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Publicado em 3 de abril de 2022 às 08:00
Elas são "deusas da folia". Com beleza, charme e elegância, comandam as baterias das escolas de samba do Carnaval de Vitória com samba no pé, seduzindo e convidando as arquibancadas para acompanhar o desfile. Não é brinquedo, não!
"Imperiosas", Rainhas de Bateria (assim mesmo, em letra maiúscula!) viveram (e vivem) momentos inesquecíveis no Sambão do Povo e, conversando com "HZ", relembraram passagens marcantes de seus reinados na passarela do samba capixaba.
"Não posso esquecer da estreia, em 2002, logo na reabertura do Sambão do Povo. O carnaval de Vitória estava renascendo para sua grandeza", relembra, emocionada, Fernanda Figueiredo, que, em 2022, completa 20 anos há frente da bateria da Mocidade Unida da Glória de Vila Velha. "E continuarei por conta do carinho da comunidade", explica, como se firmasse um pacto de amor eterno.
"Estava estreando e, ainda insegura, fiquei com receio de decepcionar, visto que sou filha de Kátia Sueli, que reinou à frente da bateria Pura Ousadia por quase 40 anos. Para complicar, caiu um tremendo temporal na hora de entrarmos no Sambão do Povo. Isso só aumentou a minha ansiedade e cobrança para dar o meu melhor", descreve, dizendo que, sentido a insegurança da filha, Kátia agiu como uma espécie de guia durante toda a apresentação.
Fernanda Figueiredo, rainha de bateria da Mocidade Unida da Glória (MUG)
"Ela ficou ao meu lado durante toda a apresentação. Lembro de ter olhado em meus olhos, dizendo: 'Seja Fernanda e brilhe como só você sabe fazer'. Não teve chuva que me segurou depois daquelas palavras", rememora, quase em lágrimas.
Figueiredo, que é musa da Acadêmicos do Salgueiro, no Rio de Janeiro, também destaca do desfile de 2007, quando a agremiação de Vila Velha (que vinha em uma performance impecável) foi penalizada por um acidente em um dos carros alegóricos, o que atrasou parte do desfile, estourando o tempo de apresentação. O problema acabou rebaixando a MUG para o Grupo de Acesso.
"Estávamos com o enredo 'Mocidade, Hoje sou criança Aventureiro da Ilusão', em um desfile empolgante. Fiquei abalada quando o carro (alegórico) quebrou em meio ao desfile. Tentei não deixar a peteca cair, estimulando os integrantes a continuar cantando o samba, desfilando e ajudando as alas a passarem pela alegoria quebrada. Foi um momento de tristeza, mas precisei superar minhas angústias e ajudar a escola naquele momento importante", defende.
Desfilando há sete anos à frente da bateria da Novo Império, Rayane Rosa passou por muitas alegrias na passarela do samba capixaba, mas, também, por alguns perrengues. Um deles, não esquece: o problema em uma fantasia que quase a impossibilitou de entrar na avenida em 2017, quando a "Família Imperiana" defendeu o enredo "A Cura Para o Mundo Está Aqui! Vitória, um Manto Cheio de Esperança", alcançando a quarta colocação.
Rayane Rosa, rainha de bateria da Novo Império
"Foi uma loucura! Minha fantasia deu um problema grave e acabei chegando atrasada ao Sambão (do Povo). A escola já tinha saído da concentração, me arrumei rapidamente, e, tempos depois, consegui entrar, mas os ritmistas da bateria tiveram que abrir espaço para que chegasse ao posto", relembra. Pensa que acabou? Não... 2017 foi mesmo muito tenso para Rayane.
"Durante o desfile, a fantasia continuou dando problemas. Tanto que uma parte começou a ferir meu glúteo, fazendo sangrar. Foi um momento muito tenso, mas segui sambando e levantando os componentes, como uma rainha deve fazer".
Ser Rainha de Bateria é ter poder? Sim, claro! Mas o apoio dos entes queridos nunca é demais para "legitimá-lo". Pelo menos para Schyrley Moura, que comanda os ritmistas da Unidos de Jucutuquara.
Shyrley Moura, rainha de bateria da Unidos de Jucutuquara
"Antes das apresentações, costumo manter esse ritual (quase como um amuleto da sorte). Sempre ligo para a minha família (já na passarela do samba, quase na hora de desfilar) e faço uma chamada de vídeo para a minha mãe ou meu esposo. Fazer isso antes do desfile me revigora. É como se os ver me fortalecesse para entrar na avenida e ter um belo desempenho. Me sinto revigorada, sabe?", suspira a beldade, sem revelar se alguém já deixou de atender o telefone alguma vez!
Muito ligada à comunidade da Fonte Grande, uma das regiões onde se localiza a escola, Rose Oliveira, que há cinco anos está à frente da bateria da Unidos da Piedade, é conhecida por seus trabalhos sociais e por manter contato com as crianças, em uma integração que dura o ano todo, não apenas na época do carnaval.
E vem do carinho com os pequenos um de seus momentos marcantes vividos no Sambão do Povo. "Foi em 2016 (quando a Piedade defendeu o enredo "Vamos ao Mercado?", garantido a quarta colocação). Lembro que usei uma fantasia de gato na ocasião. Indo em direção à bateria (na concentração) observei uma criança de sete anos, portadora de necessidades especiais, usando uma cadeira de rodas. Ela gritava o meu nome, chamando, pedindo para falar comigo, e ninguém queria deixá-la entrar", relembra Rose, sem esconder a emoção.
Rose de Oliveira, rainha de bateria da Unidos da Piedade
"Quando me aproximei, vi que tinha uma certa dificuldade em falar, mas consegui entender que queria tirar uma foto comigo. Foi um momento muito forte, que me marcou. Tenho uma ligação grande com as crianças da comunidade", complementa.
São tantas histórias emocionantes, que nem com muitas xícaras de café e várias matérias conseguiríamos contar. A pergunta que fica no ar é: será que em 2022 nossas rainhas viverão momentos de igual grandeza? Isso, só o tempo nos dirá...
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