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Publicado em 19 de março de 2022 às 15:06
Ouvindo a descrição parece um drama: mulher de meia-idade começa a repensar a vida depois de perder um familiar próximo, enquanto relembra a adolescência conturbada durante a qual desenvolveu uma tricotilomania (mania de arrancar os próprios cabelos).
Por outro lado, qualquer produção que leva o nome e a assinatura de Amy Schumer, 40, quase que imediatamente seria classificado como uma comédia. Escalada para apresentar o Oscar deste ano, ao lado de Regina Hall e Wanda Sykes, a humorista começou no stand up, ganhou fama com diversas participações na TV, até ganhar seus próprios especiais de humor.
É com uma mistura desses elementos que a série "Life & Beth" estreou nesta sexta-feira (18) no serviço de streaming Star+. A série apresenta uma mistura bastante homogênea de comédia e drama, fazendo o espectador ir da risada às lágrimas em pouco tempo.
Na trama, Beth tem um emprego estável como distribuidora de vinhos e uma relação duradoura, mas sem grandes emoções, até que passa a se questionar se é isso que realmente quer. Schumer, que criou, roteirizou, dirigiu e também protagoniza a trama, diz que a personagem tem muito dela própria.
"Acho que a Beth definitivamente é baseada em uma parte de mim", contou durante bate-papo com jornalistas em evento da Associação Americana de Críticos de TV (TCA, na sigla em inglês) que o F5 acompanhou.
"Uma das coisas que costuma surpreender as pessoas a meu respeito é que sou introvertida", revelou. "Muitos de nós temos conflitos internos. Eu posso ser extremamente confiante em alguns momentos, mas também me considero alguém que tem baixa autoestima. Acredito que todos estamos evoluindo e tentando ser nossas melhores versões, então quis trazer essa dinâmica para a série."
A humorista diz que não teve medo de mostrar esse lado menos conhecido ao público. "Eu queria mostrar esse lado mais vulnerável e obscuro", afirmou. "Eu sempre gosto de dividir essas coisas porque isso também ajuda a aliviar a dor. É meio terapêutico."
Contudo, o equilíbrio entre drama e humor tornou-se um grande desafio. "Acredito que qualquer produção que evoca emoções e faz você pensar é digna do tempo das pessoas que vão assistir", avalia. "Quisemos fazer algo especial e com o pé na realidade, mas também divertido porque a vida é assim. Tem trauma e dor, mas rir e crescer com isso é tudo o que podemos fazer."
Um dos produtores executivos da série, Daniel Powell, contou que eles foram guiados pela autenticidade da criadora e que chegaram a abrir mão de algumas cenas mais engraçadas porque se afastavam um pouco do propósito da série.
"Teve coisas engraçadíssimas que seriam incríveis de mostrar, mas seria no sentido de uma comédia mais direta", avaliou. "Algumas coisas entraram no primeiro corte, mas os executivos da Hulu [serviço de streaming que encomendou e exibe a série nos EUA] disseram que estava começando a parecer meio bobo e muito cheio de piadas, então tiramos."
Na interpretação, Schumer disse que essa também foi a tônica entre o elenco. "Isso era algo muito importante para todos nós, interpretar tudo de forma naturalista e vivendo aquilo com verdade", lembrou a comediante. "Na minha experiência, isso é o que sempre funciona melhor na comédia."
A artista contou que nunca pensou em virar humorista, que sua carreira foi indo para esse lado naturalmente, uma vez que sempre foi considerada engraçada. "Tenho essa memória doentia de quando tinha 5 anos e interpretei a Gretl em 'A Noviça Rebelde' em uma escola católica", revelou.
"Toda vez que eu entrava no palco, o público ria", contou. "Isso me magoou e me deixou envergonhada. Lembro do diretor me explicando que fazer as pessoas rirem era algo positivo, que significava que eles me amaram e que eu os estava fazendo felizes."
Recentemente, ela diz que passou a lição adiante quando o filho Gene, de 2 anos, falou algo engraçado e todos em casa riram. O menino não gostou e a mãe repetiu o que ouviu de seu antigo diretor.
Apesar da naturalidade com que faz as pessoas rirem, Schumer diz que não foi fácil se inserir no meio da comédia por ser mulher. "A cultura na qual cresci dizia que os meninos deveriam ser engraçados e os homens é que falavam", lamentou. "As mulheres só deviam tentar ser bonitas e eram chamadas só quando eles precisavam. Todos os nossos valores dependiam da nossa imagem, o que me fazia me sentir impotente."
Ela diz que isso mudou quando passou a ver outras mulheres chegando onde ela queria chegar. "O que me empoderou foi ver outras mulheres sendo engraçadas e ocupando esses espaços", afirmou. "Foi ver mulheres fortes sendo retratadas e histórias em que falavam de forma honesta sobre a dificuldade de chegar lá."
A criadora, no entanto, não pensou em se vingar dos homens colocando-os de forma negativa na série. "Os homens da série são mais sensíveis", avaliou. "A masculinidade tóxica já está em todo lugar, então achei que era uma boa oportunidade de mostrar personagens masculinos mais gentis."
Um desses personagens é John, vivido por Michael Cera (de "Arrested Development", "Juno" e muitos outros), com quem Beth eventualmente acaba se envolvendo. O ator disse que trabalhar com Schumer como chefe e contracenar com ela ao mesmo tempo foi tranquilo.
"Amy não é intimidadora", garantiu. "O talento dela é inspirador e revigorante. Ele faz você querer estar no nível dela, o que é ótimo. Do momento em que fui chamado para a série e a conheci, me senti incluído e muito animado."
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