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Publicado em 20 de novembro de 2022 às 09:00
Devido aos mais de 300 anos do sistema escravagista no Brasil, alguns comportamentos e ações foram enraizados na sociedade atual por uma boa parte da população.
O racismo, por exemplo, vai muito além de agressões verbais explícitas. Ele também está presente em palavras consideradas corriqueiras e inofensivas, como "ovelha negra", "mulata" e "preto com alma branca". Essas expressões ofendem e ferem da mesma maneira. A "desconstrução" dessas expressões é um processo longo e trabalhoso, mas somente assim a sociedade poderá passar por um real processo de mudança.
Mesmo em tempos onde a informação está a um clique de distância, muitos desconhecem tais expressões. A especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana, Darlete Nascimento, reforça o poder que a palavra tem. "É importante entender que essas palavras e expressões vêm desde o período colonial. É preciso desconstruir esses costumes e começar a utilizar um vocabulário antirracista", disse Darlete.
A maioria das expressões coloca o ser preto como algo ruim, reforçando a ideia de que pessoas negras estão abaixo das brancas na pirâmide social. Tais palavras são sempre atreladas a algo negativo, como "a coisa tá preta", "fome negra" e muitas outras.
Além das expressões, também existem os estereótipos em volta das pessoas negras, como a mulher "preta raivosa" e o homem "negro desocupado". Abaixo, você confere palavras que precisam ser retiradas de seu vocabulário, até como forma de respeito para podermos viver em um tecido social igualitário.
"DENEGRIR": Termo refere-se a "tornar algo negro", algo ruim, uma mentira, ao boato feito sobre alguém, reforçando a falácia de que ser negro é algo ruim. Troque por: difamar, caluniar ou injuriar.
"DOMÉSTICA": A palavra começou a ser usada no período escravista para se referir as mulheres escravizadas que trabalhavam na Casa Grande. Hoje, muitos usam a palavra para se referir a faxineiras e diaristas. O termo ainda se refere a mulheres negras como animais a afirmar que estão "domesticadas".
"OVELHA NEGRA": Expressão usada para caracterizar uma pessoa diferente das outras, diferente do "rebanho", que sai do padrão imposto pela família e pela sociedade, mais uma vez reforçando a ideia de que ser preto é algo abominável. Troque por: diferente da maioria.
"MENTIRA BRANCA" OU "INVEJA BRANCA": Estes são termos usados para se referir a comportamentos ruins, como mentir ou sentir inveja de alguém, mas, ao serem somados ao "branco", tornam-se sentimentos positivos que não fazem "mal" a ninguém.
"DA COR DO PECADO": Expressão usada para se referir a mulheres negras, reforçando a ideia de que devido a seus corpos o homem é levado a pecar. Tal ideia surgiu no período escravagista, onde a mulher negra era vista como uma enviada pelo diabo, uma tentação ao homem branco.
"MULATA": Na língua espanhola, é o nome dado à cria entre uma égua e um jumento. O termo começou a ser usado para se referir às mulheres negras fruto de estupro durante o período colonial.
"PÉ NA SENZALA": Muito usado como justificativa para não ser racista, como o "até tenho amigos que são". Senzala é o local onde as pessoas escravizadas eram mantidas cativas. Ambas são racistas e usam a ideia de que o branco não pode ser racista por ter algum tipo de relação ou parentesco com pessoas negras.
"PRETO DE ALMA BRANCA": Usado para se referir a uma pessoa preta educada e bem sucedida, enfatizando a ideia de que pretos são intelectualmente inferiores aos brancos e somente aqueles com "alma branca" podem obter êxito.
"NEGA MALUCA": Seja em uma fantasia ou no bolo de aniversário, esse termo é usado para reforçar o estereótipo da preta raivosa, que corrobora com a naturalização do silenciamento da mulher negra, a mantendo em seu lugar de "pertencimento" enquanto servente. Ele também ridiculariza características da mulher preta, como seu cabelo e seus lábios.
"CABELO DURO, MIOJO E POM POM": O cabelo crespo e cacheado recebeu diversos nomes racistas e depreciativos, além de existir a ditadura da estética que incentiva que pessoas negras alisem seus fios e evitem cachos volumosos e cheios.
"SAMBA DO CRIOULO DOIDO": Originalmente era o nome de uma música, uma sátira como as escolas de samba eram censuradas durante a ditadura militar. O termo, porém, acabou sendo popularizado como forma de denominar algo bagunçado ou mal feito. A palavra coloca pessoas negras como violentas, descontroladas e inferiores aos brancos. Ah, sim: crioulo também era o nome dado para se referir aos filhos de escravizados.
"NÃO SOU SUAS NEGAS": A frase remete à ideia de que mulheres negras possuem um dono, ou seja, são propriedade de alguém. A expressão também fala que "as negas" podem sem mal tratadas, humilhadas e violentadas.
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