Publicado em 13 de dezembro de 2024 às 15:45
O Papai Noel, uma das figuras mais queridas e universais do Natal, já enfrentou momentos conturbados ao longo da história. Em alguns países, sua imagem festiva foi banida por razões políticas, religiosas ou culturais. A figura do bom velhinho, que simboliza generosidade e celebração, nem sempre foi tão bem-vinda em certas partes do mundo.
“O Papai Noel, embora hoje seja amplamente associado ao comércio e à tradição natalina ocidental, carrega simbolismos que, em certos contextos, desafiam valores ou ideologias predominantes. Isso levou algumas sociedades a vetarem sua presença, especialmente em períodos ou regimes de forte controle cultural e político”, explica o professor Pedro Rennó, historiador da Plataforma Professor Ferretto.
Um dos exemplos mais emblemáticos ocorreu na antiga União Soviética. Durante parte do período comunista, celebrações religiosas, incluindo o Natal , foram desencorajadas, já que os valores do cristianismo eram vistos como incompatíveis com a ideologia marxista. Em vez disso, figuras como Ded Moroz, o “Avô Gelo”, foram promovidas como substitutas seculares do Papai Noel.
Na Arábia Saudita, a proibição do Papai Noel está vinculada ao rigor religioso. Como o Natal não faz parte das tradições islâmicas, a celebração é desestimulada, e a figura do bom velhinho é vista como um símbolo de influência ocidental. Mais recentemente, em alguns países asiáticos, como a Coreia do Norte, a presença do Papai Noel é limitada. Nesses casos, a rejeição está atrelada a uma postura política que busca restringir símbolos externos e preservar valores locais.
“O Papai Noel , por mais inofensivo que pareça, às vezes é interpretado como um embaixador de valores culturais estrangeiros. Isso desperta tensões em contextos de resistência à globalização ou à influência ocidental”, ressalta Pedro Rennó.
Para Felipe Vasconcelos, jovem estudioso de geopolítica e criador do Observatório Atena, o Papai Noel também pode ser visto como um exemplo de como símbolos culturais refletem dinâmicas de poder no cenário internacional.
“A rejeição ao Papai Noel em certos países não é apenas uma questão de tradição ou religião, ela revela disputas culturais mais amplas, em que símbolos globais, como o Papai Noel, acabam sendo percebidos como agentes de uma hegemonia cultural ocidental”, comenta. Essas tensões, segundo Felipe Vasconcelos, nos mostram como a globalização não é homogênea e como as sociedades reagem para preservar suas próprias narrativas culturais.
Ele ainda destaca que a ressignificação do Papai Noel, como ocorreu com Ded Moroz na Rússia, demonstra que os símbolos globais podem ser adaptados a contextos locais. “Em vez de simplesmente rejeitar a figura, algumas culturas optam por moldá-la de acordo com suas tradições. Isso cria um diálogo interessante entre o global e o local, enriquecendo as celebrações”, pontua.
Além das questões ideológicas e religiosas, o Papai Noel também enfrenta desafios relacionados à preservação de tradições culturais locais. Em algumas regiões da Europa, por exemplo, figuras folclóricas como São Nicolau ou personagens como Krampus ainda dominam as celebrações natalinas, resistindo à padronização promovida pelo simbolismo do bom velhinho moderno. Isso mostra que, mesmo em locais onde ele não é proibido, sua aceitação pode ser limitada por questões culturais profundamente enraizadas.
“Essas proibições ou resistências ao Papai Noel nos convidam a refletir sobre como tradições e símbolos globais interagem com identidades locais. Apesar de parecer universal, a imagem é constantemente ressignificada pelas culturas que o recebem – ou rejeitam”, conclui Pedro Rennó. Essa diversidade de perspectivas reforça a riqueza e a complexidade das celebrações natalinas em um mundo cada vez mais globalizado.
Por Yasmin Paneto
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