Susana Vieira vai lotar teatro em Vitória com "Shirley Valentine": "Já estou chegando"

Atriz apresenta a peça neste sábado (8) e domingo (9), no Sesc Glória, em Vitória, com ingressos esgotados

Publicado em 06/07/2023 às 10h28
Susana Vieira vem a Vitória com o sucesso dos palcos

Susana Vieira vem a Vitória com o sucesso dos palcos "Shirley Valentine". Crédito: Daniel Chiacos

Vitória se prepara para receber uma das atrizes mais populares e queridas do Brasil. Susana Vieira retorna ao Estado com "Shirley Valentine", comédia agridoce em cartaz neste sábado (8) e domingo (9), no Sesc Glória. Os ingressos estão esgotados para os dois dias de apresentação. 

Diva da dramaturgia nacional, Vieira revive a personagem eternizada no cinema - e nos palcos - nos anos 1980 por Pauline Collins, que chegou a receber uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Susana - que comemora 60 anos de carreira e 80 de vida - brilha em uma peça que conta com a experiência de Miguel Falabella, responsável pela adaptação do texto clássico de Willy Russell para o Brasil. Falabella, com seu talento peculiar, trouxe um toque de leveza e "humor tropical" à história original.

Em entrevista à "HZ", Susana revela detalhes sobre sua preparação para o papel e a experiência em trabalhar com Miguel nos palcos, com quem também atuou na peça "A Partilha" (1990), que gerou a bem-sucedida continuação "A Vida Passa" (2000). Mesmo com pouco tempo de ensaio, ela garante que conseguiu transmitir a alegria e a tristeza de Shirley, uma mulher que enfrenta desafios familiares após os filhos deixarem o lar e seu marido tratá-la mal. Ela precisa recomeçar, aprender a reencontrar a felicidade e conhecer um novo sentido para a vida. Lógico que um tema tão sensível causa identificação imediata com a plateia.

Em vídeo de divulgação do espetáculo, Susana já deixa o convite para os fãs assistirem tudo: "Já estou chegando, tá!".

"Miguel Falabella trouxe um humor peculiar à peça, fazendo com que o público se sentisse à vontade para rir mesmo em momentos em que a história poderia ser triste ou dramática. A peça desperta nostalgia e remete a situações vividas por muitas pessoas, especialmente aquelas que já passaram pela experiência de ver seus filhos saírem de casa. Shirley foi um desafio", adianta.

Quando questionada sobre como se manter plena aos 80 anos, Susana, falante e vívida, responde com sinceridade e humor, afirmando que sempre foi uma pessoa alegre, apaixonada por festas, praias e família. Ao "HZ", também confessou que tem receio da morte, pois acredita que ainda há muito para aproveitar e que deseja continuar trabalhando (está escrevendo um livro de memórias), fazendo viagens e até mesmo atuando em novelas. Sua vitalidade e energia, segundo a própria artista, são as verdadeiras vitórias de sua extensa trajetória. 

"Shirley Valentine" fala de solidão, crises existenciais da chegada à terceira idade e busca pelo recomeço. Causa muita identificação com várias mulheres, concorda?

Sim, assim é a Shirley, mas não necessariamente uma Shirley inglesa, porque houve uma adaptação perfeita pelo Miguel Falabella, que trouxe para o Brasil, especialmente para o Rio de Janeiro e para a minha boca, um certo humor e leveza ao drama dessa mulher. Isso é muito do brasileiro, sabe? Estamos sempre bem-humorados. Quando você chega no carnaval, tá todo mundo bem-humorado. Bastou juntar três, quatro, cariocas, que parece que existe uma coisa de sobreviver ao desastre e à tristeza (risos), porque senão você vai para o buraco. É o Instituto de conservação do ser humano. Então, como todos, Shirley também tenta se salvar do buraco.

Como você avalia a adaptação de Miguel Falabella para o texto de Willy Russell? Houve grandes mudanças, o texto ficou mais leve?

O que o Miguel fez comigo foi o ponto que destaco. O humor inglês, por exemplo, é feito sem gargalhada, né? A pessoa fala uma coisa que é engraçada e todo mundo fica quieto, porque o humor britânico já "está embutido", mas o brasileiro é mais ostensivo. Fiz uma Shirley com um pouco mais de humor, onde o público se sente confortável para rir em uma peça que poderia ser triste ou dramática. Com sua adaptação, Miguel oferece ao público a oportunidade de dar boas gargalhadas, apesar da peça, em vários momentos, ser nostálgica e triste. Você lembra sempre de sua família ou dos seus filhos. Não adianta fingir que não passou por algum momento que Shirley tenha passado. 

Shirley (Valentine) se popularizou especialmente após a magistral interpretação de Pauline Collins no cinema, quando a atriz chegou a ser indicada ao Oscar. Como você se preparou para a personagem?

Estreei a peça exatamente em Vitória, em 2016 (na época a peça tinha o nome de 'Uma Shirley Qualquer'). Me preparei rapidamente, pois tivemos pouco tempo de ensaio porque assim que meu produtor começou a dar algumas notícias de que estaria com uma peça do Miguel várias cidades começaram a me chamar. A gente ensaiou mais rapidamente para poder correr e viajar pelo Brasil levando a alegria e a tristeza da Shirley. 

Então me preparei prestando atenção no texto e na direção, visto que a peça foi dirigida inicialmente pelo Miguel, depois quem assumiu foi o Tadeu Aguiar, pois ficamos parados por conta da pandemia da Covid-19. Mas não me preparei muito, porque é uma mulher brasileira. A história da dona de casa que os filhos vão embora e o marido trata mal é tão comum que você não precisa fazer um laboratório muito grande. Ou você passou por aquilo, ou ouviu uma tia falando, apesar de eu não ter seguido a linha dela. Eu não segui o curso da Shirley. Não gostei, não gostei, saí de casa e pronto. Fui viver sozinha com meu filho e fui feliz. A Shirley tem um caminho a percorrer um pouco mais demorado.

A história de uma dona de casa que os filhos vão embora e o marido trata mal é tão comum que você não precisa fazer um laboratório muito grande. Ou você passou por aquilo ou ouviu uma tia falando, apesar de eu não ter seguido a linha dela. Eu não segui o curso da Shirley. Não gostei, não gostei, saí de casa e pronto. Fui viver sozinha com meu filho e fui feliz.

No ano passado, você completou 80 anos de vida e mais de 60 de carreira. Qual o balanço que faz dessa trajetória?

Ah, acho que não posso dar por encerrada a minha vida, fazer o quê? Meu cérebro continua funcionando. Acho que enquanto há vida a gente pode fazer coisas. Não vou aprender a fazer trabalhos manuais, porque continuo trabalhando com memória, leitura, representação e com dança. Se for possível, com música. Tem um livro para sair. Se Deus quiser, sairá este ano ainda. Vou contar desde quando comecei na televisão. São quantos anos? Sessenta e três, né? Anos de vida e de história. Não estou contando nada alucinante e não dou detalhes de nada para que o público não pense que seja um livro escandaloso. É uma obra contando a trajetória de uma atriz brasileira trabalhando em televisão e viajando pelo Brasil levando seus trabalhos de teatro.

Faltam bons papéis para mulheres maduras? O mercado tem preconceito contra atrizes mais experientes? Você é uma prova de que sempre há espaço...

A sociedade e o próprio clima fazem com que você valorize a juventude e os corpos sarados. O Rio de Janeiro, então, é a sede disso. Você tem que ser sempre jovem, bonito, magro, tem de ter 20 anos e pesar 20 kg. Então, acho que é muito difícil vencer e se manter na moda ou "bem na fita" para mulheres maduras. O Rio de Janeiro é o pior lugar, porque, na verdade, o que as pessoas aqui querem são corpos. As clínicas se sucedem, com tudo caríssimo... Vejo isso com muita crítica e achando ridículo.

Tive a grande genética do meu pai e da minha mãe. Como a maioria das pessoas, faço ginástica, sou bailarina formada pelo Teatro Municipal, faço academia, alongamento e, nesta semana, comecei ioga. Mas, enfim, tem o preconceito, sim, tanto que, cada vez mais, eles colocam atrizes mais novas para protagonizar novelas. Vai chegar uma hora que não vai ter mais mãe e nem avó. As meninas de 20 anos vão fazer a avó das meninas de 15, mas tenho um lugar, sim, tenho um espaço. Consegui com meu talento, minha empatia e minha vontade de vencer, ou talvez até deixei me levar, tipo, não liguei. A minha vida foi de presentes. Vamos falar a verdade, cada coisa era um presente, cada novela, cada peça de teatro... Acho que sou e tenho um espaço na carreira, na televisão, no teatro e no cinema brasileiros ainda sim.

Susana Vieira em Shirley Valentine

Susana Vieira em "Shirley Valentine". Crédito: Alexandre Lino

Como é chegar aos 80 anos plena? Quais medos (se existe algum) e vitórias?

Para ser sincera, não tenho a menor ideia, porque sempre trabalhei, fui alegre, quis sair, festa, praia, sempre quis família em casa. Acho que não sei como cheguei (aos 80 anos), mas cheguei bem. Até andando com a cabeça boa, decorando o texto e bonitinha, né? (risos). Tenho pavor da morte, muito medo dela, porque acho que tenho tantas coisas para fazer e posso ser tão feliz ainda. 

Minha vitória são minhas conquistas e o meu nome chegar onde chegou. Imagina, não tem nenhuma atriz que esteja nas condições, com exceção da Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Elas têm um pouquinho mais de idade do que eu, mas estão inteiras, né, vivas e trabalhando. Acho que isso é uma grande benção do céu! Sempre mantive o bom humor. Às vezes, respondo com malcriação para não ter que brigar com a pessoa. Dou uma malcriada com graça, entendeu? (risos) É importante não achar que a vida depende do outro e que sua felicidade depende do outro. Se espera encontrar o amor para morrer feliz, não, não, não, não, não e não... Pode tirar o cavalinho da chuva!

É importante não achar que a vida depende do outro e que sua felicidade depende do outro. Se espera encontrar o amor para você morrer feliz, não, não, não, não, não e não... Pode tirar o cavalinho da chuva!

Fale um pouco sobre sua trajetória na TV. Quais papéis você considerada marcantes? Existe algum legado que pretende deixar?

Acho que tive uma brilhante carreira na televisão e foi me oferecido que há de melhor em matéria de novelas. Algumas não fiz, mas grandes atrizes fizeram. Tem "Roque Santeiro". Sinto uma que adoraria fazer aquela Porcina, né? Que a Regina Duarte fez... e tem outra que adoro e que gostaria de ter feito, "Barriga de Aluguel", com Cássia Kiss. Em relação às tramas marcantes, vamos falar inicialmente de "Senhora do Destino" (2004), do meu amado e querido Agnaldo Silva. Aquela personagem foi um presente lindo que ele meu deu. Tem "Anjo Mau" (1976), que foi o primeiro estouro. A "Escalada" (1975) e "A Sucessora" (1978) também foram top de linha.

Agradeço profundamente a todos os autores que escreveram personagens na televisão para mim. Me dá alegria e me sinto orgulhosa de não ter desviado em minha carreira, não ter largado minha profissão nunca, por nada no mundo e nem por amor nenhum. Você tem um público que te segue, que segue sua maneira de pensar. Você tem que manter o seu vigor, a vida lá em cima para mostrar para as pessoas que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Um legado que vou deixar é o meu livro, uma herança para os meus filhos e meus netos.

SHIRLEY VALENTINE

  • QUANDO: Sábado (8), às 20h, e domingo (9), às 17h, no Sesc Glória. Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória. Intérprete de Libras na apresentação de domingo dia 09 de julho.

  • INGRESSOS: Plateia R$ 120,00(inteira) e R$ 60,00(meia); R$ 100,00 (inteira) R$ 50,00 (meia); Mezanino R$ 50,00 (inteira) R$ 25,00 (meia). ESGOTADOS

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