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Publicado em 24 de julho de 2024 às 11:24
Na semana dedicada a celebrar a força e a resiliência da mulher negra, o 31º Festival de Cinema de Vitória vai resgatar a história de uma figura ímpar da literatura e do jornalismo capixaba: Carmélia Maria de Souza. Conhecida como a “Cronista do Povo”, Carmélia foi uma mulher negra e lésbica que, com sua pena afiada, deixou um legado inestimável nas páginas de diversos jornais e revistas do Espírito Santo.
Carmélia Maria de Souza nasceu em 1936 na Fazenda Rodeio, Rio Novo do Sul, no Espírito Santo. Em uma época em que as vozes femininas e negras eram silenciadas, Carmélia destacou-se como cronista e escritora autodidata. Seu amor pela vida, pela boemia e pela cidade de Vitória transparecia em suas crônicas, onde cunhou a icônica frase “Esta ilha é uma delícia”, título de uma de suas colunas.
Durante sua carreira, Carmélia escreveu para jornais como Sete Dias, O Diário, Vida Capixaba, A Tribuna, A Gazeta, O Debate e Jornal da Cidade. Sua habilidade em capturar a essência do cotidiano e das relações humanas fez de seus textos verdadeiros retratos da sociedade capixaba das décadas de 50 e 60. Além de sua atividade jornalística, Carmélia trabalhou como funcionária pública federal, dedicando-se ao Museu de Arte Histórica de Vitória, ao Museu Solar Monjardim e à Biblioteca da faculdade FAVI.
Em 1974, aos 38 anos, Carmélia faleceu de embolia pulmonar, deixando um vazio irreparável na literatura capixaba. Contudo, seu legado perdura. Em 1986, foi inaugurado o Centro Cultural Carmélia Maria de Souza, carinhosamente chamado de “Carmélia”, no bairro Mário Cypreste, em Vitória. No mesmo ano, ela foi nomeada Patrona da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, uma homenagem a sua contribuição cultural.
Este ano, o 31º Festival de Cinema de Vitória destaca a vida e obra de Carmélia com a exibição do documentário "Não se Aproxime: A Vida e Obra de Carmélia M. de Souza", dirigido por Tati Rabelo e Rodrigo Linhales. O filme, que foi finaciado com recursos do Funcultura através da Secretaria Estadual de Cultura do ES, será apresentado na Sessão Especial de Encerramento do festival, no dia 25 de julho, às 19 horas, no Teatro Glória. Esta homenagem é um tributo à sua memória e uma celebração da sua contribuição para a literatura e o jornalismo do Espírito Santo.
Tati ainda contou que Carmélia sacudia as estruturas tacanhas da cidade e rompeu muitas barreiras para as mulheres. Ela usava calças e frequentava ambientes onde mulheres não eram bem vistas, produzia eventos culturais, etc. Era uma grande agitadora cultural.
“Trazer a história dessas mulheres, usando uma ferramenta tão democrática e de amplo alcance que é o cinema, é o que nos motiva. Poder alcançar e gerar debate e informação sobre essas potências é de grande importância para o fortalecimento da identidade", concluiu Tati Rabelo.
Acervo Carmélia de Souza
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