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Publicado em 1 de maio de 2022 às 10:00
A tradição do quilombo de contar histórias e transmitir conhecimento de geração em geração ganhou um ingrediente audiovisual novo. O Instituto Marlin Azul propôs a quatro comunidades quilombolas reunir moradores de diferentes idades para definir o que querem filmar, como filmar e montar juntos um curta em apenas três dias.
A primeira oficina experimental de cinema de grupo começou na sexta-feira (29/04) e segue até este domingo (1º) na comunidade quilombola de Pedra Branca, em Vargem Alta. O mesmo povoado teve seu modo de vida e práticas culturais retratados no longa "A Viagem do Seu Arlindo" (2018), de Sheila Altoé, que está de volta ao local ministrando algumas oficinas.
O experimento começa com uma roda de conversa para discutir quais conteúdos os participantes desejam transformar em filme, tendo como inspirações os saberes tradicionais, as histórias, as memórias, as paisagens e as personalidades locais.
O passo seguinte consiste em executar os dispositivos propostos pela equipe para a captação de sons e imagens. Ao final, a turma se junta para montar a obra. A oficina se repetirá em outros quilombos capixabas. De terça (3) a quinta (5), será a vez das comunidades quilombolas de Cacimbinhas e de Boa Esperança, localizadas no município de Presidente Kennedy, participarem do projeto.
Pela primeira vez numa oficina audiovisual, a merendeira Maria Auxiliadora Ravera, 62 anos, encarou o desafio de transformar uma história em filme em conjunto com outros moradores. “Estamos estudando o que queremos contar para as pessoas. O projeto é importante porque ajuda a comunidade a ser reconhecida em outras comunidades. Nós precisamos ser irmãos uns dos outros e apoiar a luta um do outro”, explica a quilombola.
Para a participante, que é mestra do Caxambu “Fé, Raça e um só coração”, o experimento ajuda a resgatar os vínculos e os laços comunitários. “Minha expectativa é de que a oficina amplie o reconhecimento da comunidade e estimule os moradores a terem mais interesse em participar das atividades sociais e culturais”, destaca Maria Auxiliadora.
O projeto tem realização do Instituto Marlin Azul com recursos do Funcultura através da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) do Governo do Espírito Santo. A iniciativa conta com o apoio da Coordenação Nacional de Articulações das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e da Coordenação Estadual de Comunidades Quilombolas do Espírito Santo.
Ainda neste semestre, um telão montado dentro de cada comunidade exibirá as obras inéditas junto com ficções e documentários quilombolas vindos de vários outros estados. As noites de cinema ao ar livre contarão também com manifestações culturais características de cada localidade.
“Queremos levar o cinema realizado em quilombos brasileiros para dentro de quilombos capixabas, contribuir com a preservação das tradições e valorizar as identidades, a pluralidade e a diversidade cultural quilombola. Os participantes se apoderam da linguagem do cinema para contar suas histórias e têm a oportunidade de conhecer as obras de outras comunidades, fortalecendo as lutas, as culturas, as práticas e saberes dos quilombos”, destaca Beatriz Lindenberg, fundadora do Instituto Marlin Azul.
*Com informações de Simony Leite
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