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Publicado em 2 de novembro de 2023 às 07:00
"Cacildis!". Quem não lembra de um dos mais famosos bordões de Antonio Carlos Bernardes Gomes, o inesquecível Mussum, cuja premiada cinebiografia ("Mussum: O Filmis") estreia em 700 salas de cinema no país - incluindo algumas no Espírito Santo -, nesta quinta (2), contando com sensível direção de Silvio Guindane e (mais uma) grande atuação de Ailton Graça. Ele praticamente "incorpora" o humorista em cada fotograma.
Ex-ritmista do Originais do Samba, Mussum ganhou notoriedade como um dos membros de Os Trapalhões. Ao lado de Dedé (Dedé Santana), Didi (Renato Aragão) e Zacarias (Mauro Gonçalves), revolucionou a programação da Rede Globo nos anos 1970 e 1980 - em tempos de ditadura militar e de uma sociedade conservadora - ao usar o humor pastelão para discutir (ou seria escancarar?) na TV aberta o racismo de boa parte da população.
A "tradicional" família brasileira assistia a tudo isso, muitas vezes atônita, sentada no sofá da sala em pleno domingão, entre risos nervosos e gargalhadas frenéticas. É essa vibe que a produção consegue captar de forma humanizada, mas sem fazer de Antonio Carlos um herói ou mesmo uma vítima de um sistema opressor.
Em entrevista concedida a HZ para divulgar o filme, Ailton Graça (em seu primeiro papel de protagonista no cinema) relembrou o lado visionário do artista carioca, conhecido por seu amor pelo samba - era mangueirense roxo -, paixão pelas mulheres e por goles generosos de bebidas, o bom e velho "mé".
"Mussum teve importância gigante na produção de pautas pretas em uma época que o assunto não tinha visibilidade. Ganhou um espaço gigante dentro da dramaturgia, como também no grupo Originais do Samba", afirmou Graça, também relembrando o trabalho de artistas negros na luta contra o racismo, como Léa Garcia e Ruth de Souza.
"Os Trapalhões batiam mais de 70 pontos (de audiência) na televisão fazendo humor. Mussum foi um multi-artista negro, que era cantor e, ao mesmo tempo, grande comediante. Para nós é um peso de representatividade importante", contextualiza. Veja a entrevista completa no vídeo acima.
Inspirado na obra "Mussum - Uma História de Humor e Samba", de Juliano Barreto, a trama - que venceu seis Kikitos no último Festival de Gramado, incluindo o de Melhor Filme - é dividida em três arcos narrativos.
O primeiro deles mostra a infância humilde de Antonio Carlos, carinhosamente chamado de Carlinhos (Thawan Lucas Bandeira) pela mãe, Dona Malvina (Cacau Protásio, ótima no papel).
Ainda criança, mostrava aptidão para a música, mesmo com a reprovação da mãe e o sonho em ser jogador de futebol. A direção segura de Silvio Guindane nos proporciona cenas memoráveis, sem cair no pieguismo, como quando a criança realiza o desejo da mãe de aprender a escrever o nome.
A segunda parte mostra Carlinhos adulto (Yuri Marçal) seguindo carreira na Aeronáutica ao mesmo tempo em que começava a tocar na noite com Os Originais do Samba. É nessa época que conhece sua primeira esposa, Nely (Jeniffer Dias). Anos mais tarde, o artista se casaria com a mulher que seria sua companheira de vida, Neila (Cinara Leal).
Na terceira fase, a mais impactante delas, Carlos (Ailton Graça) ganha destaque com suas participações na TV. Muitos fãs descobrem que o artista ganhou o apelido de Mussum graças a uma ideia bem-bolada de Grande Otelo (Nando Cunha). O filme resgata tais passagens com requintada reconstituição de época, em grande trabalho de Design de Produção, assinada por Rafael Targat, e Fotografia, mais uma composição sólida de Nonato Estrela.
Também presente no bate-papo com HZ, Cinara Leal, que, no filme, interpreta Neila, ressaltou não apenas sua participação em "Mussum", como também na série "A Divisão", em cartaz no Globoplay, em que vive a médica Fernanda, e na novela das 19h da Rede Globo, "Fuzuê", como Cecília Freitas.
"A gente sempre sonha em ser protagonista, mas estar no cinema, no streaming e na novela, reforça a força feminina, seja com a Dra Fernanda ou como a Neila", destaca, também ressaltando o exemplo de Mussum para os atores negros que seguiram.
"Na trama, a Neila deixa de ser extremidade e se torna centro. Ela tem uma força muito grande. Não a conheço e ela mesma diz que a gente se parece muito. Em relação a Mussum, ele se faz presente em nossas vidas. Quem conheceu sua arte vai se identificar e se encantar. Mostrou a superação por ser um artista negro vitorioso", complementa.
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