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Publicado em 28 de abril de 2022 às 09:02
Há décadas que o Batman extrapola sua fama nos quadrinhos para conquistar o público em outros cantos, de novelizações aos jogos de videogame, da série clássica dos anos 1960 aos numerosos filmes de nomes como Tim Burton e Christopher Nolan. A partir de 3 de maio, ele vai aparecer em nova forma.
Não porque um ator vai assumir o personagem, como Robert Pattinson fez no mês passado, mas porque o Homem-Morcego de "Batman Despertar" não tem rosto. Tudo o que saberemos dele e de sua Gotham City está nas vozes e nos sons que eles emitem. A produção é uma "áudio série", como a definiu o Spotify, que tem investido em ficções para seus ouvintes.
A trama surfa na onda dos podcasts e audiolivros, mas se distancia deles por ter elenco e efeitos sonoros complexos, quase promovendo uma retomada das radionovelas, que já tiveram sua era de ouro. "Batman Despertar", apesar de não ser o primeiro dessa leva de projetos, inaugura uma parceria entre o Spotify e a Warner Bros., que deve levar outros heróis da DC Comics para o ouvido dos assinantes.
A áudio série terá uma primeira temporada com dez episódios e lançamento simultâneo de nove versões. Originalmente americana, "Batman Despertar" foi traduzida e adaptada no Brasil, na França, na Alemanha, na Índia, na Indonésia, na Itália, no Japão e no México. Todas foram gravadas a partir de um mesmo roteiro, mas, aqui e ali, houve espaço para trazer o personagem para próximo do idioma e da realidade de cada país.
"A gente precisou tomar cuidado para não cair em vícios da dublagem, do cinema de animação, e tentar achar uma naturalidade que trouxesse essas vozes e a história para o universo brasileiro", diz Daniel Rezende, diretor de "Bingo: O Rei das Manhãs" e dos novos filmes da Turma da Mônica, que foi escolhido para dirigir a áudio série no Brasil.
"Cada país teve liberdade para fazer adaptações pensando na sua cultura, até para que os diálogos não parecessem pura leitura de um roteiro traduzido. A maneira como a gente fala, as especificidades da nossa língua, precisaram ser consideradas. E isso com o desafio de não se apegar a uma imagem."
Antes de ser diretor, Rezende foi montador foi indicado ao Oscar por "Cidade de Deus" e trabalhou em "Tropa de Elite" e também DJ. Experiências que, acredita, contribuíram para que ele pudesse comandar uma ficção sem imagens, seja pelo tempo que passou em frente à mesa de som ou pelo apuro técnico que sempre teve com a finalização dos filmes em que trabalhou.
Ao lado da Turma da Mônica, o Homem-Morcego é seu personagem preferido dos quadrinhos e, mais uma vez, adaptar personagens tão queridos se provou um desafio ainda mais em meio ao lançamento do novo "Batman" nos cinemas. Esta versão do herói, no entanto, é radicalmente diferente daquilo que já vimos.
Esqueça a trágica cena dos pais de Bruce Wayne sendo assassinados num beco escuro, na frente do garoto. Em "Batman Despertar", os pais do personagem estão vivos e ele trabalha como patologista forense. Até que a cidade de Gotham começa a ser aterrorizada pelo Ceifador, um serial killer sádico e que deixa a trama com ar adulto e sangrento.
Para Rezende, esta é uma trama "pé no chão e muito psicológica", lançada em tempos igualmente "malucos e obscuros". Para o elenco, ele quis trabalhar não com dubladores, mas com atores de filmes, séries e novelas. Foram escalados Tainá Müller, Augusto Madeira, Adriana Lessa, Hugo Bonemer, Camila Pitanga e seu irmão, Rocco Pitanga, que celebra o fato de interpretar um Batman negro.
"Há 40 anos eu escuto do meu pai um discurso sobre a importância da inserção de personagens negros que quebrem toda uma estrutura, um padrão, um lugar-comum que foi criado", diz ele sobre Antonio Pitanga.
"Na áudio série a gente não tem a imagem do homem negro, só a voz, mas como estamos falando num personagem a nível do Batman, eu acho que vai existir uma curiosidade de as pessoas quererem saber quem o está interpretando." Nos Estados Unidos, Winston Duke, de "Nós", encabeça o projeto.
Para Rocco, trabalhar na áudio série foi um desafio, já que não pôde contar com elementos além da voz na hora de atuar. Para alternar entre Bruce Wayne e o Homem-Morcego, por exemplo, uma mudança de figurino não bastava. Ele precisou regular a voz junto com Rezende até que a maneira de falar adquirisse nuances suficientes.
Tanto ele quanto o cineasta acreditam que o novo formato veio para ficar, especialmente porque ele permite que as pessoas se concentrem exclusivamente em boas histórias, sem que o roteiro dividisse a atenção com outros aspectos de filmes e séries, como figurinos. "O visual congela uma ideia. O sonoro te liberta, põe sua criatividade num trampolim", resume Rocco.
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