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Publicado em 5 de agosto de 2022 às 07:00
Ela ama crianças, mesmo afirmando isso entre uma careta e outra, fuma vários maços de cigarro por dia, jurando que não é pecado, e nos faz cair na gargalhada com seu humor, digamos, incomum e politicamente incorreto. Sempre louvando ao Senhor, é claro!
Não é preciso fazer muitos rodeios (ela nem gosta disso) para dizer que a lendária Irmã Selma, vivida no teatro pelo talentoso ator Octávio Mendes, estará no "meio de nós" mais uma vez, mais precisamente em um espetáculo a ser apresentado no Centro Cultural Sesc Glória (Vitória), nesta sexta (5) e sábado (6), com produção local da WB Produções.
A personagem de sucesso - que ganhou vida própria, de acordo com o artista - é um dos destaques da apresentação de Mendes, ex-integrante do grupo "Terça Insana", que ganhou vez e voz em São Paulo no início da década de 2010 apresentando esquetes de humor pouco convencional.
A freira debochada, mal humorada e amargurada é só um dos destaques do monólogo "Irmã Selma". Octávio Mendes, ressaltando sua versatilidade e capacidade cênica, também apresentará tipos como Mônica Goldstein - apresentadora de um programa sensacionalista -; o Ex-Gay - um cara que "largou dessa vida" e resolveu virar hetero -; Maria Botânica - cantora baiana que versa sobre a fauna e a flora -; e Xanaína, uma ex-prostituta que vira cantora e, sem talento algum, apresenta músicas que se resumem a sussurros como "aaah, aaaah".
"Irmã Selma é um fenômeno inexplicável", adianta Octávio Mendes, entre um pensamento e outro. "Fiquei um tempo sem apresentá-la e, com a pandemia da Covid-19, pintou a proposta de reavivá-la nos palcos e pensei em novas histórias", explica, dizendo que, nestes 20 anos de "hábito", a freira sempre foi uma das queridinhas de seu cativo público, especialmente na internet.
"Recebo mensagem de gente da Europa e também vários vídeos de pessoas imitando a personagem. Soube até que escolas usam a Selma em questões de prova. Uma delícia, isso!", brinca o ator, dizendo que a inspiração para criar a freira veio após Octávio assistir a uma entrevista de Steven Spielberg.
"Captei uma mensagem interessante: a de que o mais importante de uma história a ser contada é a curva emocional que o espectador sente durante uma apresentação. Então, comecei a pensar em características que alguém que lidasse com humor não pudesse ter. Assim nasceu Irmã Selma e seu mau humor. Pensei em fazer uma freira que começasse a trabalhar em um cabaré, mas que odiasse estar ali. Ela é má, não tem paciência ou senso de humor, e faz questão de deixar isso bem claro", adianta Mendes, apontando que, para compor Selma, procurou a "ajuda" de uma freira.
"Fiquei preocupado com uma questão e perguntei a uma irmã: 'freira pode fumar ou é pecado?'. Meio surpresa, ela me respondeu: 'pecado não é, só faz mal à saúde' (risos). Então, resolvi embarcar de cabeça", sorri.
Centrado, Octávio não considera Irmã Selma uma afronta à Igreja Católica. "Sou de família católica, mesmo que mais tarde tenha me voltado ao espiritismo. Em nenhum momento uso palavras ofensivas, que denigrem a religião. Selma não é rancorosa por conta da Igreja, mas sim porque é uma pessoa má", acredita.
De acordo com o artista, a peça já foi vista por padres e freiras. "Eles adoram, morrem de rir. Elas, nem tanto. Algumas chegam a achar que faço por deboche", responde, em tom respeitoso, parando para pensar a próxima frase a ser dita.
"Irmã Selma é até muito parecida com a minha mãe (risos). As duas tem o mesmo humor e não costumam achar graça de nada (mais risos). Acredito que essa freira é uma reflexão dos nossos tempos. Ela, em seus conflitos internos, se questiona: 'por que ser feliz em um mundo como esse? Quem consegue ser feliz em tempos de guerra, por exemplo? É por aí...", defende.
Apontando que o limite do humor é medido quando uma piada começa a ser ofensiva ao próximo, Octávio Mendes faz questão de ressaltar os pontos de conflitos dos outros personagens apresentados em cena.
"O ex-gay me intriga", reitera, novamente parando para pensar. "Para começar, não acredito que exista ex nada, quanto mais ex-gay. O vejo como uma metáfora para sermos o que somos, sem máscaras. Não podemos fingir o que não somos para nos aceitarem em sociedade. Mônica Goldstein, por sua vez, é uma crítica ao tipo de telejornalismo sensacionalista que está sendo feito, sem limites algum. Por que mostrar 'graficamente' na TV a esposa recebendo a notícia de que o marido foi esfaqueado?", indaga, antes de listar o "potencial artístico" de Xanaína.
"Ela é o reflexo das pessoas que conseguem sucesso no mundo da música sem ter talento algum. Fico encantado com sua recepção por parte do público. Xanaína é aplaudidíssima quando canta uma música em que fala apenas 'aaah, aaaah', como se fosse Rita Lee cantando 'Ovelha Negra'", complementa, se divertindo do outro lado do telefone.
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