Pessoas negras têm que viver a margem da sociedade onde apenas o branco é colocado em evidência. Crédito: Pixabay
Devido aos mais de 300 anos do sistema escravagista no Brasil, alguns comportamentos e ações foram enraizados na sociedade atual por uma boa parte da população.
O racismo, por exemplo, vai muito além de agressões verbais explícitas. Ele também está presente em palavras consideradas corriqueiras e inofensivas, como "ovelha negra", "mulata" e "preto com alma branca". Essas expressões ofendem e ferem da mesma maneira. A "desconstrução" dessas expressões é um processo longo e trabalhoso, mas somente assim a sociedade poderá passar por um real processo de mudança.
Mesmo em tempos onde a informação está a um clique de distância, muitos desconhecem tais expressões. A especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana, Darlete Nascimento, reforça o poder que a palavra tem. "É importante entender que essas palavras e expressões vêm desde o período colonial. É preciso desconstruir esses costumes e começar a utilizar um vocabulário antirracista", disse Darlete.
A maioria das expressões coloca o ser preto como algo ruim, reforçando a ideia de que pessoas negras estão abaixo das brancas na pirâmide social. Tais palavras são sempre atreladas a algo negativo, como "a coisa tá preta", "fome negra" e muitas outras.
Além das expressões, também existem os estereótipos em volta das pessoas negras, como a mulher "preta raivosa" e o homem "negro desocupado". Abaixo, você confere palavras que precisam ser retiradas de seu vocabulário, até como forma de respeito para podermos viver em um tecido social igualitário.
CONFIRA LISTA DE EXPRESSÕES RACISTAS QUE DEVEM SER RETIRADAS DO SEU VOCABULÁRIO
"DENEGRIR": Termo refere-se a "tornar algo negro", algo ruim, uma mentira, ao boato feito sobre alguém, reforçando a falácia de que ser negro é algo ruim. Troque por: difamar, caluniar ou injuriar.
"DOMÉSTICA": A palavra começou a ser usada no período escravista para se referir as mulheres escravizadas que trabalhavam na Casa Grande. Hoje, muitos usam a palavra para se referir a faxineiras e diaristas. O termo ainda se refere a mulheres negras como animais a afirmar que estão "domesticadas".
"OVELHA NEGRA": Expressão usada para caracterizar uma pessoa diferente das outras, diferente do "rebanho", que sai do padrão imposto pela família e pela sociedade, mais uma vez reforçando a ideia de que ser preto é algo abominável. Troque por: diferente da maioria.
"MENTIRA BRANCA" OU "INVEJA BRANCA": Estes são termos usados para se referir a comportamentos ruins, como mentir ou sentir inveja de alguém, mas, ao serem somados ao "branco", tornam-se sentimentos positivos que não fazem "mal" a ninguém.
"DA COR DO PECADO": Expressão usada para se referir a mulheres negras, reforçando a ideia de que devido a seus corpos o homem é levado a pecar. Tal ideia surgiu no período escravagista, onde a mulher negra era vista como uma enviada pelo diabo, uma tentação ao homem branco.
"MULATA": Na língua espanhola, é o nome dado à cria entre uma égua e um jumento. O termo começou a ser usado para se referir às mulheres negras fruto de estupro durante o período colonial.
"PÉ NA SENZALA": Muito usado como justificativa para não ser racista, como o "até tenho amigos que são". Senzala é o local onde as pessoas escravizadas eram mantidas cativas. Ambas são racistas e usam a ideia de que o branco não pode ser racista por ter algum tipo de relação ou parentesco com pessoas negras.
"PRETO DE ALMA BRANCA": Usado para se referir a uma pessoa preta educada e bem sucedida, enfatizando a ideia de que pretos são intelectualmente inferiores aos brancos e somente aqueles com "alma branca" podem obter êxito.
"NEGA MALUCA": Seja em uma fantasia ou no bolo de aniversário, esse termo é usado para reforçar o estereótipo da preta raivosa, que corrobora com a naturalização do silenciamento da mulher negra, a mantendo em seu lugar de "pertencimento" enquanto servente. Ele também ridiculariza características da mulher preta, como seu cabelo e seus lábios.
"CABELO DURO, MIOJO E POM POM": O cabelo crespo e cacheado recebeu diversos nomes racistas e depreciativos, além de existir a ditadura da estética que incentiva que pessoas negras alisem seus fios e evitem cachos volumosos e cheios.
"SAMBA DO CRIOULO DOIDO": Originalmente era o nome de uma música, uma sátira como as escolas de samba eram censuradas durante a ditadura militar. O termo, porém, acabou sendo popularizado como forma de denominar algo bagunçado ou mal feito. A palavra coloca pessoas negras como violentas, descontroladas e inferiores aos brancos. Ah, sim: crioulo também era o nome dado para se referir aos filhos de escravizados.
"NÃO SOU SUAS NEGAS": A frase remete à ideia de que mulheres negras possuem um dono, ou seja, são propriedade de alguém. A expressão também fala que "as negas" podem sem mal tratadas, humilhadas e violentadas.
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