“A arte é um instrumento que faz você sobreviver”. É com essa frase que Ronaldo Barbosa define sua consagrada trajetória como designer gráfico há mais de 50 anos. Morador da Praia da Costa, em Vila Velha, o nosso capixaba de destaque abriu o coração para HZ e revelou detalhes da vida - profissional e pessoal.
Com uma carreira marcada por imagens, Barbosa foi o responsável, por exemplo, em produzir a atual logomarca da TV Gazeta. Também já realizou diversas exposições dentro e fora do Brasil, bem como a expografia de um dos Museus mais conhecidos do Estado: o Museu Ferroviário Vale do Rio Doce. Inclusive, foi diretor do museu por mais de 26 anos, deixando o cargo em agosto deste ano.
O designer Ronaldo Barbosa. Crédito: Fernando Madeira
Atualmente, Ronaldo Barbosa mora no distrito de Aracê, em Domingos Martins, onde se dedica a projetos paralelos, com destaque ao Instituto Ronaldo Barbosa. Em entrevista a HZ, o designer ainda falou sobre sua vida pessoal, amor, terapia e futuro. Confira abaixo:
INFÂNCIA E DESENHO
“Nasci em Vitória, na cidade alta. Os meus avós por parte de mãe moravam ali. Quando tinha dois anos de idade, meu pai veio morar em Vila Velha. Falavam que eu desenhava bem, na escola, no colégio Marista. Sempre desenhei a borboleta do jardim que o padre pedia. Até que aos 14 anos eu fui parar no ateliê de Raphael Samú, mosaicista, paulista, que foi diretor da escola de Belas Artes. Ele foi o meu mestre. Fiquei até os meus 17 anos, fazendo o ateliê dele”.
O designer Ronaldo Barbosa. Crédito: Fernando Madeira
PRIMEIROS PASSOS
“Eu era um garoto de classe média alta da Praia da Costa, formado por uma escola católica, com minha sexualidade complexa e indefinida. E naquela época, o Samú fez a minha primeira exposição na Aliança Francesa, onde conheci a Maria Alice Lindenberg. Ela foi à exposição e se tornou uma amiga e incentivadora”.
FORMAÇÃO NO RIO
“Depois eu ‘caí’ em uma universidade interessantíssima, que Juscelino Kubitschek pediu ao governo do Estado do Rio de Janeiro para abrir. Era o início da minha vida como designer gráfico. Comecei a trabalhar na indústria têxtil já no primeiro ano, fazendo estampa para várias empresas. E depois abri meu estúdio, um escritório. Tinha muito trabalho”.
Obra de Ronaldo Barbosa no Aeroporto de Vitória. Crédito: Acervo pessoal
INTIMIDADE
“Eu sempre fui feliz não. Sempre fui incomodado a vida inteira. Felicidade é uma coisa que passa. Eu entro no barco, dou uma volta (risos). Mas sou uma pessoa inquieta, tenho uma questão complexa de aceitação. Sou uma pessoa conturbada mesmo e vou viver assim o resto da minha vida. Só que eu comecei a fazer psicanálise muito cedo, comecei aos 20 anos. Faço até hoje, não para viver, mas para morrer bem”.
RETORNO AO ES
“A ferramenta do trabalho é a minha potência. Uma amiga me convidou para abrir o curso de Design Gráfico em Vitória. Esse foi um dos motivos do meu retorno para o Espírito Santo. Depois meu pai adoeceu. Foi um conjunto de coisas que me fez vir aqui. Depois eu tive o meu ateliê, na Ilha do Boi”.
O designer Ronaldo Barbosa. Crédito: Fernando Madeira
MUSEU VALE DO RIO DOCE
“Em 1996, fui fazer o Museu do Farol da Barra, na Bahia. E naquela época, o Banco Real, responsável pela construção, estava em parceria com a Vale para fazer o Museu Ferroviário Vale do Rio Doce. Aí o Banco Real me indicou para fazer a expografia. A história começa assim. Depois eu fui chamado para ser diretor do museu. Só que fiz uma proposta: de ter a última sala sem nada, aberta, para fazer exposição de arte contemporânea. Fiquei 26 anos como diretor e acabo de sair”.
A PAIXÃO
“Se não tiver amor, não há vida. A paixão é importante sempre, ela nos faz estar vivos. É ela que nos faz ter o desejo. Imagina que vida mais sem graça, sem amor? Eu sou uma pessoa que está em paz comigo. Estou satisfeito com a minha vida”.
Ronaldo Barbosa: ateliê e obras
E AGORA?
“Sair do cargo de diretor do museu era um desejo que estava rolando. Hoje estou morando em Pedra Azul e trabalhando no Instituto Ronaldo Barbosa. A minha casa número um é lá. Esse lugar representa a minha vida hoje. É o meu desejo, tenho estado bem comigo. Eu acho que exerço essa questão da solitude”.
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