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Publicado em 18 de julho de 2022 às 17:57
Uma informação viralizou nas redes sociais nesta segunda-feira (18), causando revolta em moradores de Guarapari e entre os amantes da cultura: a tradicional Banca da Lua, sebo localizado na Avenida Joaquim da Silva Lima, no Centro, seria retirada de seu espaço por caminhões da Prefeitura Municipal para dar lugar ao evento Esquina da Cultura, que começa na sexta (22).
Ricardo Moulin trabalha no local há 30 anos, e lá vende livros novos e usados. Somente na banca, há cerca de três mil exemplares, mas o proprietário garante que conta com quase dez mil em um estoque. Entre os títulos, estão romances, obras espíritas, suspenses e exemplares infanto-juvenis.
Com tristeza, Ricardo retirou cada título da banca, com medo de que alguma obra se perdesse. A cena viralizou nas redes socias no último domingo (17), quando uma amiga do livreiro, Luiza Macedo, postou um story no Instagram.
"Sempre quis participar da Esquina da Cultura, afinal, nada mais adequado do que a participação de um espaço que vende livros em eventos destinado à cultura. Mas nunca consegui e nunca tive uma explicação para isso. Desta vez, por um ofício da prefeitura, me vi obrigado a deixar o meu ponto de trabalho. Nesta segunda (18), um caminhão retirou a banca, levando para outro espaço da cidade. O que mais dói é o desrespeito com nosso trabalho. Somos o único local que vende livros no município (Guarapari não tem livrarias) e a única ligação com os amantes da literatura", lamenta Moulin.
A saga de Ricardo Moulin para conseguir participar do Esquina da Cultura - ou mesmo continuar com a banca no local - começou há pelo menos um mês.
"Em junho, recebi uma notificação da prefeitura de que a banca seria retirada do local em um mês, para dar lugar a um food truck. Fui algumas vezes ao órgão, conversei pessoalmente com Helione Bacovis (Secretária Municipal de Turismo, Empreendedorismo e Cultura). Propus participar do evento, pois uma feira destinada à cultura deveria ter livros", aponta Ricardo, dizendo que, no início de julho, teve uma resposta pouco animadora.
"Helione me procurou, ao lado da equipe que executa o projeto Esquina da Cultura. Ela afirmou que desistiram de colocar um food truck no lugar do sebo, mas propôs anexar um painel de uma cidade europeia, que representasse o inverno. Eles queriam tapar a banca com esse painel. Pelo menos, a minha expectativa era de que meu espaço de trabalho permanecesse no mesmo local", desabafa.
"Na última quinta (14), recebi uma notificação da prefeitura pedindo para que retirasse os livros até hoje (segunda), pois a banca seria retirada neste dia. O ofício ainda afirmava que, caso eu não retirasse as obras, o município faria isso, sem se responsabilizar por prováveis prejuízos. Um absurdo e desrespeito. Será que a banca 'enfeiava' o visual que a organização queria para a Esquina da Cultura?", questiona.
Ricardo Moulin informou à reportagem que a Banca da Lua foi fixada em uma área próxima ao Radium Hotel, na Rua Simplício Almeida Rodrigues, também no Centro de Guarapari.
"É um espaço pouco movimentado, praticamente isolado. Não terei retorno se abrir o sebo na região. Não vale a pena. A prefeitura retirou todas as quatro bancas da (avenida) Joaquim da Silva Lima sem dar uma explicação plausível. Vou ficar duas semanas sem trabalhar, vai prejudicar minha renda, mas minha tristeza maior é não poder vender meus livros durante esse tempo", reclama, complementando que a repercussão negativa nas redes sociais fez com que a prefeitura tomasse uma nova medida.
"Hoje, recebi um documento assinado pela Secretaria Municipal de Postura e Trânsito confirmando que, após a Esquina da Cultura, as bancas voltariam para seu espaço original, mas confesso que tenho dúvidas. É uma incerteza muito grande. Um misto de incerteza e decepção. Não sabemos o que pode acontecer, pois as informações estão muito desencontradas. De certo, só agradeço às redes sociais pelo carinho e apoio ao meu trabalho. São por eles que continuamos trabalhando com arte", agradece.
Procuramos a Prefeitura Municipal de Guarapari com os seguintes questionamentos: se a banca voltará ao seu espaço original após o fim do Esquina da Cultura; se houve algum acordo com o proprietário do sebo para a mudança de local e por que Ricardo Moulin não foi convidado para fazer parte do encontro.
Também questionamos se haverá alguma compensação financeira por possíveis perdas econômicas do proprietário por conta das mudanças. Além disso, perguntamos o quanto foi investido no evento e se a verba é proveniente dos cofres públicos.
Por meio de nota, o órgão respondeu: "A Prefeitura de Guarapari, através da Secretaria de Postura e Trânsito (Septran), informa que não houve retirada da banca, mas sim uma mudança do local para a realização do evento na rua. A Septran informa ainda que a mudança de local é temporária, foi necessária para dar mais espaço e melhorar a locomoção do público durante o evento. Enquanto isso, no novo local, a banca poderá funcionar diariamente, para manter as vendas durante o período do evento, assegurando que não haja nenhum prejuízo financeiro ao responsável".
Na mesma nota, ressaltaram ainda: "O Esquina da Cultura, que teve sua primeira edição em 2017, foi criado pela Prefeitura de Guarapari com o objetivo de atrair turistas para a cidade durante a baixa temporada e movimentar a economia local. Na última edição, em 2019, o evento contou com mais de 40 atrações culturais, incluindo shows nacionais, e teve a participação de mais de 120 mil pessoas".
A Esquina da Cultura chegará à sua quarta edição nos dias 22, 23, 29 e 30 de julho, na Avenida Joaquim da Silva Lima, no Centro de Guarapari. Além de música, o evento reúne gastronomia, com food trucks e bikes distribuídos por toda a avenida, além de apresentações de grupos de dança, teatro e atrações circenses.
Entre as atrações musicais confirmadas estão nomes como Oswaldo Montenegro, The Fevers, Leo Gandelman, Alexandre Borges, Daniel Boaventura, Leoni, Clube Big Beatles, Família Lima, Ana Cañas e Zizi Possi.
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