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Novo álbum de André Prando, "Iririu", convida ouvinte a uma viagem intimista

Cantor capixaba contou detalhes de cada música do disco, lançado nesta sexta (12). Indo do reggae ao baião, passando pela bossa e tango, o projeto conta com 11 faixas

Felipe Khoury

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Publicado em 12 de julho de 2024 às 10:45

André Prando lança seu novo álbum
André Prando lança seu novo álbum "Iririu" Crédito: Melina Furlan/ Caio Mota

“Iririu” é uma palavra mágica do Brasil. Um cumprimento, um código. Essa é a definição do cantor e compositor capixaba André Prando sobre o título do seu novo álbum, lançado nesta sexta-feira (12). Com 11 faixas, o disco é um passaporte para uma viagem com destino a intimidade do artista, repleta de emoções e sentimentos.

Ao mesmo tempo que Prando soa como um legítimo artista brasileiro, o ouvinte também é surpreendido com influências do exterior. As músicas passam livremente por reggae, baião, bossa, tango, blues, congo, balada, dub e rock. É uma explosão de ritmos e combinações únicas que só o capixaba de 34 anos - completados no dia 8 de julho - consegue fazer.

Com quatro grandes projetos na bagagem, Vão (EP, 2014), Estranho Sutil (2015), Voador (2018) e Calmas Canções do Apocalipse (EP, 2020), André se desapega do rock cru e psicodélico, quase que inerente à sua persona musical, em Iririu. É uma aposta mais experimental, apesar de trazer diferentes momentos de sua vida.

Novo álbum de André Prando conta com 11 faixas
Novo álbum de André Prando conta com 11 faixas Crédito: Melina Furlan/ Caio Mota

Vamos ao álbum. HZ conversou música por música com o artista para saber de todos os detalhes do disco, da ideia ao produto final - que conta com Rodolfo Simor na produção. A partir de agora, convidamos você a escutar cada canção junto com texto.

IRIRIU

“Iririu é uma porta, o primeiro single do álbum. Depois dele, você entra em diferentes universos. É curioso pensar que a origem da palavra é misteriosa, tem várias versões. O que se sabe é que nasceu dentro de um contexto capixaba, em volta de fogueiras, cachoeiras, de excursões de aventureiros na estrada, de bicicleta, de carona, de vivências viscerais, desde lá dos anos 90. Esse é um termo que também acaba sendo uma maneira de reafirmar a nossa identidade”.

“Em 2021, fiquei pensando em como eu poderia dar o próximo passo. Já tinha essa ideia de que meu próximo disco se chamaria Iririu, com essa intenção de contar a minha história e a história de algo que é da minha ilha, que honra a história de muitos outros que vieram de antes e construíram uma identidade. Eu conheci essa palavra em uma época de grande expansão na minha mente, que foi a entrada na universidade, em 2009”.

ZUM ZUM ZUM - FEAT. JULIANA LINHARES

“A música já estava pronta quando eu a apresentei para Juliana. Esse baião conversa muito com a identidade dela, que é potiguar e afirma sempre suas raízes e referências nordestinas em seu trabalho. A letra fala sobre paixão, um amor daqueles que desconcerta a gente, super avassalador. Eu usei uma simbologia da música “Mosca na sopa”, de Raul Seixas, para ilustrar aquela paixão viciante e insistente no pé do ouvido. Também traz referência a uma roda de capoeira: “Zum Zum Zum Capoeira Mata Um”. 

KALUANÃ, O GRANDE GUERREIRO

“Kaluanã, em tupi-guarani, significa “o grande guerreiro”, foi inspirada em uma criança de três anos, filho de um casal de amigos que moram no Caparaó. Quando vou para Patrimônio da Penha, costumo ficar com eles. Ali tem um misticismo muito forte, sempre me sinto reenergizado. Quando compus essa música, lembrei do Kalu dando os primeiros passos, falando as primeiras palavras. Pensei em como seria compor para uma criança, para um filho."

“Eu tenho uma voz que passeia por muitos lugares, vou no grave e no agudo com facilidade. Mudo de um para outro na mesma frase. Existem diferentes conceitos estéticos e subjetivos na interpretação da voz. Nessa música é como se eu cantasse a voz da criança e do adulto ao mesmo tempo”.

O LAPIDÁRIO DE PEDRAS NO CAMINHO

“É uma música que mistura muita coisa. Em questão de segundos você percebe que vai da bossa para o rock. Tem também um arranjo de cordas, que eu particularmente sempre achei muito chique na música brasileira. Já no refrão traz um pagodão baiano. A música ilustra uma conversa íntima, uma troca de aprendizados com o outro. Você vai lapidando as pedras do caminho, as dificuldades, os erros. É sobre pegar algo que era feio e depois se tornar reluzente”.

FRÁGIL

“Frágil fala muito sobre a minha separação em 2020. Estava muito latente o recomeço, o término de uma relação. É uma afirmação do quão poderoso é reconhecer uma fragilidade. O refrão, que tem essa repetição da afirmação ‘eu sou frágil’, faz com que você se comova em algum momento. Eu canto em uma região da minha voz que é quase no limite. É quase a última nota que eu consigo ir”.

AMORTECONSIDERO

“Essa é paradoxalmente um lamento e uma celebração. E pelo título estar escrito todo junto, você consegue ler de duas maneiras: ‘amor te considero’ ou ‘a morte considero”, sugerindo que as duas coisas pedem coexistência. Fala sobre viver uma vida que vale a pena. Um dia eu sonhei com um bloco de congo, da Folia de Reis, indo de um lado para outro na rua. Até por isso é uma música mais curta. É uma oração, um mantra. É um cortejo fúnebre celebrativo, algo que acontece em outras culturas”.

VOLTINHA DE BIKE

“A bike faz parte da minha vida. Não como diversão, não como esporte, é o meu meio de transporte. A cultura da bicicleta é muito forte até mesmo dentro da cultura iririu. É uma homenagem tanto ao objeto, quanto ao que esse nome representa dentro da cultura hippie”.

PATUÁ

“Quando eu compus Patuá, já queria que tivesse uma pegada latina. Quando eu fui à Argentina, vi que o tango era um ritmo popular. E não tem nada de estranho fazer um tango hoje em dia. Essa é uma música que fala sobre a vida do artista, da estrada, dos aprendizados dessa vida nômade de não ter mais casa. Fala muito do fazer artístico"

NUVEM PASSAGEIRA FEAT. CHICO CHICO

“É uma releitura de Hermes Aquino. Muita gente vai se identificar, vai trazer uma nostalgia. É uma versão completamente diferente. Faz uma alusão aos clássicos de Elvis Presley. Eu chamei Chico Chico, um querido amigo e grande compositor, tem uma voz poderosa e temos muitas referências em comum.  Esses feats do disco foram escolhidos do coração”.

DHARMA

“Essa é uma parceria com o LUIZGA, que também compôs Patuá comigo. Posso dizer que ela ocupa um lugar de muito carinho para mim. Fala de coisas muito comuns ao ser humano, ao processo de aprendizado, com os amigos e com a vida. A música lembra a gente estar atento com as coisas. Ela fala sobre o ‘se entender’ e saber como você vai contribuir para o mundo. Fala sobre o conceito de dharma no hinduísmo. Até os arranjos trazem elementos da música oriental, tendo como referência muita coisa que George Harrison fez seguindo essa onda".

MUITA COISA

“O disco é ‘muita coisa’ para processar. Não tem fronteira, muitas influências. Mas ao mesmo tempo a gente volta lá em iririu, que faz parte desse todo. É uma música de finalização, fala sobre a necessidade de processar uma grande experiência que acabou de acontecer. Chegamos ao fim de mais uma viagem. Quando eu compus, lembrei da catarse ao assistir o último show do Milton Nascimento, que no final, todos estávamos com a mesma expressão de emoção e de não ter palavras pra descrever... era só muita coisa".

“Esse disco vai ser um vinil. Eu sou uma pessoa que consome vinil, que é um tipo de escuta diferente. É sobre deixar se permitir a ser conduzido a uma viagem. A própria ordem do disco te conduz a um momento de respirar”.

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