André Prando, Flavinha Mendonça, Noventa MC e Amaro Lima comentam sobre o "Dia do Músico". Crédito: Reprodução/ Carlos Alberto Silva/Instagram/@flavinhamendonca/Amanda Bolonha/
Há quem diga que a paixão pela música é algo inexplicável. Não só os ouvintes mais assíduos afirmam isso, mas principalmente quem trabalha dentro da indústria fonográfica.
Nesta quarta (22) é celebrado o Dia do Músico, data que homenageia profissionais da área. HZ foi atrás de artistas capixabas para entender como é o dia a dia de quem dedica sua vida fazendo o que ama.
Antes, vamos a uma curiosidade: o Dia do Músico também é comemorado na mesma data reservada a Santa Cecília, considerada a padroeira dos músicos. Apesar disso, essa profissão não vive só de bênçãos. Entre desafios e acertos, ser músico no Espírito Santo ainda é uma realidade dura, mesmo que seja prazerosa.
Celebrando mais de dez anos de estrada, André Prando sabe bem como é viver do ofício. "Posso dizer que me emociono com o carinho que recebo ao saber o quanto minha música atravessa histórias de cada um. Claro que isso são anos de construção, quando a gente é apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo de Vitória. É difícil criar estabilidade financeira, construir um público e cruzar as fronteiras… não tem fórmula", detalha.
Show de André Prando: cantor fala das dores e delícias da profissão. Crédito: Carlos Alberto Silva
Prando reforça que o sonho é alto, mas que sem investimento fica difícil. "A gente se vira como dá! O único segredo é o movimento, o fazer”, diz.
CENA MUSICAL NO PASSADO
Ainda que não haja apoio, a música nunca deixou (ou deixará) de existir. Pelo contrário, a cena musical do ES já teve seus grandes momentos no passado, com bandas locais que eram consideradas uma verdadeira febre, entre elas, o Manimal.
Eventos lotados, público alvoroçado e todos curtindo a mesma energia. Esse era o clima dos shows da banda, ativa entre as décadas de 1990 até o início dos anos 2000. O músico Fábio Carvalho, ex-integrante do grupo precursor do “rockcongo”, que junta os gêneros rock e congo, relembrou detalhes dessa época áurea.
“O Espírito Santo teve duas cenas musicais muito fortes, uma nos anos 1980 e outra por volta de 1996 até o início dos anos 2000. Participei e ajudei a construir esta última com eventos e movimentos culturais na rua. Teve a terça reggae, na Curva da Jurema (Vitória), que foram anos e anos lotados. Essa época era ótima, a gente conseguia viver da nossa música”
Fábio Carvalho
Os mais experientes vão lembrar de bandas para além do Manimal. Muita gente já dançou ao som de JavaRoots, Lordose Pra Leão, Pé do Lixo, Mukeka di Rato, Macucos e Casaca. Como não esquecer o festival “Dia D”, em que oito mil pessoas se reuniram na Praça do Papa, em Vitória, para celebrar a música no final da década 1990.
Para Amaro Lima, que recentemente lançou o álbum “Noite Manimal”, onde resgata clássicos de sua antiga banda, o maior legado daquela época foi acreditar em suas próprias raízes.
“Acredito que o momento marcante foi acreditar em uma história que mistura a cultura popular do Espírito Santo com nossa música. É incrível ver como isso abriu tanta porta para gente”, ressalta.
Amaro Lima no show "Noite Manimal". Crédito: Carlos Alberto Silva
O CRESCIMENTO DO RAP
A cultura capixaba também refletiu outros gêneros musicais. Não só em shows, mas também em batalhas de rima. O rap teve seu crescimento nos últimos dez anos no Espírito Santo. Sua história ganhou um novo capítulo com uma geração que chegou com tudo.
Nomes como Dudu MC, Cesar MC, Budah, VK Mac e Noventa levam sua arte para além das plataformas digitais. São verdadeiras inspirações para os jovens da atualidade. "O rap cresce muito e sempre vai crescer porque é uma cultura popular. Nós somos uma cultura que não passa o bastão, mas que acolhe novas pessoas e caminha junto", disse Noventa.
“Fazer música em 2023 é bem desafiador. Tudo ainda é muito caro e a indústria não pega leve, mas no rap a gente sempre faz como dá. O meu conselho é não desistir dos sonhos, sempre estudar, acreditar na sua arte e dar o seu melhor. O importante é fazer seu nome”
Noventa MC
MULHERES NA MÚSICA CAPIXABA
O rap pode ser até ser um espaço com diversas figuras masculinas, mas também há muitas mulheres ganhando forças, como Budah e Beth MC. Não podemos negar que ser mulher na indústria da música, em geral, exige um esforço a mais. No axé, por exemplo, Flavinha Mendonça relatou para HZ sobre como a luta das mulheres tem avançado no Estado.
"Hoje vejo grandes nomes femininos fazendo trabalhos maravilhosos, com extrema qualidade e reconhecimento. Aprecio muito a liberdade que hoje temos no palco, de poder mostrar mais quem nós somos, envolver a parte cênica que eu, particularmente, adoro. É uma luta da qual faço parte e sempre tomo cuidado nos meus shows", conta Flavinha.
Cantora Flavinha Mendonça. Crédito: Instagram/ Flavinha Mendonça
Já a artista Dona Fran, diz que apesar dos desafios da música, a cena capixaba para as mulheres está cada vez mais forte. "Ser músico no ES é celebrar a cultura, fazer parte de uma rede que presta o papel de movimentar esse cenário. Os desafios são cotidianos e acredito que tem sido escassa a oferta de casas que comportam bandas, mas a representatividade do universo feminino é forte, tendo mulheres maravilhosas ofertando vários estilos e singularidades", conta.
TUDO NOS LEVA AOS SONHOS
Entre tantos artistas que participaram desta reportagem, todos possuem uma coisa em comum: o sonho. Ser músico é mais do compor, é encarar as adversidades para criar e persistir na sua própria verdade. Afinal, sem acreditarmos em nós mesmos, certamente não chegaremos em lugares tão almejados.
“Dá para dizer que é fácil ser músico? Não dá, mas é extremamente prazeroso. Acho que é uma profissão que lida diretamente com a realização de sonhos e que mexe com todas as nossas emoções. Quando estou no palco, esqueço do resto do mundo", finaliza Flavinha.
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