"Irmã Selma" será apresentada no Centro Cultural Sesc Glória, em Vitória. Crédito: Divulgação/WB Produções
Ela ama crianças, mesmo afirmando isso entre uma careta e outra, fuma vários maços de cigarro por dia, jurando que não é pecado, e nos faz cair na gargalhada com seu humor, digamos, incomum e politicamente incorreto. Sempre louvando ao Senhor, é claro!
Não é preciso fazer muitos rodeios (ela nem gosta disso) para dizer que a lendária Irmã Selma, vivida no teatro pelo talentoso ator Octávio Mendes, estará no "meio de nós" mais uma vez, mais precisamente em um espetáculo a ser apresentado no Centro Cultural Sesc Glória (Vitória), nesta sexta (5) e sábado (6), com produção local da WB Produções.
A personagem de sucesso - que ganhou vida própria, de acordo com o artista - é um dos destaques da apresentação de Mendes, ex-integrante do grupo "Terça Insana", que ganhou vez e voz em São Paulo no início da década de 2010 apresentando esquetes de humor pouco convencional.
A freira debochada, mal humorada e amargurada é só um dos destaques do monólogo "Irmã Selma". Octávio Mendes, ressaltando sua versatilidade e capacidade cênica, também apresentará tipos como Mônica Goldstein - apresentadora de um programa sensacionalista -; o Ex-Gay - um cara que "largou dessa vida" e resolveu virar hetero -; Maria Botânica - cantora baiana que versa sobre a fauna e a flora -; e Xanaína, uma ex-prostituta que vira cantora e, sem talento algum, apresenta músicas que se resumem a sussurros como "aaah, aaaah".
"Irmã Selma é um fenômeno inexplicável", adianta Octávio Mendes, entre um pensamento e outro. "Fiquei um tempo sem apresentá-la e, com a pandemia da Covid-19, pintou a proposta de reavivá-la nos palcos e pensei em novas histórias", explica, dizendo que, nestes 20 anos de "hábito", a freira sempre foi uma das queridinhas de seu cativo público, especialmente na internet.
"Recebo mensagem de gente da Europa e também vários vídeos de pessoas imitando a personagem. Soube até que escolas usam a Selma em questões de prova. Uma delícia, isso!", brinca o ator, dizendo que a inspiração para criar a freira veio após Octávio assistir a uma entrevista de Steven Spielberg.
"Captei uma mensagem interessante: a de que o mais importante de uma história a ser contada é a curva emocional que o espectador sente durante uma apresentação. Então, comecei a pensar em características que alguém que lidasse com humor não pudesse ter. Assim nasceu Irmã Selma e seu mau humor. Pensei em fazer uma freira que começasse a trabalhar em um cabaré, mas que odiasse estar ali. Ela é má, não tem paciência ou senso de humor, e faz questão de deixar isso bem claro", adianta Mendes, apontando que, para compor Selma, procurou a "ajuda" de uma freira.
"Fiquei preocupado com uma questão e perguntei a uma irmã: 'freira pode fumar ou é pecado?'. Meio surpresa, ela me respondeu: 'pecado não é, só faz mal à saúde' (risos). Então, resolvi embarcar de cabeça", sorri.
Centrado, Octávio não considera Irmã Selma uma afronta à Igreja Católica. "Sou de família católica, mesmo que mais tarde tenha me voltado ao espiritismo. Em nenhum momento uso palavras ofensivas, que denigrem a religião. Selma não é rancorosa por conta da Igreja, mas sim porque é uma pessoa má", acredita.
De acordo com o artista, a peça já foi vista por padres e freiras. "Eles adoram, morrem de rir. Elas, nem tanto. Algumas chegam a achar que faço por deboche", responde, em tom respeitoso, parando para pensar a próxima frase a ser dita.
"Irmã Selma é até muito parecida com a minha mãe (risos). As duas tem o mesmo humor e não costumam achar graça de nada (mais risos). Acredito que essa freira é uma reflexão dos nossos tempos. Ela, em seus conflitos internos, se questiona: 'por que ser feliz em um mundo como esse? Quem consegue ser feliz em tempos de guerra, por exemplo? É por aí...", defende.
SEM MÁSCARAS
Apontando que o limite do humor é medido quando uma piada começa a ser ofensiva ao próximo, Octávio Mendes faz questão de ressaltar os pontos de conflitos dos outros personagens apresentados em cena.
"O ex-gay me intriga", reitera, novamente parando para pensar. "Para começar, não acredito que exista ex nada, quanto mais ex-gay. O vejo como uma metáfora para sermos o que somos, sem máscaras. Não podemos fingir o que não somos para nos aceitarem em sociedade. Mônica Goldstein, por sua vez, é uma crítica ao tipo de telejornalismo sensacionalista que está sendo feito, sem limites algum. Por que mostrar 'graficamente' na TV a esposa recebendo a notícia de que o marido foi esfaqueado?", indaga, antes de listar o "potencial artístico" de Xanaína.
"Ela é o reflexo das pessoas que conseguem sucesso no mundo da música sem ter talento algum. Fico encantado com sua recepção por parte do público. Xanaína é aplaudidíssima quando canta uma música em que fala apenas 'aaah, aaaah', como se fosse Rita Lee cantando 'Ovelha Negra'", complementa, se divertindo do outro lado do telefone.
SERVIÇO
Este vídeo pode te interessar
- "IRMÃ SELMA"
- QUANDO: Sexta (4) e sábado (5), às 20h
- ONDE: no Centro Cultural Sesc Glória. Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória
- INGRESSOS: Plateia, R$ 100 (inteira) R$ 50 (meia); Mezanino, R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), e Balcão, R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
- PONTOS DE VENDA: À venda pela internet ou na bilheteria do teatro (apenas no dia do evento, a partir das 13h
- PRODUÇÃO LOCAL: WB Produções
Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido o possível