele disse 'que fim de vida bonito estou tendo. Com esse carinho todo', afirma Borghi.

O velório de José Rubens Siqueira ocorre nesta segunda-feira, 17, a partir das 14h no Funeral Home, no bairro Bela Vista, no centro de São Paulo. A cremação será realizada no Crematório Vila Alpina. Ele deixa os filhos João Grembecki, Marina Merlino e Arthur Merlino, que seguiram os passos do pai no mundo artístico.

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