'Black Bird' usa trajetória de serial killer para falar de masculinidade tóxica

Minissérie da Apple TV+ escrita por Dennis Lehane é baseada na história real de um prisioneiro que tenta arrancar confissão de assassino

  • Mariane Morisawa, especial para o Estadão
Publicado em 06/08/2022 às 15h54
Trecho de

Trecho de "Black Bird", da Apple TV+. Crédito: Divulgação

Crimes quase sempre estão no centro das obras do escritor Dennis Lehane. Mas, quando foi convidado a escrever e desenvolver a minissérie Black Bird, cujo último episódio acaba de entrar no ar na Apple TV+, ele hesitou. "Eu não gosto de séries sobre serial killers", contou Lehane em entrevista ao Estadão, por videoconferência.

Black Bird é baseada no livro de James Keene, escrito em parceria com Hillel Levin, em que ele detalha sua experiência com o assassino Larry Hall. Keene estava preso por tráfico de drogas quando recebeu a proposta de ganhar sua liberdade em troca de arrancar outras confissões de Hall, suspeito de ser um serial killer que matou ao menos 14 mulheres.

O escritor topou com a condição de que não fosse sensacionalista, nem explorasse o luto das famílias. O quinto episódio, o penúltimo, é focado em uma das vítimas.

"Porque a vida que ela viveu era mais bonita, valorizada, radiante do que a de Larry. Essa é a razão pela qual ele é um serial killer", afirmou Lehane. Em vez de se concentrar nos atos de Larry, a minissérie discute a violência psicológica, o trauma, a má paternidade-maternidade.

Lehane decidiu transformar o material original em um estudo sobre a masculinidade. "Larry é o extremo mais sombrio da masculinidade tóxica.

Ele acredita que precisa matar as mulheres para não sentir o que sente em relação a elas", disse Lehane sobre o serial killer interpretado por Paul Walter Hauser. "Mas Jimmy está muito confortável em fazer sexo vazio com mulheres. Sua jornada inclui percepções incômodas", contou o escritor.

Taron Egerton, que interpreta Jimmy, concordou. "Nós vimos um monte de histórias sobre homens masculinos - especialmente sobre homens masculinos brancos. Mas esta história examina o aspecto problemático e feio da masculinidade que não gostamos de admitir", observou o ator em entrevista com a participação do Estadão.

"Não há como negar a feiura de Larry. Mas Jimmy também tem a sua. E é por meio de sua relação com Larry que ele começa a entender que tem alguns problemas. Jimmy aprende humildade ao dançar com o diabo."

O ator teve a chance de contracenar com Ray Liotta, em seu último papel para a TV. Liotta, morto em maio, faz o pai amoroso de Jimmy, um ex-policial que tem seu lado sombrio.

"Trabalhei com atores de quem fiquei amigo. Aqui foi diferente, porque Ray decidiu apresentar-se para mim como se fosse meu pai", lembrou Egerton. "Não conversamos muito como Taron e Ray nos primeiros dias. Devagar, ele foi se abrindo. Foi uma relação muito afetuosa e delicada."

Este vídeo pode te interessar

A Gazeta integra o

Saiba mais
Apple Cinema Streaming
Viu algum erro?

Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido o possível