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"Três Mulheres Altas" tem sessões em Vitória esgotadas em uma hora

Montagem estrelada por Suely Franco, Deborah Evelyn e Nathalia Dill é baseada em premiado texto do escritor norte-americano Edward Albee, de "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?"

Publicado em 26 de abril de 2023 às 13:43

"Três Mulheres Altas" terá sessões sábado (29) e domingo (30), no Sesc Glória, em Vitória Crédito: Pino Gomes/Divulgação

"Você sabe por que a nota de R$ 100 tem um peixe? Não? É porque dinheiro que é bom, nada!". Com o seu intrínseco bom humor e alto astral, Suely Franco atendeu "HZ" por telefone para falar de seu novo sucesso no teatro, a elogiada "Três Mulheres Altas", que terá sessões sábado (29), às 20h, e domingo (30), às 17h, no Sesc Glória, em Vitória. Os ingressos esgotaram uma hora após o início da distribuição na bilheteria do teatro, na manhã desta quarta-feira (26). 

Na montagem, a veterana e talentosa atriz divide o palco com mais duas feras, Deborah Evelyn e Nathalia Dill. O espetáculo é produzido pela capixaba WB Produções e está integrado ao circuito "Diversão e Arte ArcelorMittal".

Com texto de Edward Albee, que conquistou o mundo, e Hollywood, anos antes, com a obra-prima "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", "Três Mulheres Altas" levou o Prêmio Pulitzer ao trazer o emaranhado (se assim podemos dizer) relacionamento de três mulheres em diferentes fases da vida: juventude, maturidade e velhice.

Em cena, as artistas interpretam A, B e C, assim mesmo, sem nome, aproximando o público das personagens. A (Suely Franco) já passou dos 90 anos, está doente e embaralha memórias e acontecimentos enquanto relata sua vida para B (Deborah Evelyn), a dama de companhia. A mais jovem, C (Nathalia Dill), é uma advogada responsável por administrar os bens da idosa, que não consegue mais lidar com as questões financeiras e burocráticas.

Entre tiradas sarcásticas e diálogos afiados, Albee nos apresenta um texto enxuto, que debate abertamente os percalços de envelhecer, a inaptidão do homem em lidar com a decadência física e moral, o abandono parental e, antes de tudo, o resgate da memória ou a falta dela. Um "caldeirão" embalado por atuações destacadas de três atrizes.

No Brasil, a peça foi dirigida pela primeira vez por José Possi Neto, em 1995, e recebeu os prêmios APCA e Mambembe de Melhor Espetáculo, trazendo Beatriz Segall, Nathalia Timberg e Marisa Orth como as três personagens.

"Não assisti à primeira montagem, mas recebi informações sobre ela. O texto é praticamente o mesmo, mas a 'pegada' agora soa um pouco diferente. Nosso diretor, Fernando Philbert, tirou o foco da sisudez, fazendo um relato mais humano. Tem momentos de bom humor, alguns de tensão e outros de angústia. Acredito que o público se identifica com essas passagens e ficam ligados nas atrizes. Sinto que nós quatro (as três artistas e a plateia) ficamos na mesma sintonia", descreve Suely Franco.

ENVELHECER

Se observarmos a essência de "Mulheres Altas", chegamos a um tema central: a brevidade da vida. Embalados no assunto, perguntamos a Suely, de 82 anos, sobre sua relação pessoal com a morte e o envelhecimento.

Com o humor que lhe é peculiar, a atriz respondeu em "uma só tacada". "Claro (diz, parando para refletir), há a limitação física peculiar ao idoso, como a dificuldade de locomoção ou mesmo o cansaço excessivo. Mas vivo dizendo que esqueço que sou velha (risos). Só lembro quando me falam (mais risos). Sou feliz, ativa, gosto de trabalhar, de estar em cena e faço o que amo. Tiro forças disso (suspira). Em relação à morte, não tenho medo dela, não! Vem de qualquer jeito (fala, em tom respeitoso). Temos que encarar essa possibilidade de frente e viver bem, da melhor maneira possível. Tem uma coisa: pensa só, pelo menos não teremos mais contas para pagar. Que beleza!", conclui a linha de raciocínio, soltando uma gargalhada deliciosa de ouvir do outro lado do telefone.

"Três Mulheres Altas" chega a Vitória após temporada de sucesso no Rio e São Paulo Crédito: Pino Gomes/Divulgação

A peça, que fez temporadas lotadas no Rio de Janeiro e São Paulo, sendo vista por mais de 25 mil pessoas, está em uma pequena turnê que passou por Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Campinas (SP) e Joinville (SC), atingindo mais 8 mil pessoas.  

"Acho que o sucesso aconteceu por conta do lindo encontro de três atrizes que se dão muito bem. Trabalhamos juntas em "A Dona do Pedaço", mas não nos conhecíamos pessoalmente. Coisas da televisão (risos). Houve uma identificação imediata, tanto com os personagens como entre a gente. Essa intimidade que vocês veem da plateia é real. Começou desde os primeiros ensaios, passando o texto. Uma amizade linda começou", derrete-se Suelly, que, no teatro, já venceu prêmios como Molière, nos anos 1970, com "A Capital Federal", e o Bibi Ferreira, com "Quarta-Feira, Sem Falta, Lá em Casa" (2019), só para citar os mais importantes.

RECONHECIMENTO

Na TV, mostrou-se capaz de conquistar todos os públicos. Foi Dona Benta, na versão dos anos 2000 de "Sítio do Pica-Pau Amarelo", Vó Berta, em "D.P.A - Detetives do Prédio Azul", e a inesquecível Dona Mimosa, seu maior sucesso, em "O Cravo e a Rosa".

Suely Franco afirma que é reconhecida nas ruas por sua inesquecível Dona Mimonsa, de
Suely Franco afirma que é reconhecida nas ruas por sua inesquecível Dona Mimonsa, de "O Cravo e a Rosa" Crédito: Rede Globo/Reprodução

"O legal é que a mãe e a criança me reconhecem nas ruas. Ela, por Dona Benta e Dona Mimosa, e o menino, por Vó Berta. Esse carinho é o que recompensa nosso trabalho. Tenho que confessar uma coisa: adoro bebês! Sempre que vejo, pego no colo, faço sorrir. Quando observo o sorriso de uma criança, ganho o meu dia, me reenergiza", confessa, suspirando novamente.

Mesmo consagrada nas telas e nos palcos, Suely Franco "abre o coração" para falar sobre a dificuldade de encontrar trabalho, ou mesmo bons papeis, quando o artista chega à terceira idade.

"Hoje tenho uma visão diferente, tanto da vida quanto do trabalho, do que tinha há 20 anos. Especialmente na forma de encarar as pessoas e os problemas, sabe? Cada vez menos, temos oportunidades de atuar. Por mais prêmios e reconhecimento que tenha recebido na carreira, cada vez menos  faço novelas, por exemplo, pois diretores e produtores preferem fazer personagens para atores mais jovens. O que precisa mudar? A mentalidade desses produtores e diretores e até mesmo de autores. Precisamos fazer tudo diferente para a coisa dar certo", complementa, com a generosidade que lhe é peculiar.

TRÊS MULHERES ALTAS

  • ELENCO: Suely Franco, Deborah Evelyn e Nathalia Dill
  • DIREÇÃO: Fernando Philbert
  • QUANDO: Sábado (29), às 20h, e domingo (30), às 17h, no Sesc Glória. Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória. Os ingressos para as duas sessões já estão esgotados

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